O trailer parece apresentar um longa metragem. A qualidade da fotografia, as cenas de tiroteio e o anúncio, nos créditos, da dupla Wagner Moura e José Padilha – que fez sucesso com o filme “Tropa de Elite” – transportam o espectador para a tela grande. Mas a caprichada produção não é cinema e, sim, seriado de TV. A bem-sucedida parceria volta em “Narcos”, que estreia dia 28 de agosto no Netflix, e conta a história do narcotraficante colombiano Pablo Escobar (leia quadro). É, também, o principal expoente de uma geração de séries de alto nível, a ponto de disputar com o mercado internacional – lembrando que o Netflix é um serviço de transmissão de vídeo cujo cardápio está à disposição em vários países. A produção surge no rastro de outras que conquistam o público, como “Conselho Tutelar”, da Record, e “Magnífica 70”, da HBO, ainda em temporadas, ou o grande sucesso Sessão de Terapia, do GNT (já encerrado), e coloca o Brasil em outro patamar no que diz respeito a séries de TV.

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“O Zé Padilha quer entender uma realidade e explicar para as pessoas, balanceando o lado épico com a ação e, ao mesmo tempo, revelar uma realidade política e social”, disse Moura na entrevista de lançamento da série. Nos dez episódios da primeira temporada, “Narcos” vai contar o apogeu de Escobar, traficante internacional de cocaína que já controlou 80% da droga em todo o mundo, até hoje considerado o mais rico da história. O protagonista será interpretado por Moura, que teve de aprender espanhol e engordar 20 quilos para o papel.

No canal por assinatura HBO, “Magnífica 70”, que retrata os bastidores da produção cinematográfica da Boca do Lixo (antigo polo da indústria cinematográfica, em São Paulo) nos anos da ditadura militar, tem recebido elogios e dividiu a faixa horária com nada menos que o fenômeno mundial “Game Of Thrones”, no mesmo canal. Autor do roteiro original, o jornalista Toni Marques disse que jamais tinha pensado em desdobrar a história em seriado de TV porque, até então, “no Brasil isso era um tiro no escuro.” Marques aponta o crescimento das televisões por assinatura como o principal motivo para as novas séries nacionais. “As TVs encontraram, recentemente, condições de bancar produções de peso que fogem ao comum do mercado, o humor, que costuma ser mais barato.” O canal começou a investir em séries em 2005, com “Mandrake”, estrelada por Marcos Palmeira. Em 2015, além de “Magnífica 70”, duas séries brasileiras entram em cena, ambas em outubro: a segunda temporada de “Psi S2”, na qual o psiquiatra Carlo Antonini (Emílio de Mello) trabalha com casos de violência doméstica e outros abusos vividos por mulheres, e “O Hipnotizador”, que estreia no dia 23 de agosto e conta a história de Arenas (Leonardo Sbaraglia), que entra no inconsciente de seus pacientes através da hipnose.

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ESTREIA
Atmosfera cinematográfica na série “Narcos”, estrelada por Wagner Moura,
que teve de engordar vinte quilos para interpretar o narcotraficante
Pablo Escobar. Abaixo, o diretor José Padilha

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Segundo Maurício Mota, o primeiro brasileiro a produzir uma série de TV nos EUA (“East Los High”, 2013), a mudança no panorama se deve “à demanda dos canais em função do aumento da audiência na rede a cabo, da lei da TV paga e pela mudança do gosto narrativo do brasileiro. As pessoas estão gostando de formatos mais curtos que novelas, com tramas sofisticadas.” O canal GNT também está investindo. Após o sucesso de “Sessão de Terapia”, dirigida por Selton Mello, que teve sua última temporada no ano passado, contabilizará, no fim deste ano, cinco produções nacionais, três delas inéditas. O carro-forte é “Espinosa”, adaptação do romance policial “Uma Janela em Copacabana”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza, que estreia em outubro. O ator Domingos Montagner interpretará o detetive do título, que busca os culpados por mortes de policiais no Rio de Janeiro.

Mas não apenas de canais pagos acordaram para o filão. “Conselho Tutelar”, uma coprodução da Rede Record com a Visom, em sua primeira temporada fez a audiência da emissora triplicar no fim de 2014, mesmo em um horário nada grato, às 23h30. A narrativa mostra o cotidiano dos conselheiros Sereno (Roberto Bomtempo) e César (Paulo Vilela), a partir de casos reais de maus tratos e abandono de crianças. A segunda temporada começou a ser gravada neste mês e tem previsão de estreia no último trimestre do ano. A terceira já tem contrato assinado, segundo Carlos de Andrade, dono da produtora Visom. “Procuramos a TV Record, e não um canal a cabo, porque eu sabia que a narrativa se alinhava com o perfil. Apresentamos o projeto em 2013 e a resposta foi imediata.” Andrade comemora o sucesso e afirma que ainda existem muitas histórias a serem contadas e vários produtores brasileiros interessados no formato. “Tenho visto um movimento gigantesco de pessoas interessadas em criar séries para televisão. Produtores independentes estão promovendo escolas de séries para capacitar autores brasileiros a criar neste formato. É apenas o primeiro passo.”

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