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RAPOSA
Escândalo dos atos secretos não abalou força de Sarney no Congresso

 

Alguns homens são vítimas das circunstâncias, outros são beneficiados por elas. O ex-presidente José Sarney pertence ao segundo grupo. Volta e meia é envolvido em confusões, mas o destino acaba por lhe sorrir. Entrou para história, por exemplo, o acaso que o levou à Presidência da República em 1985. Agora, na presidência do Senado, apesar do forte desgaste que sofreu no ano passado com o escândalo das nomeações por atos secretos, o cacique da política maranhense tem grande chance de ser reconduzido para mais dois anos à frente da Casa. “Eu não quero exercer novo mandato”, disse Sarney à ISTOÉ, com um sorriso matreiro nos lábios. Porém, para quem entende das manhas da velha raposa, a senha está dada: José Sarney (PMDB-AP) está mexendo os pauzinhos para continuar na presidência da Casa.

As circunstâncias voltam a jogar a seu favor. E mostram que Sarney, aos 80 anos, parece ter sete vidas na política. Além da crise na administração do Senado, ele enfrentou problemas graves de saúde em outubro. Com aguda crise de arritmia cardíaca, foi internado às pressas no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. E passou por uma ablação, que submete o músculo cardíaco a choques por meio de cateter para que os batimentos se normalizem. Por recomendação médica, adotou horário mais curto e agenda mais concisa. Tudo indicava que rumaria para a aposentadoria. A partir da eleição de Dilma Rousseff, contudo, seu nome voltou a ganhar força nos corredores do Congresso. Muitos de seus colegas, até mesmo da oposição, afirmam que Sarney tem o perfil ideal para comandar o Senado no início do governo Dilma. “É um nome natural e pode ajudar a futura presidente, mas tudo vai depender da sustentação que o governo der a ele”, diz Álvaro Dias (PSDB-PR).

Pela tradição, a presidência do Senado pertence ao partido com a maior bancada. Na próxima legislatura, a preferência é do PMDB. Explica-se, assim, o renascimento de Sarney, que tem sinal verde do Executivo. Ele conta com a aprovação do presidente Lula, que lhe é grato pela fidelidade política, e também da presidente eleita Dilma Rousseff, cuja candidatura apoiou desde o primeiro momento (no Maranhão, com o aval da família Sarney, Dilma teve 79% dos votos). O maior obstáculo está no PMDB, que tem outros candidatos ao cargo. Não bastasse a disputa partidária, Sarney enfrenta uma resistência ainda mais forte. Sua mulher, dona Marly, acha que o importante agora é cuidar da saúde. A circunstância familiar pode falar mais alto. Mas Sarney está habituado a vencer obstáculos.

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