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CUIDADOS
Exames clínicos e para avaliar níveis de gordura no sangue
e de pressão arterial devem ser feitos regularmente

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AÇÃO
Depois de ganhar peso, Felipe escolheu
o beisebol para se exercitar e emagrecer

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“Os pais devem agir de maneira preventiva e ensinar hábitos saudáveis aos filhos desde cedo”
Estela Azeka, pediatra

A idade é de criança, mas o coração é de adulto – na pior acepção do termo. Foi o que constataram dois estudos canadenses recém-divulgados nos quais o peso corporal e a qualidade do sono foram relacionados à saúde cardiovascular de meninos e meninas. A conclusão: o modo de vida contemporâneo tem sido extremamente prejudicial ao coração e ao sistema circulatório. No Hospital Infantil British Columbia, a equipe do médico Kevin Harris comparou 118 adolescentes de 13 anos, sendo 53% obesos. Foram medidos a pressão arterial, o colesterol e o índice de massa corporal. Além disso, todos os jovens foram submetidos ao ecocardiograma, um exame usado para determinar o fluxo sanguíneo na aorta, artéria mais importante do corpo humano. Os resultados: pressão arterial levemente aumentada e rigidez na aorta dos adolescentes acima do peso – um sintoma que até hoje era visto apenas em pessoas mais velhas. “Em adultos, a perda de elasticidade desse vaso está associada a problemas cardiovasculares e morte prematura”, disse Harris à ISTOÉ. “Nosso próximo passo será descobrir quais são os efeitos disso sobre as crianças e os impactos na vida adulta.”

No outro trabalho, o que se constatou foi que dormir pouco – hábito cada vez mais comum entre os adolescentes – também produz efeitos nocivos sobre a saúde cardiovascular. A pesquisa foi realizada com 1,6 mil estudantes canadenses, com idade entre 14 e 16 anos, pelo cardiologista pediátrico Brian McCrindle, do Hospital da Criança Doente, em Toronto. “Adolescentes que têm distúrbios do sono apresentam um índice de massa corporal maior, o que aumenta o risco de sobrepeso e obesidade”, afirmou McCrindle. “Isso, por sua vez, pode levar a índices elevados de colesterol ruim.” Outra consequência constatada pelo estudo foi o aumento da pressão sanguínea.

Sabe-se há algum tempo que poucas horas dormidas ou um sono de má qualidade estão relacionados a uma série de impactos prejudiciais no funcionamento do organismo. “Essas condições podem levar a uma alteração na produção do hormônio de crescimento”, exemplifica a médica Ângela Spinola, presidente do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “E isso irá predispor à obesidade.”

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Os problemas vistos no Canadá estão longe de serem exclusivos de nações desenvolvidas. Vilão recorrente quando se fala em problemas de saúde na infância, a obesidade infantil, por exemplo, atinge hoje 42 milhões de crianças com menos de cinco anos, estima a Organização Mundial da Saúde. Desse total, 83% estão em países em desenvolvimento.

A grande questão é descobrir como esse e outros problemas relacionados ao estilo de vida das crianças, cada vez mais parecido com o de adultos, influenciarão a saúde cardíaca quando elas se tornarem adultas. E, infelizmente, as indicações não são das mais animadoras, como se pode ver nos dois trabalhos canadenses. “É por essa razão que os pais devem agir de maneira preventiva desde cedo”, afirma Estela Azeka, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Na casa da família Saito, em São Paulo, o ganho de peso do filho Felipe, 10 anos, após uma operação, foi razão para mudanças alimentares para toda a família. Felipe teve de fazer uma pequena cirurgia cardíaca. No pós-operatório, sem poder se exercitar, ganhou peso. Além de se alimentar melhor, Felipe foi orientado a voltar para as atividades físicas assim que obteve a liberação médica. Como não podia correr muito, devido à operação, ele escolheu o beisebol, modalidade que pratica há mais de um ano. “O envolvimento da família com a saúde da criança é essencial”, avalia Ângela Spinola.