Além do espanto que causa por toda a barbárie, o Estado Islâmico (EI) tem provocado um grande constrangimento militar e diplomático aos países engajados na luta contra ele, sobretudo os Estados Unidos. Contra um inimigo comum, adversários políticos combatem lado a lado no Iraque e na Síria – mas não sem levantar faíscas. A Arábia Saudita, que é sunita, se incomoda com a crescente influência de seu inimigo declarado, o Irã, xiita, no combate ao EI, também sunita. Diante da fragilidade do exército iraquiano, são as milícias xiitas que têm investido contra o Califado em solo e recuperado importantes porções de território, ainda que sem a ajuda oficial da coalizão internacional liderada pelos EUA. Na batalha pela cidade de Tikrit, por exemplo, aviões americanos mantiveram distância justamente para evitar parecer que estavam ajudando forças patrocinadas pelo Irã, segundo o jornal Washington Post. Apesar de sua relevância militar, grupos de direitos humanos denunciam abusos provocados por essas milícias em áreas sunitas.

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DESTEMIDOS
Militantes do EI marcham pela cidade de Raqqa, na Síria

A preocupação para além do combate aos jihadistas aparece também quando Bagdá tenta conter o avanço das forças curdas. Os peshmergas, como são conhecidos, receberam treinamento dos EUA e aliados e tiveram papel importante em ofensivas terrestres no norte do país. O problema é que a região autônoma nutre um desejo de independência do Iraque, que só vem crescendo nos últimos meses. Como se não bastasse, na semana passada, os extremistas do EI ganharam mais um inimigo oficial. O grupo radical xiita Hezbollah prometeu reforçar a proteção da fronteira do Líbano com a Síria. O Hezbollah apóia o presidente da Síria, Bashar al-Assad.

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O intrincado xadrez político do Oriente Médio, com suas diferentes etnias e religiões, já provocou outras distorções. Nos anos 80, a Arábia Saudita se tornou um importante parceiro dos americanos na Guerra Fria e enviou jovens guerreiros ao Afeganistão para combater os soviéticos que haviam ocupado o país. “Os sauditas e outros árabes que lutaram esperavam voltar para casa como heróis”, disse à ISTOÉ Natana DeLong-Bas, professora do Boston College e autora de diversos livros sobre o Islã. “Só que eles não tiveram essa recepção. Muitos se desiludiram e voltaram ao Afeganistão e outras zonas de conflito, como a Bósnia e a Chechênia, para continuar com a jihad.” Entre esses militantes, o mais famoso provavelmente foi Osama Bin Laden.