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DRAMA
Kátia (acima) admitiu ter feito o erro
que matou Stephanie
 

No sábado 4, Stephanie Teixeira, 12 anos, foi levada pela mãe, Roseane, ao Hospital São Luiz Gonzaga, em São Paulo, por causa de vômitos e diarreias. Tomou medicamentos e duas bolsas de soro fisiológico, mas morreu depois de receber, por engano, 50 mililitros de vaselina líquida na veia. A aplicação foi feita pela auxiliar de enfermagem Kátia Araghaki, que pensava estar ministrando soro. Indiciada por homicídio culposo (sem intenção de matar), se for condenada poderá ficar até três anos na cadeia.
A morte de Stephanie faz questionar como um erro destes pode acontecer. Confundir vaselina com soro? Infelizmente, a menina foi vítima de uma receita de desastre que há tempos ameaça a vida dos pacientes. Há, nos hospitais – em alguns mais, em outros, menos – armadilhas que abrem o caminho para erros. Um dos problemas é o despreparo profissional gerado pela proliferação de cursos ruins. Isso resulta na inobservância de regras básicas. “Antes de dar medicação, o profissional precisa checar a identificação do paciente, o nome da medicação, a dosagem, a via de administração e o aspecto do remédio”, diz Cláudio Porto, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren). Ele condena a multiplicação de escolas de auxiliar de enfermagem. “Em outros países, só há enfermeiros e técnicos.”

Combinado a essa questão, há o descuido no armazenamento de remédios. No caso de Stephanie, as embalagens de soro e de vaselina (usada na pele de pacientes) estavam lado a lado e eram perigosamente semelhantes. A auxiliar Kátia argumentou ter se confundido. “Ela disse que leu hidratação em um frasco e passou a vista no outro”, disse o delegado Antônio Corsi Sobrinho, encarregado do caso.
O equívoco também poderia ser evitado se houvesse um farmacêutico na emergência. Apesar de o hospital ter dois farmacêuticos, nenhum atua no pronto-socorro. “Há hospitais que têm farmacêutico neste setor. Ele confere prescrições, rótulos e dosagem”, diz Raquel Rizzi, presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo.

O cenário do drama de Stephanie é administrado pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e já sofre um inquérito civil aberto pelo promotor Arthur Pinto Filho, do Ministério Público de São Paulo. “Recebi denúncias de falta de médicos e enfermeiros”, diz o promotor. A Santa Casa procura se defender: instaurou sindicância, afastou os envolvidos e mandará diferenciar os rótulos das embalagens. No entanto, perdeu na semana passada a proteção de uma liminar que impedia vistorias do Coren.
Muito abalada, a mãe da menina não sabe de onde tira forças para enfrentar a dor. “Não sei quem está me ajudando. Não vou descansar até que todos os responsáveis pela morte da Stephanie sejam punidos”, disse à ISTOÉ.

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