Joédson Alves

Havia um saldo de campanha de mais de US$ 20 milhões. O dinheiro era do Fernando"
"O grupo de Collor acredita que PC não entregou o dinheiro nem à própria família
"

Absolvido pelo Supremo Tribunal Federal das acusações que levaram ao seu impeachment na Presidência da República há 14 anos, Fernando Collor de Mello assumiu a cadeira de Heloísa Helena no Senado Federal na quinta-feira 1º tentando enterrar todos os fantasmas do passado. Mas os fantasmas daquele tempo persistem em assombrá-lo. Quem resolveu abrir o túmulo da história para mostrar que eles estão bem vivos é o secretário particular de Collor quando ele ocupou a Presidência, o advogado Cláudio Vieira, que até hoje defende empresas do amigo. Vieira está ao lado de Collor há 32 anos. Em três horas de conversa, na quarta-feira 31, em seu escritório e em sua casa, em Maceió, ele fez revelações bombásticas a ISTOÉ: “As provas que levaram ao impeachment são verdadeiras. Existiu, sim, um Esquema PC Farias, com o uso de fantasmas e laranjas. O Fiat Elba usado na Casa da Dinda foi comprado em nome de fantasma. Pior: Collor não ficou com as senhas das contas bancárias do esquema e perdeu, assim, US$ 20 milhões.”

A sobra de US$ 20 milhões
“Havia um saldo de campanha de mais de US$ 20 milhões em 1989. O dinheiro era do Fernando. O Paulo César ficou com esse dinheiro para manter toda uma estrutura. O Paulo César morreu e ninguém sabe onde está este dinheiro. PC foi chamado cinco vezes para pagar despesas, a pedido de Collor. Nós dizíamos, ‘Paulo, tem que pagar uma despesa tal.’ Ele ia lá e pagava. PC pagou a reforma da Casa da Dinda e construiu as instalações para a segurança em lote contíguo. PC pagou as contas de motoristas e de veículos utilizados pela família de Collor, inclusive o Fiat Elba que detonou o escândalo. Depois, ele comprou uma pequena casa no Paraná e deu de presente à família de uma garota de dez anos que escreveu uma carta emocionada ao presidente.”

As senhas no Exterior
“Pedimos a um perito para fazer um levantamento. Em dólar, acho que tinham sido gastos somente uns US$ 800 mil em valores de hoje. A maior parte daqueles US$ 20 milhões nunca apareceu. PC Farias não passou os números das senhas das contas bancárias para nenhuma pessoa do grupo. Ele morreu e ninguém sabe onde está esse dinheiro. Para nós, o dinheiro estava no Brasil, não estava no Exterior. Hoje, todo o grupo de Collor acredita que PC embolsou o dinheiro e não entregou nem à própria família. Tem uma empresa de carros aí que é dele, andou meio falida, teve que botar mais sócios. A filha de PC, Ingrid Farias, aluga para festas a casa que o pai deixou em Maceió, com vista para a praia de Cruz das Almas.”

Conta conjunta com PC
“PC procurou um importante auxiliar de Collor e ofereceu a criação de uma conta em nome de um laranja. Só descobri posteriormente que a conta que eu tinha aberto no banco BMC era uma conta conjunta com o Paulo César, conta conjunta não solidária. Só durante a CPI é que descobri que três cheques de fantasmas foram depositados em minha conta por Paulo César. Aí apareceram os fantasminhas do PC. O Paulo depositou dinheiro dos fantasmas na minha conta. Eu não sabia dessa história de fantasma. Hoje, sou pressionado pela Receita Federal para pagar uma dívida salgada referente à sonegação de impostos da conta que usei enquanto estive no cargo. O Fisco está me cobrando uma dívida de R$ 20 milhões.”

O caso Fiat Elba
“O Fernando falou: ‘Cláudio, preciso comprar um carro para as atividades na minha casa. Você pede um Fiat Elba Weekend.’ Liguei para o Paulo César e disse: ‘Tô precisando de uma Elba Weekend. Você paga com o saldo de campanha.’ Esse carro foi a principal prova para decretar o impeachment. Meu motorista, o José Antônio Maciel, levou o Eriberto para buscar o carro e ele explodiu todo o esquema. O PC pagou o carro com o cheque de um fantasma dele. O erro foi meu. A cagada foi minha. Éramos jovens e fizemos nossas cagadas. Mas quem não faz? Olha esse governo aí, olha o governo do Fernando Henrique. Imagina, um presidente da República se envolver em corrupção por causa de uma Elba? Quem controlava era a secretária dele, Ana Accioly. PC tinha as contas, ela fazia os cheques e ele assinava.”

O início da queda de Collor
“Um ano antes do impeachment, o ministro do TCU Thales Ramalho me encontrou no restaurante La Becasse e disse: ‘Avise seu presidente que vão derrubá-lo.’ Ele informou que políticos paulistas vinham se reunindo para derrubar Collor, entre eles Mário Covas e Ibsen Pinheiro. Foi um grande complô da classe dominante. Avisei o Pedro Paulo Leoni Ramos (ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que controlava a inteligência do governo). Ele me disse que já estava vendo esta movimentação e que estava checando. Collor, no entanto, acho que não leu os relatórios da inteligência. Após o impeachment, fizemos uma reunião na casa do Thales Ramalho, no Lago Sul, e ele disse ao Fernando: ‘Avisei ao Cláudio que estavam armando em São Paulo sua derrubada.’ O Fernando disse: ‘Cláudio, você não me avisou?’ Eu respondi: ‘Eu avisei ao PP.’”