img.jpg
PREJUÍZO
O ministro Haddad minimizou os danos e diz que nova prova deve
ser aplicada apenas a quem recebeu o exame com erros.
Ele disse que ninguém será prejudicado

 

chamada.jpg

 

Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) surgiu como uma ideia interessante para aferir o desempenho dos estudantes de forma voluntária. Entre 1998 e 2008, funcionou muito bem e tornou-se um termômetro para avaliar escolas e alunos. No ano passado, o governo quis transformá-lo em porta de entrada para o ensino superior. Ampliou o número de questões e passou a cobrar mais conteúdo. Junto com a importância e o gigantismo, começaram os problemas. Em 2009, o exame teve de ser cancelado dois dias antes de ser aplicado porque a prova havia sido furtada. Quando o gabarito foi divulgado, detectaram-se erros e questões foram anuladas. Este ano, o Enem ganhou ainda mais relevância com a adesão maciça das universidades federais – 59, sendo que 35 o adotam como única prova seletiva. Os problemas, porém, persistem a ponto de a Justiça Federal ter determinado a suspensão do exame, que custou R$ 180 milhões aos cofres públicos, depois de constatadas falhas. Houve inversão no cabeçalho do cartão-resposta de parte das provas, fato que prejudicou milhares de alunos. Na sexta-feira 12, uma decisão do Tribunal Regional Federal voltou a validar a prova. Segundo o desembargador Luiz Alberto Gurgel de Faria, o governo não precisará cancelar todo o Enem, apenas refazer as provas dos alunos prejudicados. A questão, no entanto, ainda não está totalmente resolvida.

img2.jpg
NOVA RODADA
Pedro Gomes saiu-se bem nas provas, mas defende que
todos refaçam o Enem por conta dos problemas ocorridos

 

O novo incidente é mais um a minar a credibilidade do exame, que este ano teve 3,3 milhões de inscritos, e um sinal claro de que sua forma de aplicação precisa ser repensada. “Os defeitos não são da metodologia do Enem, como querem que pareça”, afirma o professor Henrique Sobreira, doutor em educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). “O problema é administrativo. É do Ministério da Educação, que não soube executar o projeto em grande escala.” Em entrevista à ISTOÉ, o ministro da Educação, Fernando Haddad, minimizou o problema. “O que houve foi um erro da gráfica (RR Donnelley Moore, que cobrou R$ 35 milhões pelo serviço) em um lote de impressão, que respondia por 0,003% dos dez milhões de provas impressas”, afirmou o ministro, garantindo que nenhum estudante sairá perdendo. Ele descarta a necessidade de aplicação de nova prova para todos, como chegou a defender o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Temos condição de identificar os prejudicados e aplicar uma segunda prova, como fizemos no ano passado por causa de uma enchente no Espírito Santo”, assegurou. O episódio enfraqueceu o nome de Haddad para continuar à frente do ministério no governo Dilma Rousseff.

img1.jpg
FALHA
Priscila Belsoff recebeu a prova com erros
e rasurou o cartão por orientação do fiscal

 

Pelas contas do ministro, cerca de dois mil alunos teriam sido prejudicados, e não 21 mil, como chegou a ser divulgado. Por isso, as entidades representantes dos estudantes também defendem nova prova apenas para quem recebeu o exame com falhas. Mas, em apenas quatro dias, registraram 1.200 queixas contra o Enem. O autor da ação que culminou com a suspensão do exame pela Justiça Federal, procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal do Ceará, discorda desta posição. Para ele, Haddad demonstra “total desconhecimento” dos princípios que regem o concurso público, entre os quais o da igualdade. “Espero que anulem essa prova”, afirmou Costa Filho.

Este também é o desejo da estudante Priscila Belsoff, 17 anos, que tenta cursar engenharia de materiais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Como recebeu um dos testes impressos com erros, ela foi orientada por um dos fiscais a rasurar o cartão de respostas. Agora, vive a angústia de não saber se o ato acarretará sua eliminação. “Estou perdida, não sei o que fazer. Para mim, o ideal seria que zerassem tudo e fizessem uma nova prova”, diz. Mesmo quem se deu bem pensa assim, como Pedro Gomes, 17 anos, candidato a uma vaga em engenharia da computação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro: “Tem gente que foi mal no Enem, mas não por causa das falhas, e está usando essa confusão para pleitear um novo teste. Apesar disso, acho que a solução seria que todos refizessem o exame.”

O Enem também teve problemas de fiscalização. Embora fosse proibido levar celulares, muitos candidatos entraram com seus aparelhos. A miss Tocantins 2011, Jaqueline Ribeiro Verrel, foi uma que teve a prova recolhida no sábado 6 porque fotografou, com seu celular, parte do cabeçalho do exame e divulgou no Twitter. A equipe do MEC que estava de prontidão em Brasília conseguiu impedir que ela colocasse todo o teste na internet.

Agora, é corrigir as falhas e tentar recuperar a confiança. A professora Maria Helena Guimarães de Castro, ex-secretária de Educação de São Paulo, defende a descentralização do Enem, com a realização de exames equivalentes em datas diferentes. Este é o modelo dos Estados Unidos, onde os testes acontecem sete vezes por ano. “Isso reduziria a complexidade da aplicação das provas”, diz. Afinal, boa parte dos problemas que o Enem enfrenta advém da tentativa de aplicar um exame moderno com a velha ótica do vestibular. O tamanho do Brasil por si só já configura um pesadelo logístico para a sua realização de uma só vez. Enquanto não houver uma solução definitiva, pelo menos 48 mil vagas oferecidas em instituições federais através do Enem ficam aguardando seus legítimos donos.

img3.jpg