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PREVENÇÃO
Os principais monumentos de Paris têm
tido forte vigilância dos militares

 

A forte presença de militares tem chamado a atenção daqueles que desembarcam nos aeroportos de Paris. Não abordam ninguém, se recusam a iniciar qualquer diálogo, mas observam com atenção principalmente as esteiras de bagagem e os guichês de migração. Do lado de fora dos aeroportos, os soldados também são notados. Em grupos que variam de três a cinco, patrulham as movimentadas ruas da capital e vigiam as estações de trens e metrô. Como nos aeroportos, não abordam ninguém, apenas observam. Nos principais pontos turísticos, a presença das Forças Armadas francesas é ainda mais ostentiva, em grupos que chegam a mais de 15 homens e carros de combate. “A cidade não costuma ser tão vigiada assim”, disse Aline Rater, uma recém-formada professora de história que há três anos leva grupos de turistas à Torre Eiffel e outros monumentos de Paris. “Há um clima de tensão. Nas últimas 48 horas, por duas vezes os militares pediram que todos deixassem a torre”, afirmou Aline na sexta-feira 1º. Dois dias antes, franceses e turistas sofreram com o fechamento e a evacuação da estação Saint-Lazare, que atrapalhou todo o transporte coletivo da capital durante a tarde chuvosa.
 

A ação dos militares para que pontos turísticos e estações de metrô sejam evacuados acontece com rapidez, sem aviso prévio, sem explicações à população e faz parte de um plano antiterror batizado de Vigipirate. Desde o início de setembro, as autoridades europeias convivem com o receio de ataques terroristas. Na França e no Reino Unido o temor é maior. O que levou ao fechamento da estação ferroviária e à evacuação da Torre Eiffel por duas vezes nas últimas semanas foram ameaças de bombas, detectadas pelos serviços de informações franceses e ingleses. No caso da torre, bastaram duas horas para a conclusão de que estavam diante de um alarme falso. Em Saint-Lazare, a interdição da estação durou mais de seis horas. Os dois episódios refletem o cotidiano de uma Paris que tem vivido sob o segundo mais alto nível de alerta antiterror, o vermelho, a um ponto do vermelho vivo.

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MANIFESTAÇÃO
Desde o início do ano, os franceses fizeram mais
de 200 passeatas contra as reformas de Sarkozy

 

“Uma ameaça terrorista real tem pairado sobre a França e precisamos tomar todas as medidas cabíveis para proteger nossos cidadãos e aqueles que nos visitam”, afirma Brice Hortefeux, ministro do Interior, responsável pela convocação dos militares. O aumento da tensão, segundo o ministro, tem relação com uma operação frustrada das Forças Armadas Francesas para resgatar um refém sequestrado pela Al-Qaeda em abril e assassinado em julho. Oposicionistas, no entanto, sustentam que medidas tomadas recentemente pelo presidente Nicolas Sarkozy podem ter ajudado a colocar a França como alvo principal das ameaças terroristas.
Em 14 de setembro, o Senado francês aprovou uma lei de Sarkozy proibindo o uso da burca, a vestimenta islâmica que cobre totalmente o rosto das mulheres. A medida revoltou os muçulmanos e na semana passada era impossível caminhar pelas ruas de Paris sem se deparar com mulheres muçulmanas pedindo a assinatura em documento de repúdio às medidas de Sarkozy. Sem burca, mas com um véu que cobre parcialmente o rosto, elas estavam nas portas de restaurantes, nos pontos turísticos e em várias esquinas da Champs-Elysées.

Não são reprimidas e abordam as pessoas com discrição. A proposta dessas mulheres é reunir milhões de assinaturas e distribuir o documento para a imprensa internacional no encerramento do salão mundial do automóvel. A França possui 64 milhões de habitantes, cinco milhões são muçulmanos e o islamismo é a segunda religião do país.
Não bastassem as ameaças terroristas, as frequentes manifestações populares contra as reformas propostas pelo presidente Sarkozy também alteram o dia a dia da Cidade Luz. Na sexta-feira 1º, por exemplo, a chuva atrapalhava muito menos do que os enormes engarrafamentos que se formavam por toda Paris. Apenas para percorrer os dois quilômetros da Champs-Elysée, um ônibus de turismo levava aproximadamente 40 minutos. “Assim é impossível trabalhar”, reclamava o motorista Jacques Fabrieux. “Preciso percorrer os principais pontos de Paris e o percurso que leva uma hora tem chegado a três, sempre que há alguma manifestação.” Entre as reformas propostas pelo governo para enfrentar a crise financeira que abate a Europa a que mais encontra resistência da população é a que altera a idade da aposentadoria de 65 para 67 anos. Naquela sexta-feira, manifestantes reuniram-se em diversos pontos da capital para organizar uma greve geral ainda sem data definida. Foi a terceira manifestação em menos de um mês e mobilizou cerca de 800 mil pessoas. Desde o início do ano o governo francês assistiu a mais de 200 passeatas.
 

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As manifestações que atormentam os parisienses também têm se repetido na Grécia. O problema da França é que a credibilidade do presidente está sendo questionada. Mesmo entre aliados do governo há quem afirme que os alertas antiterror são na verdade apenas uma estratégia diversionista para tirar o foco das reformas. “A ameaça terrorista é posta pelo governo para distrair a atenção dos franceses de outros assuntos como a reforma do sistema de pensões, que atenta contra o cidadão”, diz Dominique de Villepin, membro do partido do governo, mas crítico de Sarkozy. O governo aposta que nos próximos dias o Senado aprove as medidas e que em pouco tempo Paris volte a sua rotina, com menos militares nas ruas.

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