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JOGADA NACIONAL
Apesar de parecer uma estratégia local, a movimentação
de Kassab pode alterar o tabuleiro político nacional

 

Quando o tucano Geraldo Alckmin venceu no primeiro turno a eleição para o governo de São Paulo, em 3 de outubro, o prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), reuniu-se com três deputados amigos, um deles do PSB, em um hotel na zona sul da capital, e disse: “Pedi votos para Alckmin por causa do Serra, mas sua vitória me coloca com um pé fora do DEM.” Vinte e oito dias depois, quando José Serra (PSDB), o principal avalista político de Kassab, foi derrotado na sucessão presidencial, o prefeito disse aos mesmos três amigos: “Fui leal até o fim. Cumpri tudo o que foi acertado com o PSDB, mas chegou a hora de trilhar outro caminho e não há como permanecer no DEM.” No último final de semana, após diversas reuniões com líderes do Democratas, Kassab conversou com o presidente nacional do PMDB e vice-presidente eleito, Michel Temer. Relatou que a união do DEM com o PMDB, como chegou a cogitar tão logo foram fechadas as urnas, estava descartada. No entanto, assegurou a Temer que no início do próximo ano irá trocar de partido e que apoiará incondicionalmente o governo de Dilma Rousseff. Temer elogiou o posicionamento político de Kassab, sempre leal a Serra e assegurou-lhe um lugar de destaque no PMDB paulista. Segundo Temer, o prefeito paulistano é o político ideal para engrossar o partido, que receberia de bandeja o controle do terceiro maior orçamento do Brasil.

“Fui leal até o fim. Cumpri tudo o que foi acertado com o PSDB,
mas chegou a hora de trilhar outro caminho”
De Gilberto Kassab para um amigo deputado

Na conversa, Kassab fez duas exigências e uma promessa. Deixou claro que quer ter legenda para disputar o governo do Estado em 2014 e quer conduzir o processo da sucessão municipal. Em seguida, prometeu levar para o partido vários prefeitos do DEM e líderes do PSDB que não têm espaço político no governo de Geraldo Alckmin. São aqueles que se opuseram ao governador eleito e ficaram ao lado de Serra e de Kassab na eleição municipal de 2008. Sempre discreto, Temer teria dado um sorriso de grande satisfação com o que ouvira do prefeito, segundo Kassab relatou a um amigo tucano.

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“A princípio, o Kassab é nosso aliado e o PMDB também nos apoia em São Paulo”
Geraldo Alckmin, governador eleito de São Paulo

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Para quem olha de longe o tabuleiro político, pode parecer que os movimentos de Kassab sejam oportunistas e de repercussão apenas local. Não é verdade. “A princípio, o Kassab é nosso aliado e o PMDB também nos apoia em São Paulo”, afirma o governador eleito Geraldo Alckmin. “No plano nacional esse movimento pode significar alguma mudança, mas ainda é muito cedo para se falar em 2012 ou 2014.” Para o prefeito e para o PMDB não é tão cedo assim. O partido trabalha para se reafirmar em São Paulo. Segundo Temer, há um vácuo no quercismo e Kassab é quem melhor pode ocupar esse espaço. Os peemedebistas também carregam uma pesquisa mostrando que o PSDB vem, no poder desde 1995, somando desgastes entre os paulistas e só permanecem no Palácio dos Bandeirantes porque o PT não se viabilizou como opção. “No PMDB, o prefeito Kassab pode muito bem ser acolhido pelo eleitorado. Ele é popular na capital e o partido tem forte capilaridade no interior”, diz um parlamentar tucano que promete trocar de ninho logo depois de Kassab. “Precisamos construir uma alternativa para São Paulo que não passe pelo governador Alckmin”, completou o deputado na quarta-feira 17.

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Apesar da troca de legenda, Kassab não sairá do DEM pela porta dos fundos. Pelo contrário. O partido, segundo o ex-senador Jorge Bornhausen e seu presidente, deputado Rodrigo Maia (RJ), pretende facilitar a jogada de Kassab. Uma das principais dúvidas do prefeito tem natureza jurídica. Ele teme que a troca de legenda possa lhe custar os dois últimos anos de mandato, caso o DEM reclame na Justiça. A favor de Kassab pesa ainda o fato de a vice-prefeita, Alda Marco Antonio, pertencer ao PMDB. Ou seja, o DEM poderia até recorrer ao TSE, mas em caso de vitória não levaria. O partido, no entanto, não planeja recorrer ao Judiciário e admite até expulsar Kassab, se isso lhe transmitir segurança para o próximo passo. Assim, o DEM aproveita a ocasião para dar um xeque no tradicional aliado PSDB, que corre o risco de ficar isolado no maior colégio eleitoral do País. Poderá ser um xeque-mate caso a popularidade do prefeito esteja em alta nas próximas pesquisas. Enquanto as peças não se movimentam, Rodrigo Maia procura manter o DEM unido, mas já ensaia um discurso para se desligar do PSDB. “Temos o compromisso de lutar pelo crescimento do partido, vamos elaborar um Plano Nacional de Ação Partidária e apresentar candidatos próprios nas próximas eleições. Nosso objetivo é levar a mensagem da oposição a toda a sociedade brasileira”, diz uma nota oficial do partido, emitida na terça-feira 16.

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