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Oresultado das eleições parlamentares dos Estados Unidos, na terça-feira 2, foi um balde de água fria na efervescência que tinha marcado a vitória do primeiro presidente negro da história americana, Barack Obama, em 2008. O Partido Democrata perdeu a maioria na Câmara dos Representantes – equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil –, que ficou sob o controle dos republicanos e com algumas cadeiras no Senado. Na prática, isso significa que Obama terá mais dificuldade em aprovar suas medidas. A oposição vitoriosa já anunciou que trabalhará para coibi-las. Na teoria, a derrota nas urnas simboliza o enfraquecimento de Obama e, como consequência, das mudanças que ele representava. A crise econômica, o desemprego que se abate sobre 10% da população e o déficit orçamentário que chegou a U$ 1,19 trilhão no último ano foram o pano de fundo das eleições. O americano deixou claro que está insatisfeito com as medidas que seu líder máximo toma para tentar reverter essa situação. Obama gastou muito para salvar da crise bancos e empresas e para aprovar a reforma do sistema de saúde, medidas impopulares para boa parcela da sociedade americana. O resultado do pleito expõe ainda a volatilidade da situação política do país: dois anos depois de colocar no poder o presidente mais progressista das últimas décadas, o eleitor forma o Congresso mais conservador de sua história.

A vitória do Partido Republicano foi esmagadora e superior a de 1994, quando houve mudança política semelhante e a oposição obteve 54 cadeiras do Senado no governo do democrata Bill Clinton. Agora, os adversários de Obama ocupam 239 cadeiras na Câmara dos Representantes, contra 185 dos democratas, que perderam 61 assentos. Na nova configuração, a Casa passará, em janeiro próximo, a ser presidida por um dos maiores adversários da política econômica do presidente, o deputado John Boehner, de Ohio, que ocupará o cargo da democrata Nancy Pelosi. Boehner será o terceiro homem mais poderoso dos Estados Unidos, atrás apenas do vice-presidente, Joseph Biden, e já manifestou a intenção de barrar as decisões do presidente. “Está muito claro que o povo americano quer que façamos alguma coisa sobre o corte de gastos aqui em Washington e ajudemos a criar um ambiente em que consigamos os empregos de volta”, disse a repórteres no dia seguinte às eleições, 3 de novembro. “É um recado dos americanos para que o presidente Obama mude de rumo”, concluiu Boehner.
 

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FUNDAMENTALISMO
Membros do grupo ultraconservador Tea Party comemoram
a queda da líder democrata Nancy Polosi

 

O novo rumo a que se refere o futuro líder da Câmara dos Representantes ganha forma com o crescimento da ultradireita. O movimento Tea Party, cujos integrantes compõem a faceta mais conservadora dos republicanos, emerge como uma nova força no Congresso. Entre os eleitos está o senador Marco Rubio, eleito pela Flórida. Com 39 anos, Rubio é filho de um casal de exilados cubanos, encarou dificuldades, se formou advogado, possui espírito de liderança e, a exemplo de Obama antes de ser eleito, personifica o sonho americano. Ele se tornou o queridinho do partido e já está cotado para disputar a Casa Branca em 2012. Os americanos também elegeram a primeira mulher governadora de origem hispânica, a republicana Susana Martinez, pelo Estado do Novo México, que substituirá o democrata Bill Richardson.

Ainda com maioria no Senado, mesmo com os Democratas tendo perdido seis dos 59 assentos, Obama não pode se desviar do baque. Em entrevista coletiva, na quarta-feira 3, fez o mea-culpa e se desculpou com os americanos. “Sinto-me mal. Tenho de melhorar meu trabalho como presidente, assim como todos que trabalham em Washington também”, declarou. O líder abalado também estendeu a mão aos vitoriosos para um trabalho conjunto. Ele só não está disposto a ceder em pontos centrais da sua agenda, como a reforma dos planos de saúde, classificada por Boehner como “monstruosa”.

Mais do que a derrota nas urnas, o efeito moral dessas eleições é arrebatador, de acordo com analistas políticos. A onda de entusiasmo sem precedentes que veio com a vitória de Obama é trocada pela desilusão a curto prazo trazida pelas medidas impopulares. Obama tenta justificá-las. Em entrevista ao programa “Daily Show”, declarou ao apresentador Jon Stewart: “Conseguimos coisas que as pessoas nem sequer conhecem.” Não há, porém, sinal de que o resultado das urnas tenha significado ignorância popular – pareceu mais, para todos os analistas, um simples desencanto com Obama.

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