O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, descobriu um caminho peculiar para ganhar espaço político. Depois da controversa experiência de montar o PSD e cooptar levas de parlamentares de outras siglas, o político paulista usa mais uma vez as brechas da legislação eleitoral para tentar recriar o Partido Liberal (PL). A exemplo das 32 siglas existentes e das outras 41 que tentam formalização na Justiça Eleitoral, a legenda em gestação não possui linha ideológica específica ou inovadora. Entretanto, ganha força como solução mais viável para aumentar a base aliada de Dilma Rousseff no Congresso. Foi graças a seu empenho de reerguer o PL que o ex-prefeito de São Paulo conquistou o posto de ministro na equipe da presidente Dilma Rousseff. Empossado, ele tratou de mostrar serviço.

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MOQUECA PARTIDÁRIA
Para refundar o PL, o ministro Gilberto Kassab utiliza os temperos
de sempre. Promete cargos estratégicos e investimentos em obras

Desde a posse na Esplanada, Kassab realiza reuniões diárias com políticos das mais variadas esferas. Aos interlocutores, promete novas obras e parcerias de longo prazo para projetos que nem sequer foram apresentados. Sob o pretexto de visitar as regiões e conhecer suas necessidades, Kassab se aproxima de líderes políticos País afora. Há duas semanas, ele participou da assembleia mensal de prefeitos do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, em Santo André. A região é formada por sete municípios paulistas. As promessas do ministro de fazer investimentos em obras de infraestrutura levaram os prefeitos presentes a declarar apoio a qualquer ideia de Kassab sobre um novo partido. Esse mesmo método foi utilizado em meio à formação do PSD. Quando, em 2011, criou o PSD para receber dissidentes da oposição e do governo, Kassab arrastou parlamentares para o partido sob a promessa de que assumiriam papel de destaque na legenda. Como, em muitos Estados, a promessa não foi honrada, políticos, sobretudo de São Paulo, ameaçam desertar da sigla.

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DA CÁ, SEM TOMA LÁ
Ao não dispor de cargos no governo para ofertar, Marina Silva
segue com dificuldades para criar a Rede

Kassab não fala sobre seu projeto de refundar o PL. Afastado oficialmente da presidência do PSD, ele também não declara publicamente sua intenção de fundir as duas legendas para tentar dar fôlego ao governo. Mas, na semana passada, o ex-deputado goiano Cleovan Siqueira contabilizava mais de 410 mil assinaturas a favor da criação do partido. São necessários 500 mil apoios e, até o ano passado, Siqueira conseguira 80 mil. Com a entrada do ministro em ação, o total foi multiplicado por cinco. “Seremos um partido com disposição não apenas de caminhar junto com o PSD como também de apoiar o governo”, diz Siqueira. Um obstáculo para o projeto de Kassab foi a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara. Cunha quer aprovar a toque de caixa uma proposta que limita a fusão de partidos políticos apenas a legendas que tenham obtido o registro no TSE há pelo menos cinco anos, mas a turma do ex-prefeito de São Paulo segue otimista.

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A rapidez com que Kassab viabiliza a nova legenda é uma demonstração de que as regras atuais para criação de siglas favorecem partidos de aluguel. Mostram, também, como um cargo na Esplanada pesa na conquista de aliados. Para efeito de comparação, a ex-ministra Marina Silva não conseguiu validar as 500 mil assinaturas colhidas pelos seus militantes e seu partido, a Rede, não foi criado a tempo de disputar a Presidência em 2014. Pelos planos do ministro, o novo PL atrairá políticos acostumados a marchar junto ao governo. A legenda pode ser oficializada, ainda neste semestre, com pelo menos 20 deputados federais, o que garante acesso ao Fundo Partidário. Essa é uma das grandes atrações para a criação de uma legenda. O PSD, atual partido do ministro, recebeu R$ 18,5 milhões do Fundo Partidário. Com os recursos, foram contratados assessores que hoje se dedicam a colher assinaturas para ressuscitar o PL. O laboratório de Kassab está em plena ação.

Fotos: PATRICIA SANTOS/AE; Adriano Machado


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