Do outro lado do Atlântico, uma americana se dedica aos mistérios da face de forma mais cartesiana. Ph.D. em estatística, Kendra Schmid, da Universidade de Nebraska, criou um software que calcula o grau de atratividade de um rosto a partir de 29 medidas, com base num conceito matemático. Kendra comprovou por a + b que é tudo uma questão de simetria. Quanto mais perfeitas as medidas – distância entre os olhos, tamanho do nariz comparado à boca, largura do rosto –, mais atraente se é. Após mensurar centenas de voluntários, a pesquisadora chegou à média 6 para ser considerado belo e sensual. A grande maioria dos indivíduos, no entanto, fica mesmo entre 4 e 6. “Olhos e lábios são as coisas que as pessoas mais reparam”, afirma Kendra, que promete disponibilizar o teste na internet em breve para quem tiver coragem de saber sua própria nota.

G_2.jpg

 

Se captar a mente humana durante o processo de sedução é um desafio para cientistas de renome, entender a cabeça feminina é ainda mais complexo. Isso porque os hormônios variam conforme o ciclo menstrual e interferem no desejo. Lisa percebeu que as mulheres ganham um brilho natural quando estão ovulando. O período fértil também faz com que elas notem os homens mais bonitos com uma perspicácia maior. Foi o que concluiu um grupo da Universidade do Arizona (EUA), comandado por Doug Kenrick, outro especialista no tema. Os pesquisadores americanos pediram que dezenas de mulheres olhassem fotos de homens com belezas variadas. Depois, testaram a capacidade de memorização das voluntárias e, por fim, perguntaram em que período do ciclo elas estavam. Perceberam que elas olham muito mais depressa para um homem considerado atraente quando estão ovulando. Mas isso não quer dizer que se lembrem do rosto dos bonitões mais tarde. Uma das conclusões da equipe é que a mulher, apesar de também sentir atração física, precisa de mais subsídios para fazer valer a memória. A arquiteta potiguar Larissa Marinho é um exemplo. Aos 24 anos, já definiu seu tipo ideal. Ele é moreno, alto, bonito e sensual – tal e qual o hit dos anos 80. Mas essa equação pode cair por terra a qualquer instante; basta o discurso do tal ser inconsistente. Seu lema é: “beleza atrai, conteúdo convence”. “Inteligência e bom humor são bem mais afrodisíacos que ombros largos”, diz a arquiteta. Larissa acredita na “teoria do equilíbrio”, segundo a qual um homem tem que ser um pouco de tudo. “Aquele que quer chamar a atenção só pela beleza é tão chato quanto o que só quer se mostrar superinteligente, ou rico, ou engraçado. Tudo o que é demais cansa.”

Além das ferramentas que a natureza dá, a atração física também acontece por meio dos códigos de comportamento. O jeito que uma pessoa caminha, como ela mexe nos cabelos e até como dança pode atrair mais olhares. O inglês Nick Neave, o mesmo que estudou a questão do salto alto, divulgou recentemente um estudo no qual mostra o jeito mais sexy de um homem dançar. Ele colocou 32 voluntários rebolando numa sala e depois criou avatares deles, assexuados, para apresentar para as mulheres. Os mais apreciados foram aqueles que mesclavam movimentos curtos e longos, expandindo os braços e mexendo bem o tronco, ao melhor estilo John Travolta em “Os Embalos de Sábado à Noite”. Para Neave, esses são os homens que demonstram mais autoconfiança e virilidade.

No Brasil, quem sabe dançar coladinho também ganha pontos no processo de sedução. É o caso do gerente de marketing Felipe Critis Secol, aplicado aluno de uma escola de dança paulistana. “Tinha acabado de me separar e confesso que nem sabia muito bem como voltar a conhecer mulheres”, conta. “A dança foi um caminho.” O professor André Toffani garante que grande parte dos homens que procura sua escola quer ganhar pontos com o público feminino. “É uma ferramenta pronta de sedução. Sem precisar falar nada, o homem tem argumento para abraçar, passar a mão na cintura e criar a proximidade.”

img3.jpg
ESTRATÉGIA
Após se separar, Felipe aprendeu a dançar para reaprender a seduzir

 

A ciência da atração física também revela muito sobre o ser humano. Uma das descobertas mais surpreendentes foi feita por Doug Kenrick, da Universidade do Arizona. Num experimento, ele colocou dez homens e dez mulheres vestidos com roupas iguais, que escondiam ao máximo seus corpos, e toucas na cabeça. Na touca, cada um levava um número de acordo com seu grau de “atratividade”. Sem saber qual algarismo levavam na testa, o psicólogo pedia que cada um buscasse um par com qual se identificasse mais. Ao final, percebeu que os que tinham números similares terminaram juntos – o dois com o três, o nove com o dez e assim por diante. A conclusão do pesquisador é que, mesmo no quesito beleza, a tendência é buscar alguém similar a si próprio.

O casal de modelos Rafael Leite Patrício, 29 anos, e Raquel Tolardo, 28, confirma a tese. “Como a gente circula em um meio com muita gente bonita, é até difícil achar alguém que seja superinteressante, acima da média”, diz Raquel. “E o primeiro impacto é visual, não tem jeito”, complementa Rafael. Ambos, no entanto, são a prova de que, mesmo com toda a beleza que a natureza lhes deu, são necessários outros atributos para fazer valer um relacionamento. Juntos há sete anos, começaram a namorar quando já se conheciam fazia quatro. “Primeiro ficamos amigos, só depois o cupido flechou”, conta a modelo catarinense.

Outras pistas sobre as escolhas amorosas dadas pelas pesquisas remontam aos nossos antepassados. No geral, quase todas levam à conclusão de que as artimanhas da atração física, inconscientes ou não, têm como pano de fundo o imperativo biológico. Homens olham o rosto, o cabelo e a proporção entre cintura e quadril com o intuito de achar uma parceira saudável o suficiente para parir e cuidar de seus filhos. As mulheres, por sua vez, preferem os que transpiram testosterona – altos, ombros largos e traços fortes –, em busca dos genes perfeitos para suas crias.

img.jpg

 

“Achar que tudo é pela reprodução e evolução da espécie é uma grande bobagem”, critica o psicólogo e antropólogo Christopher Ryan, que escreveu o livro “Sex at Dawn” (Sexo ao Alvorecer) com sua mulher, Cacilda Jethá. “Isso não é científico, é moralismo.” Para o pesquisador americano, se o imperativo biológico explicasse a química da atração, não haveria casais homossexuais e nem desejo nas idades mais avançadas, quando as mulheres já não podem mais engravidar. “Os pesquisadores que focam somente nessa explicação se esquecem de uma das razões que mais movem o ser humano em relação ao outro: o prazer.” E entenda por prazer a simples descarga elétrica composta por dopamina, serotonina e outras substâncias que desaguam no corpo quando uma pessoa se sente atraída pela outra. “Somos, com os bonobos, a única espécie que faz sexo face a face, olhos nos olhos.” Ou seja, buscamos, ou deveríamos buscar, o prazer antes de tudo.

Ter em mente que a atração tem mais a ver com a busca pelo prazer do que pela reprodução é uma informação decisiva na hora de escolher parceiros. Afinal, a famosa química que nasce entre duas pessoas num primeiro encontro pode ser traiçoeira. Nesse caso, sai de cena a biologia e entra a psicologia. “O desejo é um termômetro para investir em um relacionamento”, explica o psicólogo Thiago de Almeida. “O problema é que, dependendo de como está a autoestima, a pessoa pode rebaixar seu crivo de seletividade na busca desesperada por alguém.” Para o psicólogo Ailton Amélio, da Universidade de São Paulo, autor do livro “O Mapa do Amor”, a maior prova de que a atração não leva necessariamente a uma relação são os números levantados durante pesquisas feitas com alunos e pacientes desde a década de 90. Cerca de 80% dos casais que ele entrevistou não foram formados com base no irresistível amor à primeira vista. Eles já se conheciam ou foram apresentados por alguém em comum. Resta saber quais armas esses entrevistados utilizaram para atrair seus parceiros. Afinal, nunca é demais exercer o poder de sedução. Na pior das hipóteses, será um grande prazer.

G_seducao_Sex_Appeal.jpg