Na última semana, a Operação Lava Jato chegou ao topo da hierarquia do Petrolão. Não há mais nenhum grande executivo de empreiteira do esquema de corrupção da Petrobras que não tenha passado pelas carceragens da Polícia Federal em Curitiba. Os acusados de integrar o núcleo político do esquema, porém, continuam intactos. Apenas ex-parlamentares cumprem prisão preventiva em decorrência das investigações. Os envolvidos no escândalo com mandatos parlamentares ou executivos permanecem protegidos por uma conveniente morosidade do Judiciário. No Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, os processos não andam. Quase quatro meses se passaram desde que o ministro Teori Zavascki autorizou a abertura de inquérito para investigar 22 deputados e 12 senadores de um total de 47 políticos alvos da apuração. De março até agora, pouca coisa aconteceu. Algumas diligências foram realizadas e depoimentos colhidos, mas PF e MPF não produziram sequer uma nova prova consistente, dando margem ao discurso de perseguição política usado por caciques do PT, do PMDB, PP e outros partidos aliados.

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NOVO PRAZO
Na semana passada, o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, pediu prorrogação do prazo da investigação

Na semana passada, a Procuradoria Geral da República solicitou ao STF outra vez a prorrogação do prazo de investigação das autoridades envolvidas no Petrolão. “As apurações deram uma arrefecida”, resume um dos investigadores da força-tarefa da Lava Jato. Parte da demora é atribuída a manobras de agenda dos parlamentares investigados, criando dificuldades para que a PF pudesse ouvir todos os depoimentos até o prazo de 29 de junho. Não bastasse isso, os políticos que apresentaram explicações à PF fizeram relatos burocráticos, obrigando os investigadores a agendarem uma nova rodada de oitivas com os delatores para obter mais detalhes que possam incriminar os acusados. Tudo isso tem criado um clima de “já ganhou” entre os políticos. Na sociedade, porém, o clima é de já perdeu. A certeza da impunidade é tamanha que o ex-deputado Carlos Magno (PP-RO), citado pelo doleiro Alberto Yousseff como um dos beneficiários da distribuição de propina do esquema, disse à força-tarefa que “perdeu parte da memória”, eximindo-se de qualquer responsabilidade no caso. O ex-parlamentar alegou que o lapso foi causado por complicações decorrentes de uma hepatite C.

Fontes ligadas à investigação disseram à ISTOÉ que o único inquérito com chances de avançar no Supremo é o que envolve o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), inimigo do Palácio do Planalto e do procurador-geral, Rodrigo Janot. A vontade política, porém, não garante agilidade. Na quarta-feira 25, o MPF pediu mais 60 dias para concluir a apuração contra o peemedebista. Cunha, segundo relato de Youssef, é acusado de chantagear as empresas Toyo e Mitsui, convocando-as a audiências públicas caso não liberassem comissões que teriam sido acertadas com o político em contratos com a Petrobras.

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O principal entrave nas investigações do núcleo político é demonstrar que parte da propina era paga por meio do caixa oficial de campanha. Sem interceptações telefônicas, os investigadores têm dificuldade de materializar as acusações dos delatores contra os parlamentares. O vai-e-vem de políticos na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, foi anexado aos autos como indício de tráfico de influência. Os registros da estatal mostram que 21 dos parlamentares investigados estiveram 118 vezes na sede da estatal no período de 2007 a 2012. Mesmo assim, são elementos ainda frágeis para levar os inquéritos adiante. Quando a lista dos políticos envolvidos com a Lava Jato foi apresentada, no início de março, o Congresso foi devastado pela notícia e as bancadas partidárias montaram uma espécie de quarentena para resguardar os investigados de aparições públicas e compromissos com o partido. Agora, os envolvidos no Petrolão transitam sem preocupações. A paralisia do Conselho de Ética da Câmara e do Senado também é um reflexo da morosidade da tramitação dos inquéritos na justiça. Desde março, quando se reuniu para dar posse ao novo colegiado, o Conselho não se reuniu sequer uma vez.

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Foto: Ed Ferreira/Folhapress