A segunda-feira 24 começou como um pesadelo para os investidores que acompanhavam o desempenho da bolsa de valores de Xangai, a principal da China. Desde junho, as perdas do mercado de ações chinês chegam a 38%. Naquele dia, não foi diferente. A bolsa caiu 8,5%, no pior resultado em oito anos, e o nervosismo se espalhou entre os investidores da Ásia aos outros continentes. Nos Estados Unidos, as quedas em Wall Street ultrapassaram os 3%, assim como no Brasil. As bolsas europeias não tinham um dia tão difícil desde o início da crise financeira, em novembro de 2008. O mesmo aconteceu com os preços de matérias-primas negociadas no mercado internacional, como o petróleo e o minério de ferro. Diante dos tropeços, cada vez mais frequentes, do mercado acionário chinês, economistas do mundo inteiro têm se questionado se esses percalços não são um sinal de que a desaceleração da segunda maior economia global tem sido mais intensa do que o esperado. E esse seria um pesadelo ainda maior, considerando que, só no ano passado, Pequim respondeu por quase 40% do crescimento global.

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SEGUNDA NEGRA
Investidores se desesperam com queda de 8,5% nas ações da bolsa de Xangai

O discurso oficial é de que o país tem avançado a uma taxa anual de 7%, menos do que os 7,4% de 2014, mas ainda assim muito acima dos 2,5% previstos para a economia americana em 2015 e a retração de 1,5% para o Brasil, segundo o Fundo Monetário Internacional. Na prática, porém, o governo chinês tem feito intervenções que mostram que a saúde da economia pode não estar tão boa. Primeiro veio a desvalorização da moeda. Na semana passada, o banco central reduziu as taxas de juros pela quinta vez desde novembro e aumentou a quantidade de dinheiro disponível para o crédito, na expectativa de que isso estimularia o crescimento num momento sombrio, em que as exportações começaram a recuar. Para completar, o nível de endividamento disparou e agora corresponde a 250% do Produto Interno Bruto. “Por um tempo, Pequim não será mais capaz de investir no mercado imobiliário e na infraestrutura, como fez no passado”, disse à ISTOÉ Dwight Perkins, professor de Política Econômica e estudioso de China na Universidade de Harvard. “O mundo vai ter que se acostumar com uma China mais focada nos serviços e no consumo.” Nesses setores, porém, também há preocupação. No segundo trimestre, as vendas de smartphones caíram pela primeira vez em seis anos.

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Muitos chineses não compartilham do pessimismo. Um editorial da agência de notícias estatal Xinhua classificou a ansiedade em torno da China como “desnecessária”. “Apesar do fraco desempenho da indústria e do mercado imobiliário, o rápido crescimento do setor de serviços tem se tornado o novo destaque da economia chinesa”, diz. “Exagerar os problemas pode trazer mais incertezas à economia mundial, perturbar os mercados financeiros e, eventualmente, diminuir o ritmo de recuperação para todos os países.” Para Gilmar Masiero, coordenador do Programa de Estudos Asiáticos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, as avaliações de que o governo teria perdido o controle da economia são infundadas. “São três décadas e meia de progresso acelerado”, afirma. “A China é uma economia socialista de mercado, na qual o Estado é o principal investidor e não vai deixar seus bancos quebrarem.” Enquanto os agentes econômicos não se acalmam, começam a surgir as primeiras notícias do impacto político da crise que se aproxima. Responsável pelo plano que tentou impulsionar o mercado de ações em julho, com forte intervenção do governo, o primeiro-ministro, Li Keqiang, tenta se equilibrar no cargo. Para os analistas políticos, se essa crise tiver um rosto será o do atrapalhado Keqiang.

Foto: AP Photo/Joshua Paul 

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