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PERDOA, VAI!
Luís nunca sabe por que Paola está brava,
mas pede desculpas para acalmá-la

 

O executivo financeiro Luís Fernando Leão, 27 anos, não gosta de pedir desculpas. Que o diga sua noiva, a analista comercial Paola Pallencia, 25. Juntos há seis anos, os dois reconhecem que existe um grande desequilíbrio na balança de mea-culpa proferidos por ele e por ela. “Com certeza, eu peço mais”, afirma Paola. Luís concorda.“Para mim, é difícil admitir um erro. Ainda mais quando não sei direito o que fiz para magoá-la: 90% das vezes, peço perdão só para acabar com a briga”, assume, rindo. O descompasso do casal é uma característica comum nos relacionamentos entre parceiros de sexos opostos, como comprovaram psicólogos da Universidade de Waterloo, em Ontário, Canadá. Segundo os pesquisadores, homens e mulheres têm interpretações bem distintas do que pode ser considerado ofensivo ou não, e isso causa uma discrepância na frequência das retratações feitas por cada gênero.

Na primeira fase do estudo canadense, homens e mulheres com idades entre 18 e 44 anos anotaram em diários todas as ofensas que haviam cometido ou sofrido durante duas semanas, e seus respectivos pedidos de desculpas. Entrevistados de ambos os sexos declararam ter se desculpado 81% das vezes em que ofenderam alguém. Porém, as mulheres afirmaram ter ofendido mais e, consequentemente, pedido mais perdão do que os homens. Na segunda fase, os participantes tiveram de avaliar situações hipotéticas, como ser rude com um conhecido ou ligar tarde da noite para um amigo e prejudicar a entrevista de trabalho dele no dia seguinte. Conclusão: os homens consideraram que a maioria dos casos não merecia um pedido de desculpas, demonstrando ter um limite maior do que pode ser interpretado como ofensivo. “Nós não achamos que as mulheres são sensíveis demais e os homens de menos”, disse Karina Schumann, uma das responsáveis pelo experimento. “Apenas confirmamos que elas são mais sensíveis.”

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EM FAMÍLIA
Daniela é quem dá o primeiro passo para
se reconciliar com a mãe, Dora

 

Para a psicóloga Ana Paula Mallet Lima, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a sensibilidade feminina mais apurada é fruto do contexto social. “As mulheres sempre foram instruídas a se responsabilizar pelos sentimentos alheios”, diz. “Principalmente em um relacionamento amoroso.” De acordo com a psicóloga, um pedido de perdão é uma forma de garantir a permanência do outro. “Algumas pedem desculpas mesmo quando não estão erradas, apenas para agradar a quem está a seu lado”, afirma. A administradora de empresas Daniela Ribeiro, 26 anos, entende bem essa lógica tortuosa. A jovem conta que sempre dá o primeiro passo quando se trata de fazer as pazes, principalmente com a mãe, a autônoma Dora Ribeiro, 48. “Se vejo que ela está chateada, peço perdão, mesmo achando que a culpa não é só minha”, confessa. “O duro é que assim ela fica mal-acostumada. Acabo tendo de tomar a iniciativa todas as vezes.” Dora explica que não é só o orgulho que a impede de pedir desculpas para a filha. “Pode parecer contraditório, mas sinto que é mais difícil ceder para a Daniela do que para alguém que mal conheço”, diz.

DIVISÃO 46% de nossas desculpas são voltadas a amigos,
22% a estranhos, 11% ao parceiro e 7% a parentes

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Essa dificuldade em pedir perdão para pessoas próximas também foi confirmada pelos psicólogos canadenses. O estudo apontou que, em média, os participantes pediam desculpas quatro vezes por semana. A maioria das retratações se dirigia a amigos (46%), em segundo lugar a desconhecidos (22%), depois a parceiros românticos (11%) e, por último, a membros da família (7%). “Pedir desculpas a um desconhecido é fácil. Fazemos e depois nunca mais vemos a pessoa”, afirma Lídia Aratangy, terapeuta familiar. “Já em um relacionamento permanente, trata-se de abrir um precedente. Se nos retratamos hoje, teremos de fazê-lo novamente amanhã.” A psicóloga reforça, no entanto, que pedir desculpas com sinceridade não é um sinal de fraqueza, mas, sim, uma virtude. “Todos cometemos erros, porém só aqueles que verdadeiramente compreendem o desapontamento do outro conseguem se redimir”, diz. O segredo é saber, com clareza, quando e por que pedir perdão.

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