O chefão da F-1 diz que o País é como uma big company mal gerida, que precisa de um líder como Putin, e acredita que talvez precise haver uma grande quebradeira para todo o sistema mudar

O GP Brasil de Fórmula 1 ainda não havia terminado e Bernie Ecclestone já se despedia de todos na sala da FOM (Formula One Management), de onde assistia a corrida, em Interlagos. “T-h-a-n-k y-o-u”, sussurrou gentilmente ao garçon que os servia, com um aperto de mão, antes de partir. “Agora ele voa para Londres e às 9h do dia seguinte já está em seu escritório”, disse sua mulher, a advogada brasileira Fabiana Ecclestone, 39 anos, que ficou mais alguns dias no Brasil. Bernie já havia apostado que a vitória seria mesmo de Nico Rosberg, embora o já tricampeão Luis Hamilton estivesse com sede de vencer. “Com o campeonato definido, Nico vai se sentir mais livre para a corrida”, cravara. No seu QG, o chefão da Fórmula 1 recebeu amigos como o jogador Alexandre Pato, a atriz Fiorella Mateis e Roberto Marinho Neto. Sempre reservado, Bernie circulava animado e mais leve. Diferentemente do ano passado, quando ainda parecia abatido após dar por encerrada a batalha judicial na Alemanha, por acusações de suborno. O Tribunal em Munique o absolveu após um acordo de US$ 100 milhões.

 

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Mr Ecclestone
Em sua sala em Interlagos: ‘Vocês já tiveram os melhores pilotos. Hoje, não mais’.

 

Para os brasileiros, contudo, este último GP Brasil foi um dos piores: Felipe Massa desclassificado por irregularidades com os pneus e a audiência em queda na transmissão da Rede Globo. Antes da prova, o minuto de silêncio às vítimas dos ataques em Paris, deu o tom do domingo. Imediatamente depois, o público nas arquibancadas xingou a presidente Dilma Rousseff, mesmo sem a sua presença. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também preferiu não ir à prova este ano. Por essas e outras percepções, o polêmico big boss dos circuitos da F-1, diagnosticou com rapidez a temperatura do momento. Além disso, Bernie tem um motivo a mais para saber de tudo por aqui. Nos últimos cinco anos, o vínculo com o País aumentou por causa de sua jovem esposa.

 

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‘O que aconteceu em Paris vai acontecer na Europa de novo, com certeza.
Infelizmente está acontecendo no mundo inteiro. O mundo está
mudando e teremos que viver com isso (o terror)

Com os negócios em sua fazenda de café em Amparo (SP), agora ele acompanha mais de perto os problemas econômicos brasileiros. E, talvez, sinta-se mais livre para palpitar sobre a crise. O almoço é servido. A maioria dos amigos escolhe ravióli de chèvre com molho de tomates ao sugo e manjericão. Vidrado na tevê sem som (sem narracão de Galvão Bueno) e no monitor que controla o tempo dos pilotos, Bernie prefere sanduíche de queijo. E abre uma latinha de guaraná “do Brasil”. Aos 85 anos, é veloz como um piloto para contar como tem andado: “busy, busy, busy”. Durante a prova, Bernie Ecclestone falou a ISTOÉ. 

 

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‘Vender a F-1 é uma possibilidade para o ano que vem. Mas o problema da
audiência é que a Globo poderia fazer um trabalho muito melhor ao mostrar
a F-1 para o público. Não dá para mostrar só o início e o fim da
corrida, como um monte de nada no meio. Isso é chato’

 

 

ISTOÉ

 O sr. usou uma faixa de luto no braço e liderou o minuto de silêncio em homenagem às vítimas de Paris no grid de largada no GP Brasil, em Interlagos. Como entende os ataques terroristas na França?

Bernie Ecclestone

 O que aconteceu infelizmente está acontecendo no mundo inteiro. O que aconteceu em Paris vai acontecer na Europa de novo com certeza. O mundo está mudando e temos que viver com isso (o terror).


ISTOÉ

 Acredita que viveremos tempos de guerra por muito tempo?

Bernie Ecclestone

 Americanos e europeus esperaram muito para controlar as coisas. Eu não acredito em boas ou más pessoas. Acho que os ataques são muito menos por questão de religião. Isso (o terrorismo) está sendo usado mais para um lado ‘comercial’ dos grupos terroristas.

ISTOÉ

 Como vê a situação do Brasil hoje, com tantas denúncias de corrupção?

Bernie Ecclestone

 Não vi tantas mudanças no Brasil nos últimos anos. É uma coisa engraçada. Eu venho aqui há décadas e acho que é sempre a mesma coisa, não vejo muito coisa mudando.  Sobre o impeachment (da presidente Dilma Roussef), não tenho ideia se é melhor ou pior que aconteça.Vocês precisam de um líder como Putin.

ISTOÉ

 Por que o sr. diz que um líder como o presidente russo Vladimir Putin seria ideal para o Brasil?

Bernie Ecclestone

 Pessoas como Putin fazem as coisas. O Brasil precisa de um líder assim.Porque ele resolve as coisas. Ele diz que vai fazer algo e realmente faz. É disso que vocês precisam aqui.


ISTOÉ

 Por que Putin e não alguém como Obama, por exemplo?

Bernie Ecclestone

 Vamos ver o que os norte-americanos farão na próxima eleição. São estilos diferentes. Com certeza Putin é muito melhor do que Obama.

ISTOÉ

 Por quê?

Bernie Ecclestone

 Porque ele resolve as coisas. Vejo Obama e mais um monte de gente falando sobre o que vão fazer, mas não fazem nada. Nem mesmo começam. A única pessoa que consegue resolver isso é Putin. Porque ele é muito corajoso e inteligente. Aqui, vocês talvez precisem não de um político, mas de um revolucionário. Alguém em quem as pessoas acreditem, que tenha apoio do povo e que possa liderar.

ISTOÉ

 Qual a sua opinião sobre o ex-presidente Lula?

Bernie Ecclestone

 Ela parecia bom. Conseguia resolver as coisas, mas decaiu. Eu não o conheço.

ISTOÉ

 E sobre a presidente Dilma?

Bernie Ecclestone

 Nunca a encontrei. Não tenho opinião sobre ela. Ela está no meio de um grande desafio com o País. E o País está numa má situação.

ISTOÉ

 Qual é a imagem do Brasil hoje para os estrangeiros?

Bernie Ecclestone

 O Brasil não é levado à sério. Eu não acho que as pessoas (no exterior) acham o Brasil sério. É uma economia massiva e tudo aqui pode ser bom se for conduzido apropriadamente. Gosto do modo de vida dos brasileiros. Mas penso que deveriam parar de reclamar e tentar fazer algo para melhorar o País. O Brasil é como se fosse uma big company (grande companhia), mas não é administrado muito bem.

ISTOÉ

 Qual é a sua opinião sobre a crise econômica aqui? O que o sr. diria aos empresários brasileiros?

Bernie Ecclestone

 As pessoas estão quebradas e não podem fazer muito. O povo deve votar por um líder. Talvez todo sistema tenha que mudar. Talvez, para isso, tenha que acontecer uma grande quebradeira, um grande demolição. O Brasil é um país com um incrível futuro, mas venho aqui há mais de 40 anos e continua sendo um país do futuro. Ainda não vimos o futuro.

ISTOÉ

 O sr. pensa em investir mais no Brasil agora? Como vão os investimentos na fazenda de café no Estado de São Paulo?

Bernie Ecclestone

 Eu estou feliz em investir aqui. Invisto porque eu acho que as coisas, em algum momento no mais tardar, poderão ficar melhor. 

ISTOÉ

 O sr. é otimista?

Bernie Ecclestone

 Não. Eu sou realista.

ISTOÉ

 O sr. acredita em Deus?

Bernie Ecclestone

 Não, particularmente não acredito. Nunca encontrei nada que me fizesse acreditar. No que eu acredito? Não é questão de acreditar. Eu tenho respeito e grande admiração pelas coisas que as pessoas fazem.

ISTOÉ

 A Fórmula 1 será vendida?

Bernie Ecclestone

 Talvez.

ISTOÉ

 Por que vender?

Bernie Ecclestone

 Porque o principal acionista (a CVC Capital Partners), na forma como o negócio está estruturado, precisa vender. Ou seja, vender é uma possibilidade. Vamos ver o que vai acontecer no ano que vem. O pessoal ainda vai decidir. Se os novos compradores aparecerem e não me quiserem mais na Fórmula 1, eu terei que sair.

ISTOÉ

 Quem são os potenciais compradores? É dificil imaginar Bernie Ecclestone fora da F-1?

Bernie Ecclestone

 Não é dificil. Não posso comentar sobre potenciais compradores.

ISTOÉ

 Qual é o futuro da F-1?

Bernie Ecclestone

 Creio que o mesmo de cinco ou seis anos atrás. Vai continuar.

ISTOÉ

 Vinte anos depois da morte de Ayrton Senna, o sr. acha que os  brasileiros ainda gostam de F-1?A Globo teve a pior audiência este ano. No mundo inteiro, a audiência está em queda.

Bernie Ecclestone

 Na minha opinião, a emissora no Brasil, que é a Globo, poderia fazer um trabalho muito melhor ao mostrar a F-1 para o público. Não dá para mostrar só o início e o fim da corrida, como um monte de nada no meio. Isso pode ser chato. É preciso ir para os bastidores. Mostrar mais. A audiência em queda no mundo? Sim, mas na TV aberta. Mas com as mídias sociais, você assiste às corridas de outras maneiras. Com isso, a audiência é ainda maior que antes. 

ISTOÉ – Precisamos de novos campeões?
Ecclestone – Vocês sempre tiveram os melhores pilotos. E agora não têm mais. Não é mais assim.
ISTOÉ

 O que diria sobre os nossos atuais pilotos brasileiros?

Bernie Ecclestone

 O Felipe Nars não tem a melhor das equipes nem o melhor carro, em larga margem. Por isso, ele está com problemas. Sobre o Felipe Massa, não entendo por que ele não foi bem neste GP (Massa ainda não havia sido desclassificado, após a prova).

ISTOÉ

 E sobre Louis Hamilton?

Bernie Ecclestone

 É bom ter Hamilton como tricampeão. Ele é muito aberto e envolvido com todos os tipos de coisas. Não é fechado como Sebastian Vettel. Isso é bom.

ISTOÉ

 E como é ser casado com uma mulher muito mais jovem?

Bernie Ecclestone

 Eu não sei dizer, porque eu nunca fui casado com uma mulher mais velha para comparar. Vou ter que casar com alguém da minha idade para descobrir como é. (a advogada paulistana Fabiana Ecclestone, brinca de fazer cara feia e diz: “Não”).

ISTOÉ

 Pensa em viver no Brasil?

Bernie Ecclestone

 Pretendo vir ao Brasil duas vezes por ano. Sou feliz na Inglaterra, meu país. Minha mulher, que é brasileira, é feliz lá.

ISTOÉ

 Se a F-1 for vendida e o sr. sair do negócio, qual é a expectativa para novas atividades?

Bernie Ecclestone

 Não tenho planos. O negócio da fazenda de café no Brasil pode ser interessante. Estamos modernizando o modo de trabalhar. Investimos em equipamentos e já oferecemos um café de qualidade bem melhor. Estou gostando da experiência. Fabiana tem trabalhado para tudo funcionar. Ela é quem está à frente do negócio. 


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