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Como lateral-esquerdo do Tigre do Ramal, o futuro não se desenhava nada promissor para o garoto Marcelo Tristão Athayde de Souza. E não se sabia ao certo se a bola maltratava o menino ou se o menino maltratava a bola, ali, naquele time de futebol dente de leite da pequenina cidade paulista de Ituverava. Hoje, quando o menino já virou homem de 51 anos, o tempo lhe ensinou o que acontecia no gramado, entre ele e a bola, entre a bola e ele: “incompatibilidade de gênios”. Que bom. O perna de pau de nascença ia ser craque em outros campos da vida. Mas continuemos, por enquanto, na infância de Marcelo Tristão Athayde de Souza. Tinha ele 11 anos quando recebeu uma “convocação do avô”, João Athayde, homem mandão e sem cultura, porém extremamente inteligente que começou a vida como carroceiro e acabou dono de fazenda de café. “Venha almoçar comigo aqui em casa”, determinou o avô ao neto. “E chegue uma hora antes.” O garoto, é claro, foi. O garoto, é claro, chegou com uma hora de antecedência. João o fez sentar à mesa, apanhou dois copos e uma garrafa de uísque na cristaleira, abriu uma lata de sardinhas e as depositou num prato. Dá-lhe azeite. Dá-lhe pimenta. Pôs dois dedos de uísque no copo do neto e encheu o seu próprio copo. “Já bebeu alguma vez?”, perguntou-lhe. “Nunca”, respondeu Marcelo. Primeiro um brinde. E, na sequência, o avô indagou: “O que você acha da política de Ulysses Guimarães?” Nesse momento, a avó, Julieta Maia, “branca feito iogurte”, passava pela cozinha e estrilou: “Dando de beber para o menino, onde já se viu!?” O avô, “baiano escurão de olhos azuis”, fez voz solene: “Não perturbe, estamos discutindo política.” Nascia assim em Marcelo Tristão o gosto pelos temas e mazelas da política nacional.

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FASES
Na infância, Marcelo Tristão Athayde de Souza foi bem nos estudos e mal no futebol,
nos EUA aprendeu sobre Buster Keaton e na Aeronáutica gostou da Esquadrilha da Fumaça

A essa altura da história de Marcelo Tristão Athayde de Souza, dá-se um salto no tempo. Faz-se hora então de apresentá-lo como gente grande. Marcelo Tristão Athayde de Souza é o fenomenal ator, jornalista, humorista e apresentador Marcelo Tas, um dos três integrantes da bancada do programa da Rede Bandeirantes “CQC”, que publica semanalmente a sessão “Twitter do Tas” em ISTOÉ. “Ter duas páginas na revista, como tenho, reforça positivamente o meu lado de jornalista, me obriga a estar atento aos fatos, me ajuda no ‘CQC’”, diz ele. Em 2010, ao receber o título de Brasileiro do Ano na televisão, mais do que comemorar três anos de sucesso, Tas conseguiu transformar o “CQC” em ponto de parada obrigatória para aqueles que queriam esclarecimentos e informações de qualidade sobre os candidatos à Presidência do Brasil. O “CQC” foi capaz de orientar – sem dirigir – o eleitor, sem perder o bom humor e informação isenta. Cabe uma explicação sobre o seu nome artístico: Tas é a junção do t de Tristão, do a de Athayde e do s de Souza. Pois bem, já sabemos como veio o gosto pelas questões da política, agora vamos à descoberta de seu gosto pelo humor.

Para deixar a “querida Ituverava, que vivia distante do mundo a 400 quilômetros de São Paulo e 900 do Rio de Janeiro”, Tas decidiu entrar na Aeronáutica e lá fez o colegial (até hoje é apaixonado pela Esquadrilha da Fumaça). Saiu das Forças Armadas para cursar a Faculdade Politécnica da Universidade de São Paulo – sim, Marcelo Tas é engenheiro civil. Foi nesses tempos de Poli que ele sentiu então revelar-se o seu gosto pelo humor, editando na faculdade, nos tempos duros do regime militar, um jornal estudantil intitulado “Cê Viu?”. Política e humor estavam casados, aflorava a marca do profissional Marcelo Tas. Está justamente aí, nesse casamento, a chave do sucesso inabalável do programa “CQC” ao longo de três anos, desafiando a ortodoxia dos modos de fazer televisão no Brasil – é um dos maiores ibopes da Rede Bandeirantes, com média de seis pontos: “O ‘CQC’ é sério na apuração da notícia, como deve ser o jornalismo, mas transmite com humor e irreverência o que apurou. Essa fusão da política com o humor é a receita do sucesso”, diz ele. Na verdade, até o conservador traje dos três apresentadores passa por essa fusão, e é tão austero que se torna engraçado: terno preto, camisa branca, gravata preta, sapato preto, meia preta, cinto preto. No caso do premiado por ISTOÉ: terno preto número 50 para os seus 83 quilos de peso e 1,75 m de altura, confeccionado pela Vila Romana; sapatos 41. Os seus óculos pesados também têm armação preta, grife italiana Ermenegildo Zegna. “Já que preciso usá-los, procuro o que de prazer eles podem me dar”, diz Tas, que segue essa mesma pragmática metodologia em relação à calvície avassaladora que lhe adveio na terceira década de vida. Não busca pelo em ovo: “Se sou careca, tenho de conviver bem com isso e descobrir em que a careca pode me ajudar.”

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Marcelo Tas, que não quis o futebol nem a engenharia até porque o futebol e a engenharia também não o quiseram, chegou ao estrelato e trabalha muito e duro, dormindo em média cinco horas por noite – “um dos projetos para 2011 é dormir pelo menos seis”. Ele não descuida do menor detalhe em tudo que faz, seja na profissão, seja na vida particular. É casado com a atriz Bel Kovarick, tem três filhos, e uma visão do amor própria das cabeças (com ou sem cabelo) muito bem resolvidas: “vem da prática da meditação”. Vejamos: Tas, sobre o amor: “Se é amor para valer, tem dor junto com a felicidade. Tudo o que nos é importante traz alguma dor.” Tas, sobre o trabalho: “Não descuidar nunca da ética e do profissionalismo.” Tas, sobre a riqueza: “O meu segredo é gastar sempre menos do que eu ganho.” Hoje com uma infinidade de seguidores no Twitter (700 chamados em 12 minutos no final da tarde da segunda-feira 22), o fato é que Tas trabalhou muito até chegar a ser o ídolo que é – para se ter uma ideia, recebeu pelo Twitter mensagens de fuzileiros navais que invadiram e pernoitaram no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Sua carreira começou na TV Gazeta, onde criou o irreverente repórter Ernesto Varela, que fazia a políticos e autoridades perguntas desconcertantes. Ficou famoso, foi estudar nos EUA e mergulhou na vida e na obra do ator e comediante Buster Keaton. “Tornou-se meu modelo”, diz Tas. Na TV Cultura fez o infantil “Castelo Rá Tim Bum”; na Rede Globo apresentou o “Vídeo Show”; no Canal 21 compôs o trio de entrevistadores do “Saca Rolha”. “Em tudo isso já havia o gene do CQC”, diz ele, que apresenta esse programa ao lado de Marco Luque e Rafinha Bastos.

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“A vida em família é maravilhosa e hoje eu sei que o ‘CQC’ é
o programa da família brasileira. Todos juntos na frente da tevê”
Marcelo Tas, um dos apresentadores do “CQC”

Veio então o “CQC” com o “DNA completo”, na Band. No início assistido sobretudo pelos jovens, atualmente se tornou programação obrigatória da família nas noites das segundas-feiras. “O ‘CQC’ conseguiu reunir novamente a família diante da televisão. Olha que maravilha”, maravilha-se Tas. Sobre o que ele mais gosta de fazer, além de saborear um bom quiabo, é programa para criança: “O público infantil é crítico e exigente. Criança não perde tempo, não é como adulto que desperdiça um tempão vendo jogo de futebol.” E qual o programa mais difícil? Qual dá mais trabalho? “O ‘CQC’ é difícil devido à falta de humor dos políticos brasileiros. Eles se levam a sério e não percebem que esse se levar a sério já é motivo de gozação.” No ranking dos campeões do mau humor, o ex-deputado José Genoino, segundo Tas, é líder absoluto e imbatível: “Ele é enfezado.” Qual o mais bem-humorado? “Lula disparado.” No ano que vem o “CQC” terá mais quadros, mais profissionais de jornalismo e, importante, mais graça. Isso é certo. Quanto à melhora do humor dos políticos, tal fenômeno já não se pode garantir. Talvez lhes falte uma simples sardinha tirada da lata, com azeite, pimenta e dois dedos de uísque. E com certeza lhes falta a lembrança do bem-humorado Ulysses Guimarães.

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EXCELÊNCIA
Tas como o Professor Tibúrcio do “Castelo Rá Tim Bum”.
Programa infantil é o que ele mais gosta de fazer

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GLÓRIA
Marcelo Tas e a turma do “CQC” dão aula
de como casar política com humor

Luiz Inácio Lula da Silva – Brasileiro da década
Dilma Rousseff – Brasileira do ano
Aécio Neves – Brasileiro do ano na política
Tony Ramos – Brasileiro do ano na cultura
Thiago Pereira – Brasileiro do ano no esporte