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TRAGÉDIA 
Aos 39 anos, Jefferson Gonçalo já organizava torneios de boxe. 
Ao lado, a luta fatal, contra Ismael Bueno

A morte do boxeador Jefferson Gonçalo, 39 anos, na quarta-feira 6, após desmaiar num ringue durante um campeonato no interior de São Paulo, reabriu o debate sobre os limites da violência neste esporte. O lutador desmaiou aos 29 segundos do quinto round, na arena do ginásio João Sebastião Ferraro, em Salto, numa disputa com Ismael Bueno. Foi socorrido imediatamente, transferido para um hospital mais bem equipado em outra cidade, passou por cirurgia de emergência, mas não resistiu. Quatro dias depois, estava morto. A causa mortis só virá com o laudo do Instituto Médico Legal (IML), mas suspeita-se que Gonçalo já tinha algum problema no cérebro, que foi agravado pela luta do dia 2. “Ele chegou com uma lesão aguda, extravasamento de sangue e inchaço que certamente foram provocados pelo confronto daquele dia, mas poderia já ter algum problema cerebral”, afirma a administradora do Hospital Samaritano, de Sorocaba, Ethiene Candiotto.

A tragédia de Salto provocou uma briga fora dos ringues entre os dirigentes da modalidade. A Confederação Brasileira do Boxe acusou a Liga Paulista de não adotar medidas de prevenção, como a realização de exames médicos periódicos nos boxeadores. A Liga se defende. “O Jefferson era o organizador do evento. Era ele o mais preocupado em cuidar da sua saúde e da dos demais lutadores. Além do que, ele estava se sentindo muito bem até a luta”, argumenta Reinaldo Carrera, presidente da Liga Paulista de Boxe. “Foi uma fatalidade.”O neurologista Mirto Nelso Prandini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também acha que o que aconteceu com Gonçalo foi uma fatalidade. “O boxe é o esporte que mais expõe o cérebro ao risco, mas a chance de morrer lutando é baixa”, diz o médico. De qualquer forma, é difícil passar incólume pelos ringues. “As lesões geram problemas como perda de memória e alterações de comportamento.” Para Prandini, 100% dos pugilistas terão alguma sequela cerebral. Há até nomenclatura médica para a doença que os boxeadores desenvolvem: dementia pugilistica. O neurologista lembra que outros esportes também causam microlesões que podem gerar danos mais graves (leia abaixo), como o futebol americano, hóquei, Fórmula 1 e até o aparentemente inofensivo futebol – divididas de cabeça são extremamente arriscadas.

Fatalidade ou não, casos como o de Jefferson Gonçalo não são fatos isolados no mundo do boxe. Levantamento americano aponta que, de 1890 a 2007, 1465 esportistas morreram durante a luta. A questão é tão incômoda que a Associação Mundial de Boxe (AMB) debateu, em convenção mundial realizada no ano passado, medidas preventivas médicas e de arbitragem para diminuir o número de mortes e acidentes. “Treinadores e juízes podem parar uma luta a qualquer sinal de anormalidade. O lutador, no entanto, dificilmente vai pedir para parar. É do esporte, o atleta sempre vai querer ir até o seu limite”, acredita Reinaldo Carrera. O problema é quando esse limite é a própria vida.

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