No que dependesse dos políticos brasileiros, o mês de agosto poderia ser eliminado do calendário nacional. Ao longo da história, nos 31 dias do oitavo mês do ano, o País viveu grandes infortúnios na seara política. Em 24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no coração. Sete anos e um dia depois, foi a vez de o presidente Jânio Quadros renunciar ao cargo. Em 1976, o dia 9 de agosto ficou marcado pelo trágico acidente de carro, na rodovia Presidente Dutra, que ceifou a vida do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Os desgostos de agosto não cessaram com redemocratização do País. Em 16 de agosto de 1992, os caras-pintadas foram às ruas pedir o impeachment do presidente Fernando Collor, numa mobilização decisiva para sua saída do poder. E, no dia 13 de agosto do ano passado, o ex-governador de Pernambuco e então presidenciável Eduardo Campos morreu aos 49 anos, vítima de um acidente aéreo em Santos (SP).

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MÊS DO DESGOSTO
Pode estar em jogo, nas próximas semanas, o mandato de Dilma Rousseff

Este ano, o mês do mau agouro pode complicar ainda mais a situação da presidente Dilma Rousseff. Às voltas com uma crise político-econômica interminável, Dilma enfrentará uma quadra decisiva para sua permanência na Presidência. Na próxima semana, ela terá de encarar um Congresso conflagrado. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sedento de vingança após ter sido alvejado pelas investigações da Lava Jato, marcou para 6 de agosto a instalação da CPI do BNDES e ofereceu amplo apoio à criação da CPI dos Fundos de Pensão. Ambas as investigações tiram o sono do governo. Na volta do recesso, Cunha vai analisar, ainda, 11 pedidos de impeachment que mandou desarquivar. Entre eles, o documento assinado por Carla Zambelli, fundadora e Porta Voz do Movimento Nas Ruas. O pedido de afastamento redigido pelo movimento se apoiará nas irregularidades da prestação de contas do governo, em análise no TCU. As armadilhas contra o governo passam por uma sabotagem ao pacote de ajuste fiscal. Entre os projetos estão a correção do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e modificações no projeto que reduz as desonerações na folha de pagamento.

Antes da segunda quinzena, o TCU vai julgar as contas do governo de 2014. O tribunal já deu todos os sinais de que pretende rejeitar os argumentos do Planalto sobre as manobras fiscais utilizadas no exercício anterior para maquiar o mau desempenho da economia. Na terça-feira 28, Eduardo Cunha anunciou que vai tirar da frente a lista de projetos pendentes e votar as contas dos governos de 1992, 2002, 2006 e 2008 que ainda não foram analisadas. O objetivo é limpar a pauta para a apreciação das contas de Dilma de 2014. Caso o TCU as reprove, o destino é o Congresso. Para piorar o quadro para Dilma, a análise das contas públicas e a instalação de CPIs coincidirão com a grande manifestação agendada para o dia 16 de agosto cujo mote é o impeachment da presidente, mesma data em que estudantes foram às ruas pedir a saída de Collor em 1992. O protesto promete ser o maior desde a reeleição da petista.

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A previsão de dias turbulentos fez Dilma mobilizar sua tropa de choque. Na segunda-feira 27, ela reuniu 12 ministros e o vice-presidente Michel Temer para discutir estratégia de diálogo direto com o Congresso. A intenção do Planalto é evitar intermediários nas conversas com a base aliada para reduzir a influência de Cunha enquanto o presidente da Câmara estiver em clima de guerra com o governo. “Os parlamentares são capazes de verificar o que pode prejudicar e ajudar o País”, afirmou Michel Temer. Dentro dessa estratégia para amansar o Congresso, Dilma liberou R$ 1 bilhão em emendas e distribuiu mais de 500 cargos nos Estados. Na quinta-feira 30, a presidente reuniu os governadores no Planalto. Era a última cartada de Dilma na tentativa de escapar ilesa pelas próximas semanas. Mas seus objetivos não foram alcançados. Além de não conseguir o apoio dos chefes dos Executivos estaduais para barrar possíveis pedidos de impeachment, Dilma conseguiu desagradá-los ainda mais ao falar o que eles não queriam ouvir. Em seu pronunciamento, disse que a situação vivida pelo País era responsabilidade de todos. Ou seja, tentou associá-los à crise criada e agravada pelo governo de Dilma. O único consenso do encontro foi o apoio do governadores às medidas do ajuste fiscal, que ainda precisam passar pelo Congresso. Muito pouco para o que almejava Dilma.

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Fotos: Alan Marques/Folhapress; Agência ISTOÉ; Antonio Lucio/AE 


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