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MESMA DIREÇÃO
Guido Mantega, Miriam Belchior e Alexandre Tombini,
os escolhidos de Dilma Rousseff

 

O anúncio dos três principais nomes da equipe econômica do governo Dilma Rousseff foi revelador. Com Guido Mantega na Fazenda, Miriam Belchior no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central, fica claro que a prioridade maior da sucessora do presidente Lula será o desenvolvimento do País. Não haverá alteração radical na condução da economia, mas também não haverá lugar para o conservadorismo do Banco Central, que marcou a gestão de Henrique Meirelles. Prova disso é que a única mudança significativa foi exatamente o afastamento de Meirelles. Sob o argumento de que deve imperar uma sintonia fina na equipe econômica, sai do BC o tarimbado ex-presidente do Bank of Boston e entra, em sua vaga, um jovem e competente funcionário de carreira. Com o aval de Mantega e a aprovação de Dilma, Tombini, atual diretor de normas do BC, será o titular da presidência do BC a partir de janeiro. “O Meirelles foi um bom presidente, mas talvez pelas personalidades distintas, entre ele e o Mantega, não havia um entrosamento total. Isso muda com Tombini, o que é ótimo. A economia sofrerá menos”, afirmou Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do BC.

Temendo que a queda de Meirelles indicasse o fim da autonomia do Banco Central, a presidente eleita divulgou um comunicado no qual afirma que determinou à nova equipe que “assegure a continuidade da bem-sucedida política econômica do governo Lula – baseada no regime de metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal”. O trio que vai comandar a economia brasileira nos próximos anos foi apresentado ao País no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, na quarta-feira 24, pelo secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), que está cotado para ocupar o Ministério da Justiça. Dilma lhe delegou a tarefa, porque continua a dedicar tempo integral à formação de seu gabinete palaciano e à escolha de seus ministros. Sem esconder o constrangimento com seu descarte do BC, Henrique Meirelles, que pela manhã havia se negado a comentar a indicação de Tombini, disse que estava “feliz e gratificado” com seu trabalho à frente do BC. Mais tarde divulgou uma nota curta após o ato oficial no CCBB. “Alexandre Tombini é uma excelente escolha e um profissional completamente preparado para a função. Trabalhamos juntos por cinco anos e tenho plena confiança nele.”

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Na verdade, quem demonstrou confiança em Tombini foi Dilma. Disposta a eliminar qualquer foco de atrito na equipe econômica, a futura presidente concluiu que não é hora de estrelismo à frente do BC. Os últimos dois presidentes da instituição eram nomes de destaque no mercado financeiro. Armínio Fraga, que presidiu o BC de março de 1999 a dezembro de 2002, foi o principal gestor dos fundos de George Soros, um dos maiores investidores do mundo. Henrique Meirelles, que abandonou a Câmara para assumir o cargo em janeiro de 2003, galgou posições no tradicional Bank of Boston, até se tornar presidente mundial. Já Tombini tem perfil bem diferente. Ingressou no BC em 1995 por concurso público e fez todo seu percurso dentro do setor público, com uma passagem de cinco anos pela representação brasileira no FMI, em Washington. Mas se saiu bem em suas funções. Sua competência é reconhecida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o considera “discreto e competente”. Ele lembrou que Tombini ajudou a criar o sistema de metas de inflação durante o seu mandato em 1999. E também disse que não acredita que Tombini “seja suscetível a pressões políticas”.

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DE SAÍDA
Henrique Meirelles deixa o BC, mas
aposta na manutenção da sua linha

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A grande questão, a respeito da nova esquadra da economia, é se Alexandre Tombini, por se alinhar a Guido Mantega, vai perseguir as metas de inflação com a mesma rigidez de Meirelles. Mas ele mesmo, ao ser apresentado à opinião pública, fez questão de desfazer qualquer incerteza sobre os rumos do BC: “Tive longas conversas com a presidente eleita no processo de escolha e ela me disse que, no regime de metas de inflação, não há meia autonomia. Temos regras de jogo bem definidas. Temos autonomia operacional total.” No mesmo tom, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou à ISTOÉ que a meta de inflação de 4,5% continuará a ser perseguida pelo governo Dilma. Cabe ao BC, com a política de juros, evitar que a inflação saia do eixo. “Essa é a autonomia do Banco Central”, ressaltou o ministro da Fazenda. “A cada 45 dias todos os diretores do BC se reúnem no Copom para decidir sobre os juros. E não há nenhum membro da Fazenda lá”, reforçou Mantega.

Portanto, está enganado quem pensa que a maior sintonia da equipe econômica significará o relaxamento da política fiscal. Na entrevista de batismo, o trio reforçou, de forma uníssona, a preocupação com o equilíbrio das contas públicas. “O ano de 2011 será de consolidação fiscal com a contenção de despesas de custeio. O crescimento só será sustentável se for sem desequilíbrios macroeconômicos, ou seja, que não gere dívida pública, que não aumente o endividamento do Estado e que não traga inflação”, afirmou Mantega. A futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse, por sua vez, que o governo fará uma reavaliação de todos os gastos de custeio e revisará todos os contratos para “fazer mais com menos” também em busca da “consolidação fiscal”. “Os recursos são sempre inferiores à necessidade”, lembrou Miriam, sob o olhar cúmplice de Mantega. Isso não significa que haverá cortes nos programas sociais. Miriam afirma que a austeridade é necessária exatamente para canalizar recursos para as prioridades definidas pela presidente Dilma. Elas são, segundo a nova ministra do Planejamento: “Erradicação da miséria, criação de oportunidades para todos, educação, saúde de qualidade, melhoria na segurança pública, combate às drogas e investimentos em infraestrutura para o País continuar melhorando”.

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“O crescimento só será sustentável se for sem desequilíbrios, não gere
dívida pública, não aumente o endividamento e não traga inflação”
Guido Mantega, ministro da Fazenda

O foco do governo é o crescimento do PIB. Mantega recebeu de Dilma a missão de manter e superar a média de crescimento do País dos últimos quatro anos, que foi de 5%. “Nós queremos um crescimento de qualidade. Aumentando os investimentos e fortalecendo o mercado interno, de modo a gerarmos milhões de novos empregos. A geração de emprego é uma das prioridades da política econômica”, garantiu o ministro da Fazenda. Mantega ressaltou que o êxito da política econômica vai depender do equilíbrio das contas públicas. E, por isso, advertiu sobre o risco de o Congresso deixar passar uma série de projetos que aumentam os gastos da União. Segundo o ministro, o superávit fiscal poderá ficar comprometido se os parlamentares aprovarem a PEC 300, que cria um piso nacional para os policiais e teria um impacto de R$ 46 bilhões no Orçamento da União, Estados e Municípios. Ele teme também os reajustes para o Judiciário, um salário mínimo superior a R$ 540 e as pressões por aumento do funcionalismo público. “A consolidação fiscal corre risco, caso sejam aprovados aumentos de gastos que estão tramitando. É preciso um esforço comum de contenção de gastos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário para que a solidez fiscal continue viabilizando o crescimento sustentável”, advertiu Mantega.

A responsabilidade, como disse Mantega, está nas mãos do Congresso. Se houver exageros, a boa intenção de Dilma Rousseff de reduzir os juros praticados no Brasil irá por água abaixo. Há quem já preveja o aumento dos juros básicos na reunião do Copom de 7 e 8 de dezembro, para evitar pressões inflacionárias. “Vemos uma aceleração da inflação, o mercado de trabalho está apertado, com a menor taxa de desemprego dos últimos anos, e o rendimento médio da população, em expansão. Há um exagero no consumo e o BC vai conter isso em breve”, constata Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank. Caso Meirelles não queira assumir o ônus, Tombini poderá enfrentar seu primeiro teste de fogo, na reunião do Copom em 18 e 19 de janeiro. Quem o conhece de perto acha que o novo presidente do BC não titubeará se o aumento dos juros for imperativo. Essa é a opinião do economista Murilo Portugal, diretor-adjunto do FMI, que trabalhou com Tombini em Washington e foi secretário-executivo da Fazenda: “Ele tem pulso firme. E tem, com certeza, peso para manter a autonomia do Banco Central.”

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