Em uma das mais icônicas cenas de “Lawrence da Arábia”, de 1962, o protagonista homônimo, militar britânico que comandou a revolta árabe contra os turcos em meio à I Guerra Mundial, dá ordem para que os combatentes comecem a atacar um trem inimigo. Em dado momento, Lawrence, vivido pelo ator Peter O´Toole, insiste no cessar-fogo, mas sua tropa não lhe dá ouvidos. Pega, então, uma pistola, atira para o alto e grita: “Parem!”. A cena, assim como todo o filme, é fiel às memórias de T. E. Lawrence narradas por ele no livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”. E é por isso que a veracidade do ocorrido é controversa. Os relatos de Lawrence são historicamente questionados, e há quem julgue-os fantasiosos. A descoberta de um resquício daquele tiro, porém, pode limpar a barra de um dos mais importantes personagens da história moderna e tirar-lhe a pecha de mentiroso.

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ÁLIBI
T. E. Lawrence, que já foi visto como um dos grandes embustes da
história, e a bala encontrada por arqueólogos britânicos

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Um grupo de pesquisadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, seguiu os passos de Lawrence e descobriu uma bala da mesma arma usada por ele no embate contra os turcos na própria região da emboscada, Hallat Ammar, na Arábia Saudita. A alegação é de que apenas o britânico portaria aquele tipo de pistola, uma Colt automática. Com dez anos de trabalho, o projeto “Great Arab Revolt” (Grande Revolta Árabe) encontrou outros indícios que comprovam histórias colocadas em xeque. “O papel dele foi obscurecido pela necessidade de se manter encoberto. Isso facilitou para que os detratores negassem seus feitos”, afirma à ISTOÉ o arqueólogo Neil Faulkner, diretor do projeto. “Ele pode ser considerado o teórico seminal da guerrilha moderna”, diz. “Foi capaz de se tornar um líder como nenhum outro oficial britânico.” Revisionista histórico, Faulkner acaba de lançar o livro “Lawrence of Arabia’s War” (A Guerra de Lawrence da Arábia, sem previsão de lançamento no Brasil), que desconstrói outras verdades sobre os conflitos sauditas na Grande Guerra, entre 1916 e 1918, e exalta o papel de Lawrence no conflito. Uma obra que deverá fazer mais por sua reputação do que as sete estatuetas do Oscar abocanhadas pelo aclamado filme que leva seu nome.

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ARTE
Em ”Lawrence da Arábia”, Peter O´Toole revive um conflito que agora se comprova real

Colaborou Raul Montenegro
Foto: ROBERTO DE BIASI/AE, Ali Baldry