As ruas da cidade de San Cristóbal, na Venezuela, são o principal palco de manifestações contra o governo de Nicolás Maduro há um ano. A inflação alta (68,5% em 2014), o desabastecimento, a repressão e a mão de ferro com que o presidente administra o país têm levado a população às ruas. A última onda de protestos foi desencadeada com a prisão sumária do prefeito de Caracas e líder oposicionista, Antonio Ledezma – a quem o presidente se refere como “El Vampiro” –, há duas semanas. Acusado de ser um dos promotores das manifestações de 2014 e de tramar um golpe, ele foi encaminhado para a mesma prisão onde está outro membro da oposição, Leopoldo López, encarcerado há um ano. A polícia bolivariana está reprimindo com violência os manifestantes e, na terça-feira 24, Kluive Roa, estudante de 14 anos, foi morto com um tiro disparado por um policial. Desde o início do ano, as forças de segurança podem portar armas letais na Venezuela.

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VOZ DAS RUAS
Na segunda-feira 23, manifestantes defendem o prefeito de Caracas,
preso sumariamente por ordem de Maduro

Embora tenha sido eleito para substituir Hugo Chávez, morto em 2013, Maduro cada vez mais se afasta da democracia e, em uma escalada autoritária, utiliza métodos adotados por autocracias para se reafirmar diante da população. “De certa forma, o governo dele já atua como uma ditadura por conta das denúncias de violência em relação à oposição e de torturas praticadas contra quem se opõe ao regime”, diz Marcelo Zorovich, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). O relatório anual da Anistia Internacional, divulgado na semana passada, reflete o ambiente repressivo do país. A entidade diz que ao menos 43 pessoas perderam a vida e mais de 870 ficaram feridas durante as marchas a favor e contra o governo entre fevereiro e julho de 2014. Mais de três mil pessoas foram presas e, no fim do ano, 70 ainda continuavam detidas. A ONG Human Rights Watch (HRW), de defesa dos direitos humanos, também condenou a situação do país e pediu providências aos países da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), da qual o Brasil faz parte.

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A radicalização da situação na Venezuela já havia mobilizado a Unasul no ano passado, numa tentativa de mediação entre Maduro e a oposição, sem sucesso. Na semana passada, o Itamaraty soltou duas notas nas quais dizia estar “preocupado e atento com a situação na Venezuela” e pedia a volta do diálogo. Chile e Colômbia também manifestaram apreensão com a deterioração do quadro político. A estratégia da oposição venezuelana agora é priorizar as eleições parlamentares deste ano. Eles querem aproveitar o descontentamento da população com o chavismo para ganhar musculatura eleitoral e tentar maioria no Legislativo pela primeira vez em 16 anos. Não será fácil, pois o governo controla o Conselho Nacional Eleitoral e pode fazer manobras para conseguir mais deputados, apesar de conquistar menos votos, como ocorreu em 2010. Resta saber se as ruas aceitarão se dobrar a Maduro.

Foto: Enrique Castro/Mendivil/REUTERS 

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