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PRUDÊNCIA
Rosenthal ressalva que amplo uso do remédio
pode levar o vírus a ficar resistente

 

O Dia Mundial de Combate à Aids é 1o de dezembro, mas as boas notícias no enfrentamento à doença chegaram com uma semana de antecedência, na terça-feira 23. Neste dia, o mundo soube que, pela primeira vez, um remédio foi eficaz na prevenção à infecção pelo HIV. E também festejou a queda, após anos de ascensão, no número de novos casos registrados em 2009: 20% inferior ao contabilizado há uma década.

O remédio em questão é o Truvada, uma combinação de duas substâncias capazes de interromper a multiplicação do vírus. Ele já é usado no tratamento da doença em vários países e está em processo de aprovação no Brasil. Os testes para examinar sua capacidade preventiva aconteceram no Brasil, Equador, Peru, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos. Estiveram envolvidos 11 institutos de pesquisa, três deles brasileiros – a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade de São Paulo e a Fiocruz. Após 18 meses acompanhando 2.449 homens que fazem sexo com homens, os cientistas constataram que a medicação reduziu em média em 43,8% a taxa de infecção pelo vírus. “É uma descoberta com grande potencial de impacto contra a Aids”, considerou Anthony Fauci, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.

Mais estudos serão realizados para se precisar quanto de medicamento é necessário para a proteção e quanto tempo ela dura. “O que sabemos é que, entre aqueles cuja adesão foi maior, os índices de contaminação foram menores”, diz Brenda Hoagland, coordenadora do estudo na Fiocruz. No grupo que tomou a droga 27 dias ou mais durante o mês o índice de novos casos foi 72,8% menor que naquele que usou placebo. “Tomar a medicação, porém, não torna opcional o uso da camisinha”, enfatiza Brenda. “A orientação dada aos voluntários foi tomar os comprimidos diariamente, mas sem abandonar o preservativo.” A ressalva é importante, pois houve novos casos da doença mesmo entre quem usou a droga – foram 36 infectados entre quem usou a droga e 64 no grupo que tomou placebo.

Usar fármacos para a prevenção, porém, não é ponto pacífico entre os especialistas. Caio Rosenthal, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, não apoia a medida. “Estamos cutucando o vírus com vara curta”, diz. De acordo com o especialista, o uso mais abrangente do remédio pode tornar o HIV mais resistente a sua ação. E isso seria péssimo. “Uma das substâncias do Truvada é usada como opção inicial de tratamento. Se o vírus criar resistência, perderemos uma droga importante, tornando necessário o uso de remédios com mais efeitos colaterais e maior custo.”

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OTIMISMO
Fauci considera que a descoberta terá grande impacto contra a doença

 

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