Alvejada pelas investigações da Operação Lava Jato, a Petrobras viu na semana passada sua reputação econômica sofrer um duro golpe. A nota de crédito da estatal foi rebaixada em dois patamares e a empresa deixou o “grau de investimento” para entrar no “grau especulativo”, segundo a agência americana de classificação de riscos Moody’s. Apesar do economês de companhias como a Moody’s e dos erros de avaliação cometidos por ela e suas semelhantes nos últimos anos, o fato é que o mercado começa a considerar arriscado demais aplicar dinheiro na petroleira. Não é difícil imaginar o impacto que a avaliação pode gerar nas finanças da empresa. “Essas ações refletem a crescente preocupação com as investigações de corrupção e os atrasos na entrega de um balanço auditado”, disse a Moody’s, em nota. O temor é que o rebaixamento da estatal contamine as finanças do País – e produza mais nuvens sombrias num cenário econômico já turbulento.

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EXPLORAÇÃO
Funcionários operam plataforma na Bacia de Campos.
Apesar de recorde, a produção tem ficado aquém das metas

Na raiz da crise na Petrobras está o alto nível de endividamento. Com relevantes descobertas de reservas de óleo nos últimos anos, a empresa adotou um plano de investimentos agressivo. Em janeiro do ano passado, a companhia aprovou um planejamento de negócios que cobre o período de 2014 a 2018, com previsão de investimentos de US$ 220,6 bilhões, a maior parte concentrada em exploração e produção. Em 2014, no entanto, ela foi incapaz de atingir sua principal meta. Enquanto no plano original a estimativa de crescimento da produção era de 7,5% em relação a 2013 (com margem de um ponto percentual para cima ou para baixo), o ano terminou com alta de 5,3%. Ao mesmo tempo, numa estratégia para controlar a inflação, o governo manteve o preço da gasolina artificialmente baixo em relação ao que se pagava no mercado internacional. “Quanto mais a Petrobras vendia, mais caixa ela queimava”, afirma Marcelo Varejão, analista de investimentos da Socopa Corretora. Na opinião do analista, se os preços nos postos de combustíveis tivessem subido antes, a situação financeira da empresa seria mais favorável hoje – eles começaram a ser reajustados há apenas três meses.

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DESINVESTIMENTO
Aldemir Bendine, novo presidente da estatal,
prometeu vender ativos para equilibrar as contas

Para equilibrar as contas e reduzir uma dívida bruta próxima de R$ 331,7 bilhões (dado de setembro de 2014), o novo presidente da petroleira, Aldemir Bendine, afirmou que venderá ativos e cortará investimentos em refinaria. Após a decisão da Moody’s, a empresa confirmou, em nota, para “o mais brevemente possível uma divulgação transparente e com confiabilidade de seus resultados financeiros de 2014”. A expectativa do mercado é que isso aconteça até o fim de março. Se não acontecer, a Petrobras pode ter que pagar antecipadamente uma dívida de US$ 56,7 bilhões e sua nota de crédito estará sujeita ao rebaixamento nas outras duas grandes agências de classificação: Standard & Poor’s e Fitch. Com o endosso de uma delas à posição da Moody’s, vários fundos de pensão serão obrigados a se desfazer de seus papéis e esses poderão passar para as mãos de fundos “abutres” ou puramente especulativos.

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O efeito no restante da economia pode ser perverso. “A Petrobras é a maior empresa do Brasil e tem grande influência no Produto Interno Bruto (PIB)”, diz Alexandre Espírito Santo, economista da Simplific Pavarini e professor do Ibmec-RJ. “Se ela deixa de pagar seus fornecedores, eles deixam de pagar os seus e assim por diante. Isso gera uma cadeia de desemprego e afeta uma economia que já está fraca.” De forma direta e indireta, calcula-se que o peso da companhia no PIB brasileiro seja próximo de 15%. Ainda que o rebaixamento da estatal não tenha uma relação direta com uma eventual perda do grau de investimento conquistado pelo País em 2008, o risco de contágio não pode ser descartado. Na hipótese de uma nova capitalização, o Tesouro, que é o principal acionista da Petrobras, teria que comprar mais ações para não diluir sua participação. Isso poderia comprometer o ajuste fiscal que tem sido coordenado pela equipe econômica. No fundo do poço, não há saída fácil.

Foto: MARCOS DE PAULA/AE; PEDRO DIAS/Ag.Istoé 


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