Durante uma caminhada com a família num campo no norte de Israel, Amit Haklai e seus filhos acharam uma pequena pedra branca encravada no basalto negro da região. Ao pegá-la, ele notou que havia um escaravelho esculpido no objeto e imediatamente desconfiou que poderia se tratar de um artefato de eras remotas. Contatou as autoridades responsáveis e soube que tinha, sem querer, encontrado um selo do Antigo Egito representando o rei Thutmose 3º, do século 15 a.C. Como Haklai, que praticamente tropeçou numa importante descoberta, novos achados do tempo dos faraós estão sendo feitos aos montes na região, que vive um novo despertar na exploração arqueológica. Recentemente, foram reveladas tumbas pertencentes a uma irmã de Tutancâmon, a uma rainha desconhecida, ao Deus da Morte egípcio e até a 8 milhões de múmias caninas, além do selo israelense e de um barco funerário destinado a carregar seu dono para o além. “Definitivamente estamos vivendo um renascimento da arqueologia do Egito”, diz o pesquisador checo Miroslav Barta, responsável por duas das descobertas.

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ANTIGUIDADE
Tumba mítica de Osiris, o deus dos mortos do velho Egito

Um dos achados mais significantes está ligado ao governante mais famoso do Antigo Egito: Tutancâmon, o faraó-menino que morreu aos 19 anos (1323 a.C.). A tumba de sua irmã, Maia, está sendo aberta para o público pela primeira vez desde a sua descoberta, em 1996, pelo arqueólogo francês Alain Zivie. Em dezembro, ele afirmou que o estudo das pictografias presentes nas paredes do sepulcro permite afirmar que Maia foi irmã de Tutancâmon e sua ama-de-leite. “Normalmente quem cuidava dos príncipes eram as mulheres de pessoas proeminentes”, disse Zivie. A múmia de Maia ainda não foi encontrada, mas Zivie considera que ela possa estar escondida em uma câmara secreta no sarcófago do irmão, descoberta no ano passado.

Outros dois achados foram feitos pelo checo Miroslav Barta, referentes a uma época anterior do Egito Antigo. O mais novo revelou um barco de 18 metros numa catacumba perto do Cairo, na quarta-feira 3. O objetivo da embarcação, de 4,5 mil anos, era levar a alma de seu dono para o mundo dos mortos. O outro permite saber mais sobre o contexto daquela era. Foi encontrada a tumba da rainha até então desconhecida Khentkaus 3ª, esposa de Raneferef (2460-2458 a.C.). Agora, Barta anunciou que a pesquisa no local revelou que o país passava na época por diversas perturbações climáticas, econômicas e políticas.

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A religião do Egito Antigo também é um foco de interesse. No leste do país, pesquisadores espanhois e italianos encontraram o que acreditam ser o mítico sepulcro de Osíris, o deus egípcio dos mortos e um dos mais importantes daqueles tempos. O complexo data de 750 a 525 a.C. e apresenta uma grande reprodução da entidade e demônios segurando facas, entre outros elementos. Um estudo britânico também descobriu perto da capital restos mortais de cerca de 8 milhões de cachorros mumificados em homenagem a Anúbis, o deus com cabeça canina relacionado ao processo de preservação de corpos da época.

É animador que tantas descobertas estejam sendo feitas sobre uma das primeiras e mais avançadas civilizações antigas, um período que fascina a humanidade. A era de ouro dos descobrimentos, que acabara com a descoberta da múmia de Tutancâmon, em 1925, pode dar sinais de retorno. “É o resultado do uso massivo de tecnologias de ponta com métodos multidisciplinares”, diz Barta.

Fotos: Divulgação; © Asmaa Waguih/Reuters; ©MOHAMED ABD EL GHANY