O cerco se fechou sobre o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Documentos obtidos pela Polícia Federal nas investigações da Operação Acrônimo mostram que o petista, quando ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, teve despesas pessoais pagas pelo empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto. Conhecido como Bené, o empresário é acusado de chefiar um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que movimentou R$ 500 milhões. Amigo de Pimentel, Bené emprestou seu avião e pagou a hospedagem do petista e de sua mulher Carolina Oliveira num resort de luxo na Bahia, em novembro de 2013. Os documentos mostram que o fim-de-semana custou ao empresário pouco mais de R$ 12 mil. Episódios semelhantes levaram ao impeachment de Fernando Collor. Como ISTOÉ revelou em reportagem de capa no início de junho, a PF já investigava a possibilidade de dinheiro ilegal de Bené ter abastecido a campanha do PT que levou Pimentel ao governo de Minas. Agora, com as novas descobertas, o governador passa a ser um dos principais atingidos pelas investigações sobre os negócios escusos do empresário.

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Os documentos apreendidos também indicam que Carolina Oliveira, mulher do governador, por meio de sua empresa Oli Comunicações, recebeu em três anos mais de R$ 3,7 milhões em contratos suspeitos com diferentes empresas, como o grupo francês Casino, dono do Pão de Açúcar, o frigorífico Marfrig e a agência de publicidade Pepper. Entre 2012 e 2014, a Oli também recebeu R$ 2,4 milhões do consultor Mario Rosa. Os valores constam de uma tabela apreendida em busca na casa da mulher de Pimentel em Brasília. Com tantas evidências envolvendo o governador, a primeira dama e o empresário Bené, o Superior Tribunal de Justiça autorizou a continuidade das investigações e na quinta-feira 25, a PF deflagrou a segunda fase da Operação Acrônimo, cumprindo 19 mandados de busca e apreensão em Brasília, Belo Horizonte, Uberlândia, São Paulo e Rio de Janeiro. Os policiais recolheram documentos e mídias em um escritório usado pelo governador durante a campanha. Estiveram também na sede da Pepper. Relator do caso no STJ, o ministro Herman Benjamin foi cauteloso. É que a Polícia Federal pediu a busca em 34 alvos, o MP reduziu a lista para 25 e o ministro autorizou apenas os 19. Ele rejeitou, por exemplo, que a operação incluísse buscas na residência oficial de Pimentel, na sede do BNDES e nos grupos empresariais. Para ele, não havia necessidade de buscas nos escritórios das duas companhias. “Já foram apreendidos documentos relativos às operações supostamente irregulares”, escreveu.

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Para os investigadores, o dinheiro repassado à Oli Comunicações pode ter sido propina em troca da liberação de empréstimos do BNDES ou de renegociações de dívidas com o banco – que é ligado à pasta então comandada por Pimentel. Tanto Casino como Marfrig têm linhas de crédito com o banco e, em janeiro de 2014, o grupo francês conseguiu que o Conselho de Administração do BNDES renovasse o prazo de vencimento de um de seus débitos, num valor superior a R$ 2 bilhões. Na época, Pimentel e Carolina viviam num apartamento em Brasília. Foi justamente nesse endereço que a PF encontrou a lista de “clientes” da agência de comunicação da atual primeira dama de Minas. A empresa de Carolina estava registrada em uma sala comercial que pertence a Bené. Testemunhas ouvidas pela PF indicam ainda que o empresário freqüentava a sede do BNDES e chegou a usar uma sala de reuniões para despachos pessoais.

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Na quinta-feira 25, a Marfrig negou qualquer relação com Carolina Oliveira. Em nota, a primeira-dama mineira alegou ter prestado serviços de comunicação digital para a Pepper e de gerenciamento de crises para a MR Consultoria, de Mario Rosa. O consultor confirmou ter contratado a jornalista para ajudá-lo com duas grandes empresas que viviam problemas de imagem. A PF e Ministério Público já identificaram indícios de caixa 2 e subfaturamento na campanha eleitoral de Pimentel. Foram apreendidas com o próprio Bené, em sua primeira prisão em novembro, duas folhas com tabelas de pagamentos e prazos referentes à “Campanha Pimentel”. Uma das tabelas apreendidas pela PF indica pagamentos da Gráfica Brasil com uma empresa terceirizada. Enquanto nas ordens de serviço consta a impressão de 2,5 milhões de “santões”, espécie de banner, na nota fiscal o valor registrado é de R$ 250 mil itens. Outras cinco notas fiscais referentes a serviços prestados na eleição não aparecem nas contas entregues à Justiça Eleitoral. Elas somam R$ 362 mil e se referem à produção de 34 milhões de “santinhos, santões e lambe-lambes”. “O subfaturamento ou doação ‘in natura’ não declarada teriam por objetivo minorar os gastos da Gráfica Brasil com a campanha, bem como possibilitar que os gastos do candidato não atingissem o limite estipulado no início da campanha”, afirma a PF na representação que fundamentou o pedido de buscas. Para os investigadores, Pimentel e Bené podem ter usado a gráfica para ocultar a “natureza de valores oriundos de ilícitos”.

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LINCON ZARBIETTI/ESTADÃO CONTEÚDO; Hugo Cordeiro / NITRO; André Coelho / Agência O Globo 


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