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O eleitor brasileiro sempre votou com o bolso e o coração. Mais maduro e pragmático do que antes, contudo, é provável que desta vez a razão prevaleça. Pesquisas apontam que, com a economia estabilizada e o desemprego em queda, temas como saúde e segurança passaram ao topo das preocupações do cidadão. Os debates, a opinião de familiares e amigos, assim como notícias jornalísticas e o trabalho dos partidos e seus cabos eleitorais também influenciam na escolha, mas em menor grau. “O voto, mesmo sendo individual, reflete uma complexa combinação de anseios e constatações”, diz o presidente do Datafolha, o sociólogo Mauro Paulino.

Uma pesquisa do Vox Populi aponta ainda que, dentre as qualidades que o eleitor sempre procura num político, a honestidade está em primeiro lugar. Ela é seguida da capacidade em entender os problemas do povo, ter condições de resolver esses problemas e ideias novas para o Brasil. Em último lugar no ranking de características está a experiência administrativa e política, que pelo visto saiu de moda. “Se aquele que não tinha curso superior e ‘nunca tinha sido nada’ deu tão mais certo que um dos mais ilustres intelectuais de sua geração, o problema é o critério”, diz o diretor do instituto, Marcos Coimbra.

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Para o cientista político Ricardo Guedes, presidente do Instituto Sensus, a honestidade que o eleitor exige do candidato tem mais relação com o cumprimento das promessas de campanha do que com a corrupção. “Se um candidato diz que vai construir centenas de escolas e outro promete uma dezena de hospitais, o eleitor quer que ele cumpra isso”, afirma. Dessa forma, é válido que as campanhas mostrem seus candidatos vinculados a realizações passadas e projetem o que é possível fazer no futuro. O presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais (IBPS), cientista político Geraldo Tadeu, diz que há muito mais por trás da decisão do voto do que pretende o maniqueísmo político. “O eleitor busca credibilidade. Ele vota em quem confia”, diz. Talvez por isso as recentes denúncias influenciaram tão pouco no desempenho de Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais.

Acrescenta-se a isso o próprio amadurecimento do eleitor em relação ao processo político. Com a banalização das denúncias, o brasileiro está mais cético e só aceita vínculos diretos e provas contundentes, não apenas ilações eleitoreiras. “Pode-se dizer que, depois do vídeo mostrando o governador José Roberto Arruda recebendo dinheiro, o eleitor não aceita menos do que isso como prova de corrupção”, observa Geraldo Tadeu. Já Ricardo Guedes destaca que na cabeça do eleitor denúncias de última hora podem soar como tentativa desesperada do concorrente. “O eleitor pode achar que estão querendo demonizar seu candidato de propósito”, afirma. Seguindo essa lógica, qualquer denúncia passa pelo crivo de três critérios fundamentais: tem que ser verídica, comprovada publicamente e o eleitor tem de estar disposto a aceitá-la. Além disso, como a história eleitoral recente demonstra, o eleitorado brasileiro parece pouco disposto a aceitar o jogo baixo, especialmente a troca de acusações e agressões.

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É claro que a percepção do eleitor em relação ao candidato muitas vezes é influenciada por uma boa estratégia de comunicação e marketing. Isso se revela de forma mais forte na corrida para a Presidência e para os governos estaduais, em que os candidatos tendem a ficar bem mais expostos. Nesse sentido, candidatos já conhecidos pelo público e com uma imagem consolidada saem na frente. Obviamente, também podem ter problemas quando ostentam um índice alto de rejeição. “Desconstruir uma imagem é muito mais difícil do que construí-la do zero”, afirma a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari. Ela cita a disputa entre Dilma Rousseff e José Serra como modelo. “Enquanto o Serra tinha um alto recall com grande rejeição, a Dilma era uma página em branco para a maioria dos brasileiros. Acabou sendo uma vantagem para ela, especialmente tendo Lula como fiador de sua candidatura”, comenta.

Para Márcia, o eleitor faz um cálculo político-eleitoral. Calibra seu voto combinando interesses pessoais com os da sociedade em que ele está diretamente inserido. Mas isso não vale para todo tipo de eleição, por assim dizer. Os critérios para a escolha de deputados federais tendem a ser bem mais difusos do que os utilizados para cargos do Executivo. Inclusive, essa decisão normalmente se dá às vésperas do dia da votação, depois que o eleitor já definiu seu voto para presidente, governador e senadores. Quais os critérios, por exemplo, que levam um milhão de eleitores a querer votar no comediante Tiririca? “É o voto de protesto, o cacareco. O problema é que o eleitor muitas vezes não sabe que a eleição de uma celebridade dessas acaba puxando outras pessoas que ele nem imagina”, diz Márcia.

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Esses problemas são consequência do próprio processo eleitoral. O pouco tempo na tevê e a cobertura jornalística focada na campanha para presidente e governadores acaba espremendo os candidatos proporcionais. Para chamar a atenção, eles acabam apelando para a irreverência ou até para o ridículo, o que ajuda a fixar sua imagem. Fora isso, o eleitor escolhe seu deputado ou senador baseado na indicação do candidato presidencial ou do governador. E, se ainda assim ele não encontra alguém ideal, acaba depositando seu voto na legenda. Não por afinidade, mas por conveniência. “No Brasil, a identidade partidária é baixíssima. Como na prática, direita e esquerda se misturam, e não há muita diferença nas bandeiras levantadas pelos partidos e por seus candidatos, o eleitor age no automático”, diz Geraldo Tadeu, do IBPS.