Melhorar os índices de sobrevivência após uma parada cardíaca é uma das metas mais importantes da medicina. Reunidos recentemente em Xangai, na China, pelo Weil Institute of Critical Care Medicine, os melhores especialistas do mundo em emergências cardiovasculares e ressuscitação conseguiram pontuar de que maneira o objetivo poderá ser alcançado. Eles identificaram procedimentos que ao longo do tempo se mostraram ineficazes, outros que precisam ser adotados de formas distintas das atuais e alguns, ainda em estudo, que apresentam grande potencial para elevar a chance de sobrevida dos pacientes. As discussões finais ocorrerão até outubro, quando serão divulgadas as novas diretrizes de atendimento para os próximos cinco anos – em 2020 haverá novamente uma atualização. Os protocolos serão seguidos em todo o mundo.

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ATUALIZAÇÃO
O cardiologista Sergio Timerman está envolvido nas discussões sobre os
avanços nos procedimentos de ressuscitação cardíaca

Um dos consensos é a abolição da respiração boca a boca. Há tempos se discutia a validade da medida, mas agora se sabe que ela é inócua (o corpo possui uma reserva de oxigênio para pelo menos dez minutos após a parada), exceto em casos de afogamento, trauma e quando o paciente for criança. Também é patente que a massagem cardíaca deve ter qualidade. Ou seja, é necessário que o tórax seja aprofundado até cinco centímetros (em crianças, até quatro centímetros) e que se espere o tórax voltar ao normal antes de iniciar outro ciclo de compressão. E cada ciclo precisa durar pelo menos dois minutos.

Também está definido que o uso de aparelhos de circulação extracorpórea deve integrar os protocolos de atendimento. O ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea) é adotado após a ressuscitação cardiopulmonar e revelou-se um instrumento muito eficaz para permitir a oxigenação constante do sangue, mantendo o paciente vivo por dias ou semanas. Outro equipamento sobre o qual não há polêmica em relação a sua importância é o ecocardiograma. Por meio do recurso, os médicos podem descobrir as causas reversíveis da parada cardíaca, como a obstrução de um dos vasos sanguíneos por um coágulo.

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Há dúvidas, no entanto, em relação ao papel da adrenalina no processo de ressuscitação. A droga é usada há anos porque sabidamente eleva a pressão arterial e os batimentos cardíacos, mas o que está certo hoje é que, apesar desses efeitos, ela não eleva a sobrevida do paciente. “Por isso, há um grande questionamento sobre sua utilização”, explica o cardiologista Sergio Timerman, diretor nacional de Ciências da Saúde da Laureate Brasil, o braço brasileiro da Laureate International Universities, rede global líder em ensino superior. Timerman foi o único convidado da América Latina para participar da reunião organizada na China. O que provavelmente ocorrerá é que a adrenalina será usada em combinação com outros medicamentos, mas ainda será preciso definir em que momento do processo e em que dose precisará ser aplicada.

Nas discussões, os especialistas também estão propondo uma nova forma de usar a hipotermia. O resfriamento da temperatura corporal vem sendo adotado como uma estratégia para ajudar na preservação dos tecidos, mas o que está em xeque é qual a temperatura ideal. Hoje, preconiza-se a diminuição para entre 32 e 34 graus. Mas as diretrizes a serem publicadas em outubro deverão recomendar o chamado controle de temperatura, promovendo uma hipotermia leve apenas (a temperatura é baixada para 36 graus). “Com a temperatura neste patamar há menos comprometimento da microcirculação sanguínea”, afirma o cardiologista Timerman.

Há duas novidades em avaliação que despertaram enorme interesse durante o encontro. A primeira é a técnica do head up. Consiste na elevação da cabeça do paciente a 30 graus durante a operação de ressuscitação. As pesquisas feitas até agora demonstram que a medida melhora o fluxo sanguíneo no cérebro. A outra é um método que usa um torniquete como forma de concentrar o sangue na parte superior do corpo, garantindo bom aporte ao cérebro e ao coração. Trata-se de uma meia colocada até a altura da coxa. Nesta extremidade, faz-se um torniquete para reduzir a passagem do sangue da parte superior do corpo para a de baixo.

Foto: Kelsen Fernandes