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PROMESSAS
Na reta final, Serra abandonou a austeridade
fiscal e disse que vai ampliar o salário mínimo e o Bolsa Família

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Se as pesquisas de intenção de voto para presidente da República forem confirmadas nas urnas no domingo 3, o candidato do PSDB, José Serra, sairá da disputa eleitoral bem menor do que entrou. Em dois meses de campanha – e pouco mais de 40 dias de horário eleitoral gratuito – os institutos de pesquisa indicam que o tucano perdeu mais de 15 milhões de eleitores. Em 30 de junho, um dia antes do início oficial da campanha, Serra aparecia empatado com Dilma Rousseff, com 35% das intenções de voto, segundo o Ibope. Na pesquisa de 17 de setembro, Serra equilibra-se em 25%, enquanto sua concorrente é a preferida por mais de 50% dos eleitores. Para os especialistas em eleições, o bom momento econômico e a alta popularidade do presidente Lula não são suficientes para explicar como os tucanos conseguiram perder quase 190 mil votos por dia, desde o início oficial da corrida pelo Planalto. “O PSDB não se preparou para o pós-Lula”, diz o cientista político Marcos Figueiredo, diretor do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj). “Foram muitos os erros. Um papel vexatório”, afirma o sociólogo Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. “O Serra não soube e não sabe o que falar para o eleitor”, diz.

Reservadamente, os tucanos começaram a juntar os cacos da campanha e já catalogam a sucessão de erros cometidos nessa corrida eleitoral para analisar o porquê de Serra sucumbir novamente diante do PT e de Lula. Para a cúpula da legenda, três problemas graves foram identificados: uma malfadada política de alianças, na qual o PSDB não conseguiu ampliar suas composições; o mau tratamento dispensado aos antigos parceiros, como a atabalhoada escolha do vice ; além, é claro, da própria escolha de Serra como o candidato do partido. Nos últimos dias essa tem sido a principal justificativa ouvida no ninho tucano para explicar o desastre que se avizinha. O cientista político Alberto Carlos Almeida faz coro aos que atribuem à escolha de Serra o começo da derrota. “O erro foi ele ser candidato. Serra faz parte de uma elite política antiga e prepotente.”

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Serra tentou ser oposição, depois afirmou que daria continuidade ao governo Lula e
por fim garantiu que seria a solução para uma crise econômica que só ele vê

Sem uma bandeira definida e despencando nas pesquisas, Serra já na largada da campanha imprimiu a marca do terror. Como a estratégia não funcionou, ele partiu para um ataque esquizofrênico como se tivesse perdido o próprio eixo. Em entrevista na quarta-feira 22, Serra afirmou ser a única “alternativa a esse estado de crise absoluta”. Porém, o tucano esqueceu de explicar que o Brasil não está em crise. Ele foi além. Na mesma entrevista, o tucano declarou que “o País passa por um processo de desindustrialização.” Também aqui, trata-se de uma afirmação sem nexo com a realidade, já que as indústrias estão investindo e crescendo. Mais do que isso, a cada dia novas empresas estão surgindo. “O Serra está fazendo tudo errado”, entende o cientista político Gaudêncio Torquato. “Ele está atirando para tudo que é lado, mas isso não surte efeito”, diz Torquato. Para Marcos Figueiredo, diretor do Iuperj, “os erros de Serra são fruto da falta de compreensão política da população brasileira do pós-Lula”.

Na reta final da corrida eleitoral, ao que tudo indica, Serra abandonou de vez o que ele próprio admitia como sua principal qualidade: ter nervos de aço para enfrentar a campanha. O tucano partiu para um populismo escrachado e equivocado ao prometer um pacote de bondades sociais para tentar conquistar o eleitorado de baixa renda e os aposentados. Ele prometeu, primeiro, um salário mínimo de R$ 600, depois anunciou que iria ampliar em dois milhões o número de beneficiários e instituir a décima terceira parcela do Bolsa Família. Por fim, propagandeou que assim que chegar ao Palácio do Planalto irá reajustar em 10% o salário dos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Quando questionado de onde ele tiraria o dinheiro para viabilizar tantas promessas, uma vez que o orçamento de 2011 já está aprovado, Serra tergiversa e diz que o valor da previdência no Orçamento da União para o próximo ano está subestimado. “Existem muitas gorduras”, avalia o candidato.

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A pergunta que fica é se Serra está simplesmente blefando. Pode ser, já que suas propostas gerariam custo de mais de R$ 50 bilhões aos cofres públicos. Só os gastos com aposentadorias e pensões, atualmente estimados em R$ 278 bilhões, teriam um impacto de mais de R$ 27 bilhões nos cofres da Previdência. “Ele está fazendo um leilão de propostas. Essa é a prova do desespero total, uma campanha sem pé nem cabeça”, diz o cientista político Marcos Figueiredo. Entre os aliados já há quem critique a campanha publicamente. “Cometemos erros primatas e não primários”, explica o ex-senador Guilherme Palmeira (DEM-AL). “Passamos oito anos de governo Lula feito baratas tontas. Ora puxando o saco do governo, ora batendo a esmo”, avalia o ex-senador. À Istoé, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sentenciou: “A campanha de Serra não está sintonizada com o Brasil.”

Diante desse quadro fica uma pergunta: para onde vai Serra, aos 68 anos? Os caciques paulistas do PSDB já vislumbram que o tucano poderá disputar a Prefeitura de São Paulo, em 2012. Enquanto isso, outras lideranças nacionais da legenda, como Aécio Neves, Tasso Jeiressati e Sérgio Guerra começam a articular o que eles vêm chamando de refundação do partido. “O PSDB precisará passar por um processo de renovação”, disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) a menos de duas semanas das eleições. Com os paulistas enfraquecidos, o novo núcleo duro do PSDB planeja um partido mais crítico e aguerrido, capaz de ampliar suas alianças e ficar menos atrelado ao conservadorismo dos Democratas.

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