Por conta do renascimento de crendices populares e a necessidade de ostentação de uma nova geração de novos ricos asiáticos os cerca de 30 mil rinocerontes que restam no mundo estão sendo dizimados em um ritmo jamais visto na história. Apenas nos quatro primeiros meses deste ano, cerca de 400 rinocerontes foram cruelmente mortos apenas na África do Sul, país que concentra cerca de 75% da população mundial da espécie. Nunca na história recente se matou tantos animais em tão pouco tempo e a estimativa é de que este ano, mais uma vez, o macabro recorde da matança seja quebrado mais uma vez. Em 2014 foram abatidos cerca de um mil indivíduos com um único propósito: a retirada de seus chifres.

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CRUELDADE
Os chifres são retirados com o uso de moto-serras
e com os rinocerontes ainda agonizando

Quase todos eles foram levados para o Vietnã. Desde 2008 o país do sudeste asiático vive uma febre em relação a tudo que esteja ligado aos chifres deste que é um dos maiores animais do mundo. Médicos, sejam eles tradicionais ou não, recomendam pó de chifre de rinoceronte para quase qualquer enfermidade. De uma simples gripe ao mais complexo dos tumores. A população também acredita que uma infusão feita de pó de chifre de rinoceronte é capaz de curar qualquer ressaca e deixar uma pessoa com a capacidade de enfrentar uma verdadeira maratona sexual e etílica.

Agora uma crescente parcela dos chifres de rinoceronte que estão chegando ao país é consumida por uma jovem elite endinheirada que faz questão de ostentar poder e riqueza com a iguaria. É cada vez mais comum vietnamitas usarem pó de chifre como se ele fosse uma droga recreativa. Nas boates de Hanoi ou Ho chi Min, as principais cidades do país, é comum encontrar pessoas cheirando o pó como se fosse cocaína. Há aqueles, ainda, que o misturam às bebidas alcoólicas acreditando que ficarão inebriadas e terão a potência e o desejo sexual ampliados.

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Cientistas garantem, no entanto, que o chifre de rinoceronte não traz nenhum dos efeitos prometidos. Trata-se de um material produzido pela queratina, a mesma substância que os humanos usam para fabricar suas unhas ou os cabelos. “Na verdade, nem mesmo para a febre, como se acreditou na China por centenas de anos, ele é eficaz”, aponta um estudo desenvolvido pela ONG Traffic, que realiza uma vasta campanha na tentiva de dissuadir os vietnamitas a pararem de consumir os chifres.

As campanhas, como mostram os números, têm surtido pouco ou nenhum efeito. Enquanto em 2007 o número de rinocerontes mortos para retiradas dos chifres havia sido de apenas 17 indivíduos, no ano passado ele superou a casa dos mil. A estimativa é de que este ano um número ainda maior de animais seja sacrificados com o único objetivo de ter seus chifres extirpados.

O mercado internacional de itens proibidos como esse explica o banho de sangue. Estima-se que um quilo de chifre de rinoceronte seja vendido no mercado negro entre US$ 60 mil e US$ 100 mil. Esse é um valor quase duas vezes maior que o quilo do ouro e até três vezes superior ao preço do quilo da cocaína. O peso de um chifre médio de um rinoceronte adulto é de cerca de 3,5 quilos. Muito, muito dinheiro em qualquer parte do planeta, em especial na África Subsaariana.

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Ainda não se sabe ao certo o que fazer para conter a matança. O governo Sul-Africano parece não ser capaz de controlar a sede dos caçadores. A maior parte deles entra no país por Moçambique na área onde os animais estão mais vulneráveis, o Parque Krueger, lar da maior parte desses animais na África do Sul. Mesmo com todo o empenho dos guardas florestais, quase todos os animais abatidos no ano passado eram habitantes do parque. Em Moçambique, por sua vez, já não há mais nenhum rinoceronte vivendo livremente.

O crescimento desenfreado do consumo de chifres do gigante africano é reflexo do rápido enriquecimento da elite vietnamita. Nos últimos anos o país asiático viveu uma expansão econômica acelerada, ampliando de forma considerável o número de ricos. De acordo com estimativas do próprio governo vietnamita, o número de milionários no país cresceu 150% apenas nos últimos cinco anos.