Ela nem sequer completou 19 aninhos e já se tornou a maior sensação da Índia no tênis mundial. Primeira indiana a participar do Torneio Aberto dos EUA, Sania Mirza chegou neste ano a atingir a 34ª posição no ranking do WTA. Sua atuação também provocou furor na minoritária comunidade muçulmana da Índia, da qual ela se origina. Só que os líderes islâmicos de Calcutá não estavam extasiados com suas tacadas certeiras nas quadras, mas inconformados com as minissaias, shorts e camisetas de manga curta que Sania usa nos torneios, considerados trajes “antiislâmicos”. Um desses zelosos perdigueiros da moral do Islã, o grupo Jamaat-e-Ulema-e-Hind, pediu aos membros de seu rebanho – perdão, da militância – que impedissem a moça de jogar caso ela não passasse a usar “roupas apropriadas”. Segundo o ulemá Haseeb-ul-hassan Siddiqui, os trajes da tenista nas quadras “não só não cobrem grande parte do corpo como não deixam nada para a imaginação”. Para esse piedoso homem de Alá, tais modos podem “corromper” muitas jovens muçulmanas incautas. Outros religiosos, mais devotos ainda, ameaçaram-na de morte. Depois da fatwa (decreto religioso) que condenou a vestimenta, muitas empresas indianas evitam patrocinar Sania, que tem se recusado ao papel de Lolita das quadras. “Não tenho nada a declarar. Me considero uma boa muçulmana e não acredito que insulte minha religião por jogar tênis com minissaia”, disse ela depois de receber várias ameaças anônimas.

Não é a primeira vez que uma
esportista muçulmana tem problemas com os guardiães da virtude: em 1992, nem a medalha de ouro nos 1.500 metros rasos na Olimpíada de Barcelona livrou a atleta argelina Hasiba Bulmerka da ira dos clérigos, que a condenaram por ela usar shorts nas competições. Hasiba foi obrigada a deixar seu país. Para esses herdeiros do Profeta, o ideal seria que as desportistas muçulmanas se trajassem como suas colegas do Irã, que patrocina desde 1993 os Jogos Islâmicos Femininos. Neles, as competidoras vestem o hijab (véu), camisetas de mangas longas e calças até os tornozelos. A natação, por exemplo, é disputada em locais cobertos diante de público e juízes exclusivamente femininos.

O fato de a comunidade muçulmana ser minoritária na Índia (120 milhões num universo de um bilhão) e de às vezes até ser vítima de intolerância por parte de radicais hindus não arrefece a sanha persecutória dos clérigos islâmicos. Mas serve de consolo para Sania o fato de que jamais sofrerá o drama da nigeriana Safiya, condenada por um tribunal islâmico a morrer apedrejada por ter tido um filho fora do casamento. Safiya só foi salva por uma campanha internacional. A tenista também deve agradecer a Alá o fato de estar longe das garras dos mulás, que, em vários países da África, prescrevem a extração do clitóris para evitar o prazer sexual.