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CARTÃO-POSTAL Projetos sociais e de arquitetura revitalizaram Medellín e a tiraram do isolamento do passado

No momento em que o Rio de Janeiro constrói muros nas favelas, há um exemplo na vizinha Colômbia que merece atenção redobrada. Medellín, cidade que já foi berço do traficante Pablo Escobar, está dando a volta por cima ao derrubar as barreiras que a isolaram do desenvolvimento por décadas. Enquanto o Rio ainda não consegue se descolar da imagem de violência, com 40 mortes para cada 100 mil habitantes, Medellín comemora uma queda de 381 homicídios para cada 100 mil em 1991 para menos de 30 no ano passado. Pelos avanços notáveis contra a pobreza, desigualdade e violência em Antioquia, Estado do qual Medellín é capital, a cidade passou do posto de completo isolamento econômico ao de lugar atraente para investidores e turistas.

"Nenhum empresário precisa mais de escolta para ir a Medellín", afirma o ministro da Defesa, Juan Manoel Santos. "Medellín é a demonstração de que realizar uma mudança não é uma utopia insuperável, mas uma agenda de trabalho alcançável com visão estratégica, esforço e gestão", diz o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luiz Alberto Moreno. O BID levou a sua 50ª Assembleia Anual para Medellín, entre os dias 27 e 31 de março.

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GLOBAL Uribe recebe elogios de Clinton, em visita do expresidente americano a Medellín: "A participação da sociedade civil é importante porque nem os governos nem os mercados podem solucionar tudo"

Convidado para a reunião do BID, o ex-presidente americano Bill Clinton chegou elogiando os avanços sociais ao visitar uma escola construída pela cantora colombiana Shakira na miserável Barranquilla. "A participação da sociedade civil é importante porque nem os governos nem os mercados podem solucionar tudo", afirmou Clinton. Ao lado do presidente colombiano, Álvaro Uribe, Clinton disse acreditar que o melhor resultado do pós-crise será uma maior quantidade de recursos gerada por bens e serviços e um sistema financeiro mais regulado, o que seria um benefício para as políticas públicas e favoreceria a solução dos problemas das grandes cidades.

Nos últimos dez anos, áreas em pobrecidas e decadentes de Medellín deram lugar a parques, como o de San Antonio, de Berrio, a Praça Botero – que exibe esculturas do artista Fernando Botero, como Torso masculino, La Vênus durmiente e El pájaro -, o Parque de los Pies Decalzos, com fontes que deixam moradores e turistas à vontade para andar descalços, o Parque dos Deseos, com planetário e um centro musical, o Parque Explora, que é um museu interativo, e o Parque Norte, com atrações semanais. "Chegamos ao fundo do poço", disse à ISTOÉ o prefeito da cidade, Alonso Salazar. "Agora vemos o copo meio cheio."

No entusiasmo pela revitalização, o poder público subiu os morros e criou um link entre as populações miseráveis e o centro desenvolvido, com investimentos em infraestrutura. A obra mais imponente é também a única no mundo. O metrocable é um teleférico igual ao que liga o Morro da Urca ao Pão de Açúcar. Mas em Medellín há dois conjuntos que unem a última linha do metrô no asfalto ao mais alto ponto dos morros. A linha que dá acesso à favela Comuna 13 tem sete quilômetros de comprimento e capacidade para levar 25 mil pessoas por quatro estações em apenas 11 minutos. A segunda linha, na Comuna 1, permite o traslado de 15 mil passageiros em nove minutos, num percurso de 1,8 quilômetro. "Não levamos só transporte, mas dignidade", ressalta o gerente-geral do metrô de Medellín, Ramiro Márquez.

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LAZER Los Pies Decalzos, um dos novos parques: melhor qualidade de vida

Os avanços em Medellín criaram um ambiente de negócios favorável. Na reunião do BID, o governo colombiano conseguiu levar mais de 150 investidores estrangeiros para conhecer os 119 projetos, avaliados em US$ 34 bilhões. Desse total, 10% são para Medellín, cuja prefeitura quer criar parques eólicos, duplicar estradas e construir hidrelétricas e a segunda planta de tratamento dos resíduos que chegam ao rio Medellín. Para esse último projeto, a cidade conseguiu assinar um convênio de US$ 450 milhões com o BID e passará a ser a primeira na América Latina com o tratamento completo das águas de seu rio.

"Queremos investidores interessados em trazer desenvolvimento e não queremos especuladores de minério de ferro", disse à ISTOÉ o governador de Antioquia, Luiz Alfredo Ramos, em referência a um dos principais produtos do Estado.

Os frutos que Medellín colhe agora encheram os olhos do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Há 15 dias o governo fluminense anunciou que quer construir até o final do ano 47 torres de sustentação dos cabos elétricos que ligarão o Complexo do Alemão por teleféricos aos trens e ao metrô carioca. Acontece que as obras em Medellín foram acompanhadas de uma repressão jamais vista do narcotráfico, desmobilização dos paramilitares (que equivalem às milícias cariocas), reaparelhamento e renovação da polícia e projetos eficientes de intervenção social. Foram investidos US$ 500 milhões nas comunidades 1 e 13, o que permitiu que até bancos privados se instalassem no alto dos morros, onde antes nem as autoridades chegavam. "Há 17 anos, nem o presidente da República se atrevia a ir lá", conta o governador Luiz Alfredo. Resta saber se o Rio copiará o projeto colombiano na sua íntegra, com o investimento em inclusão social. Sem os investimentos adequados em segurança e infraestrutura, será apenas uma cópia pálida de Medellín.