Lançada há quase três décadas, a lipoaspiração é um sucesso. É a cirurgia plástica mais realizada no planeta e no País – estima-se que mais de 300 mil pessoas tenham feito lipo no ano passado no Brasil. O lado positivo de tamanha procura é que cada vez mais indivíduos ficam satisfeitos com a própria silhueta. A outra face do fenômeno é a existência de muitos pacientes frustrados com os resultados. O problema ganha expressão na quantidade de gente que marca novas consultas para consertar estragos. Em alguns consultórios do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, por exemplo, quatro a cada dez pacientes estão à procura de soluções para furos, manchas e ondulações na pele por culpa de procedimentos malfeitos.

O número de insatisfeitos tem tomado dimensão tão importante que está motivando acaloradas discussões internacionais. Nos Estados Unidos, a Sociedade de Cirurgia Plástica criou uma comissão só para lidar com a questão. Nesta semana, o Brasil pega a mesma trilha, com a inauguração de um grupo similar na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Os especialistas irão investigar os motivos que levaram a lipo a dar errado em casos de pessoas internadas depois da alta por complicações pósoperatórias e naqueles em que houve morte. “Com esses dados, faremos um trabalho de esclarecimento dos médicos e da população”, afirma José Tariki, presidente da entidade.

No meio médico, comenta-se que os índices de problemas e óbitos têm ultrapassado os limites aceitáveis. Um levantamento breve na internet mostra os nomes de pelo menos dez pessoas mortas após lipoaspirações no ano passado, mas seguramente há outros – muitos são subnotificados. Por tudo isso, a preocupação em tornar algumas verdades sobre a lipoaspiração mais conhecidas da população chega em boa hora. O que se quer é que os pacientes tenham claro o que podem esperar da intervenção e as regras que devem seguir para que ela efetivamente dê o resultado almejado.

A primeira verdade sobre a lipo – e que muitos médicos e pacientes desconsideram – é que, por menor e mais breve que ela seja, trata-se de uma cirurgia. Portanto, tem riscos. Isso quer dizer que não é um ato corriqueiro e que um bom préoperatório é fundamental para o processo começar de forma correta. “Fazer os exames clínicos e laboratoriais é indispensável mesmo para tirar poucos mililitros de gordura”, diz o cirurgião plástico Miguel Sabino Neto, da Universidade Federal de São Paulo.

Esse rigor na avaliação pode revelar aspectos omitidos pelo paciente. O desejo de alguns em realizar a cirurgia é tão grande que não contam ao médico que têm diabete ou pressão alta, por exemplo. Porém, as duas patologias devem estar controladas antes do procedimento. Caso contrário, há chance de ter problemas graves durante a cirurgia. O levantamento prévio das condições de saúde também contribui para prevenir a trombose venosa profunda, alteração caracterizada pela formação de coágulos nas pernas que podem migrar até o pulmão e o cérebro, obstruir o fluxo sangüíneo nos dois órgãos e levar à morte.