TERRA COMUNAL – MARINA ABRAMOVIC + MAI/Sesc Pompeia, SP/ de 10/3 a 10/5

Quando realizou uma caminhada de 90 dias ao longo da Grande Muralha da China, executando a performance “Os Amantes” (1988) que marcaria a separação de seu companheiro de 12 anos de estrada, a artista Marina Abramovic notou que seu estado mental mudava ao pisar sobre o barro, o ferro ou o cobre. O fim do relacionamento amoroso e da parceria artística com o artista alemão Ulay e o mergulho em um sistema de pensamento místico marcaram o início da relação de Marina Abramovic com o Brasil. Em 1989, ela começaria uma série de viagens pesquisando pedras brasileiras e suas influências sobre o corpo e a mente humana. Hoje, aos 68 anos, a pioneira da performance mundial volta ao País para a maior retrospectiva de sua obra já montada na América do Sul, para encontros com o público e para a apresentação do método de trabalho do Marina Abramovic Institute (MAI), sediado em Hudson, Nova York.

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Com curadoria de Jochen Volz, curador-chefe da Serpentine Galleries de Londres e curador da próxima Bienal de São Paulo, a exposição “Terra Comunal”, no Sesc Pompeia, em São Paulo, será composta por dez vídeos de performances históricas; três instalações desenvolvidas a partir de performances recentes – como “The Artist Is Present” (2010), em que permaneceu na presença do público, no MoMA-NY, oito horas por dia durante três meses –; e um conjunto de 13 “Objetos Transitórios” produzidos com quartzo negro, quartzo rosa e ametista, concebidos para manuseio do público.

O título “Terra Comunal” é inspirado nas experiências de Abramovic no Brasil e em seus ideais de desenvolvimento de uma consciência coletiva através da arte. Focos que ela teve a oportunidade de aprofundar em sua última viagem ao País, em 2013, para pesquisas de métodos de cura e imersão com o médium João de Deus, em Abadiânia. Na ocasião, Marina contou à revista “seLecT” ter tido “conversas muito interessantes com vários médiuns sobre a mudança de consciência e de estrutura do nosso planeta”.

A viagem de 45 dias por Abadiânia, Alto Paraíso, Vale do Amanhecer, Chapada Diamantina, etc., foi inteiramente documentada pelo diretor Marco Del Fiol no longa-metragem “A Corrente – Marina Abramovic e o Brasil”, com estreia prevista em 14 de maio.

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Na mostra, a participação do visitante será incentivada em sessões diárias de duas horas de exercícios do Método Abramovic, aplicados com o uso dos “Objetos Transitórios” – cadeiras, bancos e camas feitas de madeira e cristais. Esses encontros deverão criar situações semelhantes à performance “512 Horas” (2014), realizada na Serpentine Galleries, em que Abramovic interagiu com o público. “A participação nem sempre é fácil. Foi impressionante como ela conseguiu criar um ambiente que facilitou a entrega do público e a superação das resistências”, disse Jochen Volz à ISTOÉ. A exposição tem ainda vídeos do tempo em que a artista se submetia a situações extremas, como “Ritmo 5” (1974), em que deitou-se dentro de uma estrela em chamas e perdeu a consciência. A biografia “Quando Marina Abramovic Morrer”, a ser lançada pelas Edições Sesc na ocasião da mostra, vem ajudar a entender como teria se formado o interesse da artista pela dor física e pelos estados alterados da consciência. Algumas razões sugeridas pelo autor James Westcott são o peso histórico da Segunda Guerra, a opressão política sob o regime de Tito e a ausência da mãe na primeira infância.

Entre os vídeos, destaque para “Os Amantes”, que não teve repercussão na imprensa da época. Hoje (desde que levou multidões ao MoMA), Abramovic não faz nada que não seja noticiado. A artista é frequentemente foco de polêmicas, como a gerada pelo retiro de três dias na companhia de Lady Gaga. “Faço este trabalho há 40 anos e a performance sempre foi uma forma alternativa de arte, nunca foi mainstream. Já estou farta disso e quero descobrir como levá-la para o público em geral”, disse Abramovic sobre os documentários que divulgam o seu trabalho. O mesmo pode se aplicar às parcerias com astros pop. Marina Abramovic, afinal, também é pop.

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Foto: Marco Anelli, S: Marco Anelli; Ding Musa


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