Em 2011, quando a Apple ultrapassou a petroleira Exxon Mobil para se tornar a empresa mais valiosa do mundo, a corporação fundada por Steve Jobs deixava para trás gigantes da informática como Microsoft, IBM e Intel para conquistar a confiança dos investidores num setor ainda mais promissor: o da alta tecnologia. No ano seguinte, quando a Apple lançou o iPhone 5, seu valor de mercado atingiu o pico de US$ 705 bilhões – ou US$ 400 bilhões a mais do que o Google. Na semana passada, essa situação se inverteu. Agora sob o nome de Alphabet, empresa liderada pelo executivo Larry Page, o Google foi avaliado pelo mercado financeiro em US$ 560 bilhões e ficou maior que a dona do iPhone, que tem valor de mercado estimado em US$ 535 bilhões.

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CONECTADOS
Larry Page, da Alphabet, e Tim Cook, da Apple (abaixo): apesar de
rivais, um depende do sucesso do outro

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Para alguns analistas, o momento da Apple já passou. Uma pesquisa da consultoria global Euromonitor mostrou que 67% dos consumidores têm no celular o sistema operacional do Google, o Android, enquanto o sistema da Apple, o iOS, está restrito a 22% dos usuários. Os aparelhos que utilizam o Android são, afinal, mais baratos e de várias marcas e formatos. “Os clientes da Apple tendem a ser insensíveis a preços”, diz o relatório da Euromonitor. “Por isso seus mercados principais são os países desenvolvidos.” No ano passado, a América do Norte e a Europa Ocidental foram responsáveis por 79% das vendas de itens da marca e, nos últimos anos, a empresa teve um crescimento significativo na China. Mas a desaceleração econômica de Pequim, aliada ao amadurecimento dos mercados ricos e à valorização do dólar (que encareceu ainda mais seus aparelhos no Exterior), teve um efeito perverso sobre as finanças da companhia.

Parece claro que confiar só no sucesso do iPhone já não é mais suficiente. Foi por isso que a empresa se dedicou recentemente a lançar produtos em outras áreas, como a nova Apple TV e o Apple Music, serviço de streaming de músicas, mas este último veio muito depois que aplicativos como o Spotify já estavam no mercado, um pecado para uma empresa que mudou a forma de se consumir música quando lançou o iTunes, há 15 anos. Do mesmo jeito, o iPhone 6 Plus chegou às prateleiras depois que rivais como a sul-coreana Samsung já tinham aparelhos com telas maiores, os chamados “phablets” (a junção das palavras “phone” e “tablet”), e sua incursão no universo “wearable” (tecnologias “vestíveis”) com o Apple Watch não foi recebida com o entusiasmo de tempos atrás. Com o tempo, o engajamento dos consumidores, sempre muito fiéis à marca e sedentos por novidades, diminuiu. A Alphabet, enquanto isso, viu seu faturamento crescer no mercado de anúncios online, seu negócio principal, mas não deixou de investir em inovações como a criação do protótipo de um carro que não precisa de motorista para se movimentar. Hoje a empresa tem até uma área especializada na pesquisa de inteligência artificial, a Google DeepMind.

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Como tudo no meio digital, por mais rivais que sejam, Apple e Google estão conectados. Num momento em que a navegação mobile, feita a partir de smartphones, cresce em importância, a Apple é fundamental para o sucesso financeiro do Google. Estima-se que mais de 70% das receitas com anúncios de celular venham de aparelhos iOS. No ano passado, contudo, a empresa de Tim Cook atualizou seu sistema operacional para permitir o bloqueio de propagandas e isso pode levar a concorrência entre as duas companhias a outro nível. Enquanto os resultados desse movimento ainda não aparecem nos balanços, a Apple confia na expectativa do lançamento do iPhone 7 para dar um impulso em suas ações. E que os investidores não se enganem: apesar do momento não tão positivo, ela ainda tem um faturamento muito maior do que a Alphabet.

Foto: AP Photo/Eric Risberg;