Acompanhe vídeo em que a repórter Larissa Velosso expõe os riscos a que as crianças estão expostas e ensina como protegê-las :

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VÍDEO
O nascimento de Taís foi
transmitido ao vivo para os parentes
  

Taís veio ao mundo em uma sexta-feira de abril deste ano, em São Paulo. Do outro lado do Atlântico, em Londres, seu tio acompanhou seus primeiros momentos de vida em tempo real. A transmissão do parto via internet foi realizada pela maternidade São Luiz. “Foi muito emocionante. Geralmente, a família vai para o hospital e fica esperando a criança nascer. No meu caso, eles puderam saber que estávamos bem e fiquei mais tranquila”, relembra Fabiana Meler, 34 anos, mãe do bebê que hoje tem sete meses. No dia do parto, os pais receberam uma senha para distribuir entre amigos íntimos e parentes que poderiam ter acesso à transmissão.

Taís faz parte de uma geração que já nasce conectada. Diferentemente de quem conheceu a internet após aprender a escrever, é provável que ela e boa parte das crianças nascidas nos anos 2000 aprendam a digitar antes mesmo de rabiscar as primeiras letras no papel. Esses novos internautas foram chamados de “nativos digitais” pelo autor do livro “Born Digital” (algo como “nascido digital”, inédito no Brasil), John Palfrey, referência no assunto. Isso porque são os primeiros a nascer em um mundo totalmente imerso na internet. O primeiro passo para a presença digital é frequentemente dado pelos pais. Taís, por exemplo, tinha uma conta de e-mail antes do seu nascimento. Já Melissa Rizzi, de apenas um mês de idade, já tem um blog e página no Flickr – site de compartilhamento de imagens –, além de vídeos no YouTube. “É muito gratificante poder dividir esses primeiros momentos dela com meus parentes, que moram em outros Estados”, conta a mãe, a produtora Patrícia Rizzi, 32 anos.

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BLOG
Renato Kaufmann compartilha na web experiência de ser pai

A diferença entre as gerações de mãe e filha é gritante. “Quando nasci, uma tia comprou uma máquina fotográfica só para me fotografar, com filme e tudo mais, não era uma coisa barata. Já minha filha tinha mais de mil fotos com apenas uma semana de vida”, compara Patrícia. Outra característica dessa geração conectada é a visibilidade, uma vez que tudo pode ser tornado público, seja a primeira papinha, seja aquela bebedeira na adolescência. Diante disso, a pergunta natural é: quais são as consequências dessa exposição?

Alguns especialistas se mostram receosos. “A melhor coisa é evitar ao máximo colocar fotos e vídeos dos bebês na internet e enviar notícias para os amigos através de uma rede fechada ou por e-mail”, recomenda a advogada especialista em direito digital Juliana Abrusio, citando crimes como apropriação da imagem das crianças, sequestro e pedofilia. Além do temor à segurança, a divulgação de fotos e vídeos toca também na questão da identidade que um dia as crianças vão querer ter na rede. Afinal, quando crescerem, elas poderão não gostar daquele vídeo no qual aparecem lambuzadas até as orelhas de papinha. Nessa hora, o que vale é o bom-senso. “Os pais devem saber dosar o que vão mostrar”, recomenda o diretor de assuntos públicos da Google Brasil, Felix Carlos Ximenes, que responde por sites como Orkut e YouTube. Para ele, são fundamentais o conhecimento sobre as ferramentas da internet e a percepção do impacto que as informações podem causar na vida futura do filho.

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Quando soube que seria pai pela primeira vez, o publicitário Renato Kaufmann, 35 anos, decidiu compartilhar sua experiência por meio do blog Diário Grávido. Depois de Lúcia nascer, os relatos continuaram, acompanhados de vídeos e fotos sobre as descobertas e o cotidiano da garotinha, que hoje tem 2 anos. “Sei que em algum momento da adolescência ela vai achar um mico, mas creio que depois vai achar muito legal”, pondera o publicitário, que também lançou o livro “Diário de um Grávido” (Editora Mescla), que narra a experiência da gravidez do ponto de vista masculino.

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REDE SOCIAL
Stephanie usa o Orkut sob supervisão constante da mãe

E quando são as próprias crianças que querem postar conteúdo na internet? Pesquisa feita pela empresa de proteção digital Norton revela que termos como “porn” e “sex” estão entre as cinco palavras mais pesquisadas na rede por internautas com menos de 12 anos. Se somos bombardeados o tempo inteiro por mensagens de conteúdo duvidoso, achar o caminho para o proibido também não é difícil para quem já nasceu online. Enquanto muitos pais arrancam os cabelos de preocupação quando o filho navega pela internet, o professor especializado em interações digitais da University of the West of England, Lee Salter, propõe olhar a questão por outro ângulo. “As crianças sempre tiveram acesso a material sobre sexo e violência, seja nos filmes, seja em revistas ou até mesmo em casos contados por amigos na escola. Se a questão é o acesso por meio do computador, devíamos analisar primeiro por que esse tipo de material está sendo produzido na nossa sociedade”, afirma. “Culpar a internet é como atirar no mensageiro que vem entregar uma má notícia”, completa Salter.

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Se a curiosidade leva a caminhos nem sempre inocentes, o tempo gasto em frente ao computador revela outras preferências. Ainda de acordo com a pesquisa da Norton, a maior parte (27%) das buscas feitas por crianças de 8 a 12 anos está relacionada a música. Já os meninos e meninas abaixo dessa idade gastam a maior parte do tempo procurando jogos (23%). O que nos leva a pensar que talvez os jovens de hoje estejam apenas à procura das mesmas coisas que entretiam nossos pais: ritmos da moda e novas brincadeiras. Nos anos 60, a grande responsável por difundir as novidades era a tevê. Apesar das semelhanças, esses dois meios de comunicação são diferentes no momento de usar. “Nas gerações passadas os pais delegaram à tevê a função de babá. Colocavam a criança ali e ficavam sossegados. Não dá para fazer a mesma coisa com a internet”, afirma Ximenes. Nessa situação, a educação e a presença dos pais são fundamentais. “Tem que ser um momento em que o pai acesse o site junto com o filho. Se a criança quer entrar em uma rede social, é preciso sentar e explicar, por exemplo, que todos poderão ver o que for posto no site”, explica a advogada Juliana.

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FOTOS
Com uma semana de vida, Melissa já
tinha mais de mil imagens postadas no Flickr

Assim é na casa de Stephanie Gil Viaro, 9 anos. Com um perfil no Orkut desde os 6, ela sempre é acompanhada de perto quando está na internet. “Ela já entra sozinha, manda recados para as tias, para o pai e para mim. Mas, quando vai adicionar alguém ou postar uma foto, tem que pedir permissão antes. Também não deixo que ela faça buscas em sites como o YouTube sozinha”, explica a mãe, a blogueira Adriana Viaro.


O que mostra que, mesmo com a proliferação de uma tecnologia que mudou o mundo, o papel dos pais ainda permanece o mesmo: educar e transmitir valores para que no futuro as crianças possam tomar suas próprias decisões. Usar o mouse e postar nas redes sociais eles já sabem. Agora é preciso saber selecionar o conteúdo.


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