Se a maioria dos jovens não descola os olhos da tela do celular, a direção do Museu de Arte Blanton, na Universidade do Texas, nos EUA, encontrou um método capaz de fazer com que essa parcela da juventude passe a conhecer as obras clássicas das artes plásticas sem que precise desviar a atenção do mundo digital que tanto a apaixona. Em outras palavras: por que enfrentar tais jovens se é possível aliar-se a eles e transmitir-lhes cultura na linguagem e no código que mais os atiça no campo cognitivo? A dona da ideia chama-se Alie Cline, tem 24 anos e adora redes sociais – claro, nada melhor que uma “igual” para falar com sucesso a seus “iguais”. Ela disse “sim”, sem titubear, quando foi convidada a ser a primeira funcionária contratada pelo museu para cuidar de sua imagem e de sua programação na internet. Nesse momento, na cabeça de Alie já se desenhara a vontade de enviar fotos das obras aos celulares, todas elas com frases engraçadas sobrepostas e dotadas da característica de se autodestruírem após um dia. Alie se vale para isso do aplicativo de celular Snapchat. “Como os snaps desaparecem logo, podemos ser mais alegres e utilizar na rede referências à cultura pop”, diz ela. “O importante é que o público jovem se interesse e compreenda a arte”.

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SEM PURISMO
Obras clássicas se unem ao mundo digital: boa cultura híbrida

Esse mesmo caminho de se aproveitar de uma ferramenta que não sai das mãos da juventude, justamente para levá-la a se interessar pelo nada tecnológico mundo dos quadros, também está sendo trilhado pelo Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (LACMA). Seja por meio do aplicativo Snapchat, seja pelo Instagram, o museu espalha seus memes com as obras que compõem o acervo. Na verdade, o que está em jogo são dois mundos culturais completamente distintos, mas que não têm necessariamente de se chocarem – ao contrário, podem até se complementarem se partirmos do princípio que ambos estão na realidade sem hierarquia de “o melhor” ou “o pior”. Foi assim que a direção do Museu Blanton radicalizou, e com sucesso: por meio da redes sociais pediu para que os internautas lhe enviassem fotos, posando eles como os personagens de quadros. Foram tantas as imagens, que a brincadeira se tornou concurso que deve agora se repetir anualmente. Mais: os museus em todo o mundo se queixam do baixo número de visitantes. Nesses tempos de cultura digital, o certo é que eles só vão lotar se também se conectarem, valendo-se das novas ferramentas. E isso é possível sem que signifique um ultraje aos clássicos.