Depois da Terceira Guerra Mundial, o planeta secou. Em um grande deserto entrecortado por estradas, criaturas deformadas perseguem um homem amordaçado, que foge por uma caverna até se deparar com um precipício. Repaginando uma trama conhecida da maioria dos espectadores que viveram os anos 1980, a cena faz parte do remake de “Mad Max”, que estreia no Brasil em 14 de maio com o subtítulo “Estrada da Fúria”. Se parte do charme dos três filmes originais da série estava em sua reprodução precária do mundo destruído, o novo longa-metragem abusa dos efeitos especiais e da ação ininterrupta para narrar a história de Max Rockatansky, o viajante solitário que tem a mulher e o filho brutalmente assassinados e se torna um justiceiro.

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SEM PARAR
Tom Hardy como Max Rockatansky, em cena de Mad Max

A Warner não quis arriscar mudanças na saga original sobre a luta pela sobrevivência em um mundo desprovido de recursos. Chamou o mesmo diretor da primeira, o australiano George Miller, que teve a inspiração para o primeiro filme na Crise do Petróleo dos anos 1970 e acrescentou na nova película questões como a luta pelo controle da água no planeta.

Não foi só a Warner que percebeu o potencial das sagas sobre o fim do mundo. Na semana passada, a Paramount liberou o primeiro trailer de outra trama pós-apocalíptica que pretende arrastar multidões para os cinemas nas férias de julho. Trata-se do quinto episódio da franquia “Exterminador do Futuro”, iniciada em 1984 e que mantém do original o ator Arnold Schwarznegger na cabeça de elenco. Kyle Reese (Jai Courtney) lidera o grupo dos poucos humanos que restaram em 2019, depois da dominação do planeta por ciborgues.

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VOVÔ CIBORGUE
O ator Arnold Schwarznegger reassume, aos 67 anos, o papel do robô
que volta ao passado para matar a mãe do futuro salvador
do que restou da humanidade

A fórmula se repete com mais adrenalina. No anúncio do novo “Mad Max”, o diretor George Miller disse que concorda com a crítica francesa, que classificou seu filme como um “Faroeste sobre rodas”. “É um arquétipo. E nada melhor que um arquétipo para um contador de histórias”, disse ele. As famosas perseguições de carro no deserto são mais espetaculares na nova versão. A primeira foi rodada na Austrália. Para o remake, o diretor preferiu as locações no deserto da Namíbia, abrindo mais espaço para as tomadas a céu aberto com carros e motos.

Essa retomada das franquias dos anos 1980 se justifica pelo sucesso crescente das distopias adolescentes que mostram a humanidade tentando lidar com o que restou do mundo depois de alguma catástrofe gerada pelos próprios seres humanos. De certa forma, é o bom e velho Apocalipse bíblico recontado por jovens com roupas apertadas e acometidos por muita tensão sexual.

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Com a história de uma sociedade massacrada por um governo autoritário depois do fim dos Estados Unidos, a série “Jogos Vorazes” chega ao quarto filme neste ano, com estreia prevista para 19 de novembro, após faturar US$ 2,3 bilhões no mundo. Só no Brasil, 9 milhões de pessoas enfrentaram as filas (na internet, inclusive) para acompanhar a saga dos adolescentes que precisam passar por gincanas mortais. Se atração e medo andam muito próximos, como Freud defendia, sobreviver ao fim do mundo parece ter se tornado um dos maiores temores das novas gerações de espectadores.

Foto: Marco Grob/Paramount