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QUALIDADE
Renato Kherlakian distribui sua linha de jeans premium na C&A

Uma camiseta masculina da Osklen não sai por menos de R$ 97 em uma das 55 lojas da grife carioca no Brasil. Mas uma t-shirt desenhada por Oskar Metsavaht, fundador e diretor criativo da marca, pode ser comprada por R$ 29,90 na Riachuelo. Isso em parte das 114 filiais da rede de varejo de moda popular, pois, em algumas delas, peças da coleção do estilista gaúcho radicado no Rio se esgotaram já no dia do lançamento, em novembro. A fórmula de sucesso – estilistas sofisticados produzindo para cadeias varejistas ou, em outras palavras, luxo a preço de magazine – já foi testada e aprovada nos Estados Unidos e na Europa. É o fast fashion, produção rápida e constante de moda de grife. “O corte das roupas é lindo, as peças caíram muito bem. Ter acesso a um produto com a assinatura do Oskar Metsavaht por esse preço é democratizar a moda”, elogiou a analista de mídias sociais carioca Julia Alves, 29 anos. A sueca H&M, a inglesa Topshop e as americanas GAP e Target não param de fazer dobradinhas com grifes do calibre das francesas Lanvin e Jean Paul Gaultier, da italiana Valentino e da inglesa Stella McCartney. No Brasil, a C&A faz, no momento, parceria com seis figurões da cena fashion nacional em suas mais de 180 lojas.

Renato Kherlakian é um deles. Pioneiro da jeanswear no Brasil, o estilista criou uma linha premium para a C&A, chamada Soul Unique Denim. A qualidade das calças, para homens e mulheres, é visivelmente superior à dos produtos normalmente vendidos pela rede de origem holandesa, mais parecida com a dos modelos da grife dele, a RK Denim. Mas o preço é um pouco maior: enquanto um jeans comum da C&A custa cerca de R$ 79,90, o criado por Kherlakian chega a R$ 189,90. Em geral, a consumidora da C&A não pagaria o valor cobrado pela RK Denim pelo jeans, que supera R$ 700. “Atuo num outro segmento de mercado, então o retorno da parceria com a C&A, para mim, é mais pelo reconhecimento da qualidade do meu trabalho. Minha marca não ganhou novos clientes”, diz.

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COBIÇA
As roupas de corte impecável da Osklen
desapareceram das araras da Riachuelo

 

A visibilidade é apontada como a grande vantagem dessas parcerias para as grifes, segundo a consultora de negócios de moda Soraya Giatto. “Pode abrir portas para novas colaborações, para oportunidades de assinar outros produtos”, explica. As demais coleções exclusivas nas araras da C&A atualmente levam a assinatura das estreladas Maria Bonita Extra, Isabela Capeto, Amir Slama, Gloria Coelho e Espaço Fashion. A ampliação do público é o objetivo dos magazines, ressalta Soraya, tam­bém pesquisadora do Instituto de Design da Faculdade Senai/Cetiqt, no Rio de Janeiro. Ao oferecer produtos de­se­nhados por alguém de renome, as redes atraem novos consumidores. “As pessoas têm cada vez mais informação de moda”, acrescenta o diretor de marketing da C&A, Elio França. A diretora de marketing da Riachuelo, Marcella Kanner, diz que “até há pouco tempo as pessoas iam a um magazine atrás de roupas baratas, mas hoje elas querem moda”. E anuncia uma parceria com a estilista paulista Cris Barros para o ano que vem. “As redes precisam se mexer para não perderem sua fatia no mercado.”

Ainda mais quando as cadeias varejistas internacionais têm planos para o Brasil. A Topshop, que, no momento, exibe a última coleção da top model inglesa Kate Moss, após três anos de colaboração, já confirmou a abertura de duas lojas em São Paulo, provavelmente no primeiro semestre de 2011. Já a H&M não bateu o martelo, mas pretende ampliar ainda mais seus domínios e desembarcar no País em breve. A rede sueca, que já fez dobradinha com as grifes inglesas Stella McCartney e Jimmy Choo, a francesa Comme des Garçons, a italiana Roberto Cavalli e com Karl Lagerfeld, estilista da Chanel, mon­tou um esquema especial pa­ra vender a a­guar­dada coleção da poderosa Lanvin, de Paris. Havia filas nas portas das filiais selecionadas para exibir as criações da marca na noite anterior ao lançamento, em novembro. Para evitar a revenda dos produtos, cada cliente só podia levar uma peça de cada modelo. Mesmo assim, quase tudo se esgotou em poucas horas.

A publicitária carioca Marcela Arruda, 28 anos, faz pós-graduação em Londres e trabalha numa das três lojas da H&M na cidade que receberam roupas, sapatos e acessórios com a assinatura Lanvin. “Os óculos de sol, que custavam só 14,99 libras (cerca de R$ 40), acabaram em 30 minutos”, lembra ela, que comprou um vestido de aproximadamente R$ 270. Caro para os padrões H&M, barato para os padrões Lanvin – em que as etiquetas costumam ter mais de quatro dígitos. “Eu nunca compraria um vestido Lanvin se não fosse por um preço mais acessível”, diz Marcela. Luxo é poder vesti-lo e manter o bolso em dia.

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