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FUTURO
Ricardo Darín (foto) será dirigido por Walter Salles:
“papel maravilhoso”

 

O ator argentino Ricardo Darín está vivendo o auge de sua carreira. Seus filmes, como “Abutres”, que ele lança no Brasil na sexta-feira 3, fazem sucesso em seu país e no mundo. Alguns deles, inclusive, chegam à reta final do Oscar de melhor produção em língua estrangeira e foi nessa categoria que “O Segredo dos Seus Olhos” levou este ano a estatueta do prêmio máximo do cinema. Para que ele efetivamente se consagrasse como um dos grandes atores do mundo, bastaria dizer sim aos convites de Hollywood. Anuíram a tais convites 99% de seus colegas latino-americanos, entre eles Sonia Braga e Rodrigo Santoro, e atores europeus, a exemplo dos espanhóis Antonio Banderas e Javier Bardem. Mas Darín diz sempre não porque ele detesta ser tratado pela maior indústria do cinema como um tipo exótico, um “macaquito” de olhos azuis ao qual sempre se reservam algumas pequenas aparições em cena como bandido ou amante latino. O convite mais recente veio de Tony Scott, o diretor de blockbusters como “O Sequestro do Metrô”. “Me ofereceram o personagem de um traficante mexicano. Eu respondi que não me interessava. Estou farto de os estúdios americanos acharem que traficante sempre tem de ser latino-americano”, diz Darín.

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AMOR PORTENHO
Martina Gusman e Darín em “Abutres”: paixão
no ambiente da máfia das seguradoras

 

Nesse ponto, o ator pode ser cotejado a Fernanda Montenegro, para ele um exemplo de profissional de princípios que se recusou a trabalhar nos EUA argumentando que não queria ser “uma índia velha do cinema americano” e que, nesta altura de sua carreira, não precisava provar mais nada. “É isso que distingue uma grande atriz: não se deixar levar por coisas que não têm nada a ver com o seu ofício.” A maior prova do atual poder de Darín é que, mesmo diante de suas repetidas negativas, Hollywood teve de se render a seus filmes e eles passaram a ser refilmados na meca do cinema – só que, sem o astro, não têm o mesmo brilho. O primeiro que teve remake foi “Nove Rainhas”, no qual interpretou um malandro envolvido com falsificações no auge da crise argentina. Nos EUA, recebeu o título de “Criminal”. “É a demonstração mais clara da falência de ideias. Eles nem se deram ao trabalho de ler o roteiro. Colocaram os personagens, que são dois malandros de rua, andando de Mercedes. Um desastre.” Recentemente, mais dois de seus trabalhos tiveram os direitos comprados pelos grandes estúdios: “O Segredo dos Seus Olhos” e “Abutres”, este último sem sequer ter estreado nos cinemas americanos. O papel do advogado Sosa, que trabalha para uma espécie de máfia dos seguros, buscando indenizações para acidentados no trânsito que não possuem planos de saúde, deve ser entregue ao astro Jeff Bridges, que ganhou o Oscar de melhor ator este ano pelo filme “Coração Louco”.

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Eis um exemplo de outro tipo de personagem que faz o ator vibrar: o filho não reconhecido, que finalmente descobre o pai no leito de morte e, com ele, um irmão que não sabia que existia. O trabalho foi proposto pelo cineasta brasileiro Walter Salles, que ele conheceu por meio do produtor argentino do filme “Diários de Motocicleta”. Nesse caso, Darín nem pensou muito para dizer sim. Ele adora o filme “Central do Brasil”, não por acaso estrelado por Fernanda Montenegro: “É uma história fantástica e o papel que o Walter me deu é maravilhoso.” Com uma carreira de mais de quatro décadas, o ator de 53 anos, casado e pai de dois filhos, nasceu numa família de atores e convive com a câmera desde pequeno. “Não me deram opção”, diz. Ao longo de mais de 54 obras, ele afirma que desenvolveu um método próprio de atuar e que, na maioria das vezes, começa a rodar um filme tomado pela angústia e pela dúvida: “Nessas horas, sempre me pergunto por que me dedico a essa atividade, por que não faço outra coisa.” A crise, claro, passa logo. Seu mais recente trabalho, “Um Conto Chinês”, sobre o relacionamento entre um argentino e um oriental que não fala uma palavra de espanhol, trata de um problema recente em seu país: a imigração chinesa. Esse é outro filão que Darín aprecia, o dos filmes sociais. Politizado? “Impossível não ser, estamos embrulhados pela política”, diz ele. Por isso foi homenageado pelo governo brasileiro na 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos, que ele abriu na semana passada em São Paulo e viajará por 20 cidades brasileiras. Sobre a sua popularidade o ator não poderia ser mais diplomático: “Tenho muita sorte na minha carreira. A maioria dos personagens que me atraem também agrada às pessoas.”

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