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Em “Vergonha” (Companhia das Letras), o escritor inglês de origem indiana Salman Rushdie expõe as vísceras de um dos países mais complexos da atualidade, o Paquistão. A história enfoca a trajetória de algumas famílias em uma nação sufocada por governos militares e pelo fundamentalismo islâmico. O autor mostra como o sentimento de vergonha (ou “udru”) funciona como uma amarra para a emancipação das mulheres e, interpretado como sinal de decência e moralidade, permeia as relações familiares e políticas e justifica atos violentos.

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Leia um trecho do livro:

1. O monta-cargas

Na remota cidade fronteiriça de Q., que vista do ar parece bastante um haltere mal proporcionado, viveram um dia três amáveis e amorosas irmãs. Seus nomes… mas seus nomes verdadeiros nunca eram usados, como a melhor porcelana doméstica, que ficou trancada depois da noite da tragédia conjunta delas em um armário cuja localização acabou esquecida, de forma que o grande serviço de mil peças de louça Gardner da Rússia czarista se transformou num mito familiar em cuja existência real elas praticamente deixaram de acreditar… as três irmãs, devo revelar sem mais demora, levavam o nome de família Shakil e eram universalmente conhecidas (em ordem decrescente de idade) como Chhanne, Manni e Banny.E um dia o pai delas morreu.