O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, costuma dizer aos amigos mais próximos que os seguidos anos de vida pública lhe deixaram com as costas largas para suportar os ataques que chegam de todos os lados. Nas últimas semanas, a esse discurso ele tem acrescentado “achar natural” que no comando da Casa Civil se torne alvo de todos os tipos de reclamações. O problema atual de Mercadante, porém, está muito mais na falta de aliados do que nos disparos que tem recebido tanto de partidos da base governista como do próprio PT. Apesar da proximidade com a presidente Dilma Rousseff, o ministro está cada vez mais isolado e, nas últimas semanas, entrou na linha de tiro. Ele não encontra apoio no PT e nem mesmo entre os colegas no Palácio do Planalto. Observadores do que se passa ao redor da presidente asseguram que o chamado núcleo duro do governo está dividido. De um lado estão Pepe Vargas (ministro das Relações Institucionais), Miguel Rossetto (ministro da Secretaria-Geral da Presidência), Ricardo Berzoini (ministro das Comunicações), Jaques Wagner (ministro da Defesa) e o assessor especial Giles de Azevedo. Do outro, Mercadante. Sozinho.

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ME SINTO SÓ
Núcleo duro do governo está dividido. De um lado estão (da esq. para à dir.)
Pepe Vargas (ministro das Relações Institucionais), Miguel Rossetto
(ministro da Secretaria-Geral da Presidência), Ricardo Berzoini (ministro das
Comunicações), Jaques Wagner (ministro da Defesa) e o assessor
especial Giles Azevedo. Do outro, Mercadante

A briga contra o ministro da Casa Civil ocorre desde a formação do Ministério, logo depois das eleições. Mas o embate se transformou em guerra quando foi consumada a vitória do peemedebista Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Oficialmente, a derrota do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi atribuída ao ministro Pepe Vargas, mas o que petistas e aliados afirmam é que o verdadeiro responsável pelo vexame governista foi Mercadante. “Foi o ministro da Casa Civil quem defendeu até o fim uma candidatura petista e convenceu a presidente de que isso seria possível”, diz um assessor do Planalto. “Tanto o ministro Pepe Vargas como os demais auxiliares políticos de Dilma entendiam que não cabia o confronto”, completa o assessor.

A disputa pela presidência da Câmara foi o cenário da segunda batida de frente entre Mercadante e Rossetto. Em outubro, depois da eleição, Rossetto era ministro do Desenvolvimento Agrário e Mercadante, até então o mais próximo auxiliar de Dilma, pediu a todos os demais ministros que entregassem cartas de demissão a fim de que a presidente fizesse a reforma ministerial. De forma agressiva, Rossetto respondeu-lhe que não entregaria carta alguma e que daria satisfações apenas à própria presidente. “Ele (Mercadante) costuma tratorar os outros e por isso acaba apenas cultivando inimigos”, diz um ministro que acompanhou de perto a briga com Rossetto. Entre os ministros palacianos, houve uma espécie de comemoração na quinta-feira 26, quando o ex-presidente Lula tomou a iniciativa de se reunir com os senadores peemedebistas e buscar pessoalmente um entendimento com o PMDB. “A arrogância de Mercadante impede as negociações políticas. Com Lula é diferente e agora esperamos que a presidente tenha maior clareza disso”, disse à ISTOÉ um dos senadores presentes ao encontro.

No PT também é grande a insatisfação com Mercadante. O ex-presidente Lula responsabiliza Mercadante pela decisão considerada “desastrosa” de lançar candidatura própria do PT à presidência da Câmara, em vez de tentar fechar um acordo com o PMDB, e manifestou isso em reunião com a presidente Dilma há duas semanas. Desde então deputados e líderes do partido abriram artilharia contra o chefe da Casa Civil. Na base aliada no Congresso, a situação de Mercadante é ainda mais deplorável. Não bastasse a derrota sofrida, a interlocução dele com os parlamentares foi esvaziada com as eleições de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para o comando da Câmara e de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado. A brincadeira, antes restrita aos parlamentares, se alastrou pelo governo. Quando algum integrante do primeiro escalão passa sem cumprimentar os colegas, alguém lembra a ironia, celebrizada no Congresso, quando o chefe da Casa Civil ainda exercia o mandato de senador: “Bom dia, Mercadante”. Agora, se quiser sair do isolamento ao qual ele mesmo se submeteu, Mercadante vai precisar mais do que costas largas.

Fotos: Montagem sobre foto de Ed Ferreira/Estadão Conteúdo; Albino Oliveira, Rafael Carvalho – MDA; André Dusek; Andriano Machado/Agência Istoé