Uma das obras mais importantes da literatura brasileira nasceu da reunião de menos de cem cartas e telegramas. Os “despachos do front”, relatos sobre a Revolução de Canudos enviados por Euclydes da Cunha à redação de “O Estado de S.Paulo” em 1897 se transformariam “Os Sertões”. E agora a editora Unesp acaba de receber de dois dos principais pesquisadores da obra euclidiana um volume com cerca de mil páginas, que podem, de acordo com a empresa, suprimir lacunas biográficas do escritor e ampliar a compreensão de sua prosa.

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O HOMEM
A editora Unesp prepara o lançamento da obra completa
do escritor, com a inserção de novos textos

Ainda este ano, em que o engenheiro, militar e depois jornalista completaria 150 anos de nascimento, as memórias de sua viúva, Anna Ribeiro (1875-1951), serão desenterradas. Sua neta, Anna Sharp, pretende colocar nas ruas em breve um romance que prepara a partir das memórias da avó (leia ao lado).

A editora Unesp começa agora o processo de edição do volume de anotações, cartas, relatórios e até textos científicos, receiodos das mãos dos pesquisadores Leopoldo M. Bernucci e Francisco FootHardman. “Existem pontos obscuros de passagens da vida de Euclydes que agora poderão ser esclarecidos”, diz o professor Jézio Hernani Gutierre, diretor-presidente da editora Unesp.

A editora ainda não conseguiu dimensionar a quantidade de livros, coleções ou adendos a edições já conhecidas que têm em mãos. “É possível que consigamos completar a passagem amazônica, da qual se tem muito em aberto”, diz Gutierre. “Com este material, estamos diante da missão de até o próximo ano completar a publicação completa de Euclydes da Cunha.”

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A LUTA
O arraial de Canudos durante o conflito: reportagem desmontou
a versão militar de levante monarquista

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Não se deve alimentar a ilusão de se estar diante de um outro épico. “Os Sertões” são mais que a reunião de cartas e telegramas. Foram necessários quatro anos de trabalho intenso para estruturar o livro que partiu da revelação da estrutura e a queda de Antônio Conselheiro e seus seguidores, a despeito da versão oficial que tratava a resistência sertaneja como um movimento monarquista. Foram muitas as tentativas do exército em desmentir o enviado pelo jornal.

Apesar de toda a contestação e da missão incompleta – o jornalista teve de deixar Canudos antes do fim dos conflitos, por conta de uma febre –, o livro foi reconhecido como obra de primeira grandeza e levou o escritor à Academia Brasileira de Letras em 1903, um ano depois do lançamento. A missão seguinte, a expedição para a Amazônia, também foi atropelada por um problema de saúde, dessa vez meningite. Na volta para casa, Cunha descobriu o romance entre sua mulher e um oficial do exército mais jovem, Dilermando de Assis, avô de Anna Sharp. O escritor tentou matar o amante da mulher, que era campeão de tiro e se defendeu matando o marido traído, no dia 15 de agosto de 1909.

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Foto: Leonardo Aversa/Ag. O Globo 


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