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Estúdio de animação Mundo Canibal conta em vídeo como seus criadores ganharam dinheiro com sites como o Twitter, o Orkut e o Facebook. Confira
 

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Os números não deixam dúvidas. Redes sociais como Twitter, Facebook e Orkut caíram no gosto dos 56 milhões de brasileiros que acessam a internet: 87% deles têm perfis em sites como esses, de acordo com pesquisa divulgada pelo Ibope em junho. Enquanto 83% dos navegantes alegam que a principal razão para acessar as redes é a proximidade com os amigos, há aqueles que descobriram um novo filão para ganhar a vida. Assim como algumas das maiores corporações do mundo, empresas iniciantes e profissionais liberais perceberam que é possível fazer negócios de peso nesse universo – da venda de roupas ou artesanato à prestação dos mais diversos serviços. “É um mundo novo. Os pequenos empresários estão conseguindo ter o mesmo sucesso que as grandes marcas. Isso porque quem manda nesse jogo é o conteúdo”, afirma Gil Giardelli, consultor de redes sociais da empresa Gaia Creative.
Neste caso, criar páginas, mensagens e perfis capazes de atrair potenciais compradores é, de fato, a alma do negócio. Quem lê os pequenos textos do Twitter, limitados a até 140 caracteres, só clica em um link se julgar que este o levará a uma página interessante. O mesmo acontece com os vídeos postados no YouTube, as fotos publicadas no Flickr e as músicas no MySpace, portal que concentra artistas. Assim, a primeira regra a ser considerada por quem quer faturar nas redes é: não adianta entrar em todas as comunidades e ter milhares de amigos se você não tem nada interessante para dizer ou vender.

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“É importante ter primeiro uma ideia útil e interessante, algo que as pessoas gostariam de comprar. É muito raro alguém começar apenas com o desejo de ganhar dinheiro”, argumenta Edney Souza, blogueiro conhecido pelo apelido de Interney e diretor de operações da agência Pólvora, especializada em mídias sociais. Caso a tal ideia útil e interessante não apareça, o pretendente a empresário pode até montar seu negócio contando com o auxílio das redes sociais. Entra no Facebook e no Twitter, adiciona Deus e o mundo e em uma semana já tem mais seguidores que aquele seu sobrinho adolescente. Na segunda semana, percebe que suas vendas não necessariamente aumentam com a popularidade. Na terceira, decide deletar seus perfis porque tudo o que recebe é spam – o famoso lixo eletrônico. “É melhor ter poucos laços fortes do que muitos laços fracos”, ensina André Telles, autor do livro “A Revolução das Mídias Sociais” e diretor da agência de marketing online Mentes Digitais. “Não adianta ter um milhão de seguidores, se você só tem uma boa relação com dez deles”, completa Telles.

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VIRAL
O artista gráfico Ricardo Piologo contou
com o YouTube para transformar suas animações em sucesso

O programador Jonny Ken aprendeu a real importância do bom relacionamento com seus clientes da forma mais dura. Criador do aplicativo Migre.me – que encurta endereços da internet para que usuários do Twitter possam incluí-los nos 140 caracteres de texto disponíveis em cada post –, ele se viu às voltas com um apagão do seu serviço. Uma empresa terceirizada responsável pelo armazenamento de informações perdeu todo o conteúdo produzido em mais de um ano, deixando o site fora do ar. A saída imaginada por ele foi gravar um depoimento explicando a falha para os usuários. “Eu ia escrever um texto, mas pensei que poderia ser mais sincero e dar a cara a tapa em um vídeo, já que o problema foi extremamente grave”, conta. O resultado foi surpreendente. No campo de comentários e em outras páginas da internet, começaram a pipocar mensagens de apoio. O problema foi resolvido com a ajuda de pessoas que conheciam o serviço e antigos parceiros. O pequeno empresário criou o serviço a partir de uma brincadeira em um encontro de aficionados por tecnologia em 2009. Hoje, vive com o dinheiro que ganha com o Migre.me.

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Mas, se por um lado as redes sociais trazem como novidade a proximidade entre quem tem algo a oferecer e quem quer consumir, por outro não dá para esquecer algumas regras básicas do empreendedorismo tradicional. A principal delas é: defina seu público. “O primeiro passo, fundamental para iniciar um negócio, é identificar seu nicho de atuação. O empreendedor tem de fazer uma análise da área na qual deseja atuar e agir a partir daí”, explica o consultor independente de marketing online Roberto Costa. O raciocínio é o mesmo de quem procura o melhor bairro para abrir sua loja. É preciso estar no lugar certo para poder vender para as pessoas certas. Assim como as diferentes regiões de uma cidade, cada rede social é frequentada por determinado público. Algumas fazem mais sucesso entre adolescentes, outras são mais indicadas para encontrar artistas (leia o quadro à direita e saiba em qual delas o seu negócio se encaixa).
A pequena empresária Glória Pereira está usando essa regra para difundir seu produto entre um novo público. Ela desenvolveu um jogo de tabuleiro denominado Negócio Sustentável para ajudar empresários a ter uma visão mais global do mercado e das relações com o meio ambiente. Dois anos depois, a ferramenta é sucesso também entre os jovens e Glória já usa as redes sociais para entrar nesse nicho. Afinal, quase 70% dos brasileiros nas redes sociais têm entre 16 e 35 anos, segundo o Ibope. “Os jovens nos ajudarão a aperfeiçoar o jogo”, conta a empresária. Os canais escolhidos foram Facebook e Twitter. “Temos seguidores de empresas que nem sequer conhecíamos e que estão interessadas no nosso negócio”, conta.

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Outro ponto-chave para quem vende em redes sociais é a confiança, já que quem compra geralmente paga antes de receber o produto. Para driblar qualquer suspeita, os vendedores desenvolveram diversas estratégias. “Ofereço um contrato de prestação de serviços”, conta Fabiana Denise Lopes, que vende artesanato na web e já tem mais de 500 amigos no perfil de sua loja, a Woodstock Art, no Orkut. “Além disso, sempre pedimos para quem ficou satisfeito deixar um depoimento falando que gostou da loja e que o produto chegou direitinho”, completa. Na hora do pagamento, o vendedor ainda pode usar ferramentas que ajudam a ganhar a confiança do cliente. Uma das mais bem-sucedidas do mercado é o PagSeguro. Quem vende pela internet pode cadastrar sua loja no site, que se encarrega do pagamento e oferece opções como parcelamentos no cartão de crédito, transferência online ou boleto bancário. Em troca, o vendedor paga um pequeno percentual por cada transação.

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Uma das bênçãos oferecidas pelas redes sociais é a possibilidade de trabalhar e monitorar o movimento em qualquer lugar. A consultora de mídias sociais Raquel Camargo, que atualmente trabalha em uma tese de mestrado sobre o Twitter, lembra que foi possível atender seus clientes mesmo durante uma viagem de férias. Ela ainda diz que um quartinho basta para que sua empresa funcione. Mas a solução esconde um desafio. “Preciso ter um comprometimento muito forte para não cair na cama ou ligar a tevê. Minha mãe brinca comigo e diz que eu fico o dia inteiro no Orkut. Mas tenho de trabalhar duro e estudo para conhecer a fundo meu campo de atuação. Não dá para bobear”, afirma. A mineira, que começou a escrever em blogs há dez anos, tem faturado alto com o período eleitoral. “Graças à popularidade do Twitter, vários candidatos querem criar seu perfil e me procuram para saber como usar essa ferramenta”, conta. Com o trabalho, veio o lucro. “Nos últimos três meses, ganhei mais do que durante todo o ano passado”, comemora.
A variedade de plataformas disponível na internet também foi decisiva para o sucesso da empresa de animação Mundo Canibal, criada pelo artista Ricardo Piologo. Num primeiro momento, a situação parecia sair de controle, com qualquer usuário se apropriando da produção da empresa e espalhando-a pelos labirintos da internet. Mas, como um vírus, a fama da Mundo Canibal se alastrou pela rede. O faturamento da empresa acompanhou o crescimento da exposição. “Estamos ricos”, brinca Piologo, sem divulgar dados de seu faturamento.

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Quem também chegou lá com a ajuda das redes sociais foi a estilista Bruna Bariani Aliperti. Dona da grife Pink Lemon, ela explica que o Facebook é o grande responsável pela divulgação da sua marca. “Antes eu vendia só para amigas e conhecidas. Agora muitas pessoas de outras cidades, que eu não conheço, fazem encomendas”, conta. Bruna revela ainda que nunca deixa de responder a dúvidas e aos pedidos, condição fundamental para que o comprador online se sinta bem atendido. A estilista também aposta em um blog e começa a construir seu próprio site na internet, mas conta que não pretende abandonar as redes sociais. “No site, a pessoa tem que ir até você. Já no Facebook, você que vai até as pessoas”, compara.

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Tendo isso em mente, talvez a lição mais importante para quem quer ganhar dinheiro com as redes sociais seja o uso equilibrado das várias ferramentas virtuais. “É importante ter uma página da pessoa ou da empresa na internet porque o conteúdo que você gera nas redes sociais é delas e não seu”, argumenta o especialista Edney Souza.