Com um sorriso estampado no rosto, o vice-presidente da República Michel Temer assistia pela televisão a mais dura derrota da presidente Dilma Rousseff na luta contra o impeachment. De seu lado esquerdo, o ex-ministro e articulador político do atual governo, Eliseu Padilha (PMDB-RS). Do outro, o ex-presidente da Câmara e também ex-ministro, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Dois aliados do vice há décadas. Na sala, localizada no subsolo do Palácio do Jaburu, estavam ainda caciques peemedebistas como o senador Romero Jucá (RR), ex-líder dos governos de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, e o ex-vice governador do petista Agnelo Queiroz, Tadeu Filipelli (DF). O clima de inegável alegria e tranquilidade do grupo, revelado em fotos divulgadas pelos presentes, tinha dois motivos. A condução praticamente irreversível de Temer ao comando do Palácio do Planalto e a constatação de que o apoio conquistado superava as expectativas mais otimistas. Com o resultado de 367 a 137 pela admissibilidade do pedido de impeachment, o processo seguiu para o Senado. Lá, a previsão é de que até a segunda semana de maio seja aprovado o afastamento de Dilma, quando terá início o julgamento, com duração de até 180 dias. Será o início do governo Temer.

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Assim, já no dia seguinte à votação, o vice deu início a uma série de reuniões em seu escritório em São Paulo para garantir o apoio dos principais partidos de oposição ao seu governo e dar início à montagem de seu time. Mesmo assim, afirmou que não daria nenhuma declaração e que iria “esperar respeitosamente a decisão no Senado”. Uma das preocupações é a tentativa desenhada por Dilma e pelo Partido dos Trabalhadores de associar a Temer a imagem de golpista. Para revertê-la, o vice tem buscado criar pontes com caciques da oposição e até mesmo com ex-aliados da presidente. Além disso, aposta na atuação de seus principais companheiros de partido, como Padilha, Eduardo Alves, Jucá e do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), para minimizar o impacto da opinião pública sobre o Congresso Nacional. Dois deles devem compor seu novo ministério: Moreira Franco assumiria a Secretaria de Governo e Eliseu Padilha a Casa Civil.

Logo no início da última semana, Temer jantou com o presidente nacional do PSDB e senador, Aécio Neves (MG), que tem feito a ponte entre ele, os tucanos e a oposição mais radical que cobra do vice uma postura mais incisiva no enfrentamento à crise econômica. Também estava presente o ex-presidente do Banco Central do governo de FHC, Armínio Fraga, nome sonhado pelo peemedebista para assumir o Ministério da Fazenda. Fraga não aceitou o posto, mas segue como conselheiro de Temer na busca pelo ministro que terá a missão de tirar o Brasil da crise econômica. Entre os cotados estão Henrique Meirelles, que presidiu o BC no governo Lula, Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper. Para estar à frente do Banco Central o mais citado é o economista-chefe e sócio do Itaú, Ilan Goldfajn.

O nome do senador e ex-governador José Serra (PSDB-SP) chegou a ser cotado para assumir a Fazenda, mas o mais provável hoje é que ele ocupe uma pasta de impacto social, como Educação ou Saúde, na qual ainda acumula algum prestígio por sua atuação na gestão de FHC. Cada vez mais próximo do PMDB, Serra aproveitaria a ida para um desses ministérios como vitrine nacional para sua possível candidatura à Presidência pela legenda, em 2018. O mais provável, aliás, é que até as eleições ele conclua as negociações em curso que o levariam do PSDB para o PMDB.

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PLATEIA
Michel Temer (o quinto, da esq. para a dir.) e seus aliados mais próximos assistem
à votação do impeachment no Palácio do Jaburu: satisfação

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Para a Advocacia-Geral da União, que terá como missão fazer a defesa jurídica do governo neste conturbado momento de transição, um dos nomes que mais agrada a Temer é o do Secretário Estadual da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes. O aliado do governador Geraldo Alckmin é ex-membro do Conselho Nacional de Justiça e é visto como o perfil ideal para fazer a ponte do governo com o Supremo Tribunal Federal (STF). No comando do Ministério da Justiça, Temer almeja alguém de notável reconhecimento entre os pares. Um dos cotados é o advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo por duas gestões e conceituado criminalista. Além dele, também agradam a Temer os ex-ministros do STF Carlos Ayres Britto, que já prefaciou um livro de poesias do peemedebista, e Carlos Velloso. Segundo peemedebistas, o perfil mais ilustre ajudaria a combater as suspeitas junto à opinião pública de que o governo de Temer e do PMDB tentaria, de alguma forma, barrar as investigações da Lava Jato. 


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