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"O Nome do Cadeado É: as Circunstâncias e Seus Guardiões" (tríptico composto de O Guardião, O Cadeado, A Guardiã"

Com o falecimento de Wesley Duke Lee, aos 78 anos, o Brasil perde um de seus maiores expoentes nas artes plásticas. Fundador do Grupo REX e um dos protagonistas na introdução do espírito pop nas artes brasileiras nos anos 1960, Duke Lee inovou com uma linguagem própria e inconfundível, de acento critico e bem-humorado. Assim como o artista pop norte-americano Andy Warhol, sua experiência inicial se deu na publicidade. Quando aluno do Colégio Mackenzie, em São Paulo, realizou desenhos e cartazes pelos quais recebeu vários prêmios. Em 1952, se mudou para os EUA, terra de seus avós paternos, missionários da igreja metodista no Brasil. Candidatou-se a várias escolas de arte daquele país, sendo aceito na Parsons School of Arts, em Nova York, onde permaneceu como estudante até 1955. Após esse período, fez o projeto gráfico de um pequeno livro de poemas de sua autoria, “Sopros d´Alma”, publicado pelo American Institute of Graphic Arts Workshop, com o qual foi premiado com o Bruce Rogers Award, prêmio para o trabalho mais criativo de artes gráficas dos EUA.
O artista sempre teve um interesse multidisciplinar entre artes e literatura e, felizmente, testemunhou a explosão da vanguarda nova-iorquina no início dos anos 1960. Antes de voltar ao Brasil, viajou pela Europa e EUA, tendo contato com movimentos artísticos latentes daquele período, como a arte conceitual e a literatura beat. Mas é no retorno a São Paulo que se dá o giro no processo criativo de Duke Lee. Em 1962, ele criou o ambiente “Sala de Visitas”, em colaboração com o fotógrafo Otto Stupakoff, trabalho modelo para suas futuras instalações.

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"A Justa Medida É a Mensagem" (Série Caligrafia, ideograma etc.)

A obra demarcaria o que viria a ser sua “assinatura” artística: uma aproximação entre pintura e escultura com objetos do cotidiano. É nesse período, também, que Wesley é associado a conceitos como “arte ambiental” através de suas instalações/cenários, e ao “realismo mágico” que resgata preceitos surrealistas e dadaístas na arte.
Em 1966, com Nelson Leirner, Geraldo de Barros, José Resende, Carlos Fajardo e Frederico Nasser, o artista fundou o Grupo Rex, um dos grandes homenageados da 29ª Bienal de São Paulo, com uma sala exclusiva dedicada às suas intensas atividades. Duke Lee foi uma espécie de mentor desse movimento relâmpago, que teve seu fim em 1967, e que criticava o mercado de arte existente. Controvertido e irreverente, O Grupo Rex contou com as participações de Donato Ferrari, Nicolas Vlavianos, Giselda Leirner e Aracy Amaral, que saíram do coletivo por considerarem Wesley e Nelson playboys.
Outro pioneirismo do artista foi o seu contato com a produção embrionária em mídia-arte, por ocasião de sua volta aos EUA, em 1969. Como professor da Universidade da Califórnia, trabalhou oito meses no projeto “A Cápsula do Nascimento”, para a mostra Art & Technology, patrocinado pelo Los Angeles County Museum of Art. Dedicou grande esforço, durante a década de 1990, a recuperar e trazer para o Brasil seu trabalho a “Fortaleza de Arkadin”, montado na Bienal de Veneza de 1990. Em 2004, ele participou do filme  “A Última Viagem de Arkadin d’y Saint Amér”, que faz referência à instalação apresentada em Veneza e que hoje está perdida.
Atualmente, o conjunto de sua obra pode ser revisitado em uma grande exposição na Pinakotheke Cultural no Rio de Janeiro (Leia o roteiro clicando aqui). Essa é sua primeira retrospectiva desde 1993, quando CCBB-RJ também realizou uma mostra abrangendo sua produção. É uma oportunidade para se conhecer o seu pioneirismo no campo da performance, representado por um making of fotográfico de uma ação realizada pelo artista nas ruas do centro de São Paulo. Filmado por Otto Stupakoff, o registro em filme desapareceu, mas a sequência fotográfica foi transformada em uma apresentação audiovisual inédita para a exposição.

 

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Luisa Strina lembra Wesley:
 

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A galerista Luisa Strina foi casada com Wesley Duke Lee entre 1974 e 1981, quando também o representou em sua galeria.

 

“Wesley foi um grande artista que fez escola. Mas a obra dele não foi devidamente reconhecida pela cena artística brasileira, especialmente por curadores e pelo mercado. Acho que ele deveria ser mais considerado. Sua postura política atrapalhou a repercussão de seu trabalho. A esquerda dizia que ele era de direita e vice-versa. É uma pena que ele não tenha visto as homenagens que hoje fazem a ele e que não tenha conseguido ver esse começo de reconhecimento”.

 

Dudi Maia Rosa lembra o artista:

“Digo de coração que tive o privilégio de ter o Wesley na minha formação.Tudo foi vivido com, graça, amizade e de uma forma absolutamente genuína. Uma vez o Wesley me perguntou, provavelmente atentando minha insegurança, se eu achava que a arte era uma  coisa "séria" e eu, com certeza afirmei  -SIM!!!. Nunca me esqueço a forma divertida e desmistificadora  que ele me disse que arte não tinha nada de sério. Arte era coisa do espírito!!”
O pintor Dudi Maria Rosa foi amigo e frequentou o ateliê do artista em 1968
 


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