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Estima-se que cerca de 30% dos portadores de depressão não respondam positivamente ao tratamento inicial, à base de antidepressivos. É um índice alto demais. Por essa razão, há um esforço mundial para buscar alternativas que, junto com o arsenal de medicamentos disponíveis, garantam assistência a todos os doentes. Na última semana, pesquisadores de duas renomadas instituições americanas – a New York Presbyterian Hospital/Weill Cornell Medical Center e Rockefeller University – anunciaram o êxito de uma experiência que pode ser decisiva nesse sentido. Os cientistas divulgaram os resultados do primeiro e bem-sucedido teste usando a terapia genética contra a enfermidade.

Trata-se de uma fronteira completamente nova no combate à doença. Sabia-se já há alguns anos que a depressão tem um forte componente genético – ou seja, que erros no modo de atuação de determinados genes podem levar ao seu desencadeamento. Mas até hoje não havia nenhum recurso que atacasse especificamente esse problema. Os antidepressivos, junto com a psicoterapia, são atualmente os instrumentos mais utilizados. Há também, é verdade, a opção da terapia de estimulação magnética transcraniana, método indicado especialmente para os casos que não respondem adequadamente aos medicamentos. Porém, tanto os antidepressivos quanto a estimulação atuam para tentar corrigir o desequilíbrio na produção e absorção da serotonina, substância que, no cérebro, está envolvida no processamento das emoções e do humor. Limitações ao seu funcionamento, portanto, podem levar ao surgimento da doença.

Agora, é a primeira vez que um tratamento se propõe a ir mais fundo: solucionar a origem – ou pelo menos parte dela – do desequilíbrio. Nas pesquisas realizadas anteriormente, os cientistas descobriram que um pedaço do problema estava no mau funcionamento do gene p11. Ele é responsável pela produção de uma proteína do mesmo nome. Sua função é fazer com que cheguem à superfície dos neurônios os receptores de serotonina. Eles são uma espécie de fechaduras químicas nas quais a serotonina produzida se encaixa para, em seguida, penetrar nas células cerebrais. Sem eles, o corpo pode produzir toda a serotonina que quiser, mas ela não será aproveitada. Afinal, a porta dos neurônios continuará fechada para sua entrada. “Quando o gene p11 não funciona direito, é isso o que ocorre”, explicou Michael Kaplitt, um dos coordenadores do trabalho. A solução é consertar esse erro.

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APOSTA
Prêmio Nobel de Medicina, Greengard
está otimista com os resultados

 

Foi o que os pesquisadores fizeram, por enquanto em animais. Para isso, eles utilizaram uma estratégia conhecida da terapia genética que consiste no uso de um vírus inofensivo modificado geneticamente. Ele funciona como um cavalo de troia: os cientistas colocaram dentro dele o material genético correto – nesse caso, contendo o gene p11 sem defeito. O vírus foi inoculado no núcleo accumbens, área do cérebro especialmente afetada pela depressão. O genoma do micro-organismo se misturou ao das células cerebrais das cobaias e o gene defeituoso acabou sendo substituído pelo correto.

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Ao final da experiência, os animais não apresentavam mais sintomas da enfermidade. O resultado deixou os cientistas entusiasmados. “Se formos bem-sucedidos nos testes com seres humanos, nossa abordagem poderá mudar a forma como a depressão é tratada”, disse à ­ISTOÉ Paul Greengard, também coordenador do estudo e Prêmio Nobel de Medicina em 2000 por suas pesquisas sobre a transmissão de informações entre neurônios. “E esperamos que a terapia genética funcione para todos os casos da doença, inclusive os mais graves.”

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