A ideia era criar uma câmera de vídeo que registrasse surfistas desbravando ondas na Califórnia. Isso foi em 2002. Desde então, Nicholas Woodman, um americano de 39 anos que adora esportes radicais, embolsou US$ 4,8 bilhões e fez de seu projeto pessoal um negócio com milhões de admiradores – e não apenas surfistas tatuados em busca de exposição. Com presença em mais de 200 países e valor de mercado estimado em US$ 9 bilhões, a GoPro se tornou um fenômeno global graças à capacidade de captar imagens extraordinárias em altíssima resolução, seja acoplada no mastro de um veleiro, seja na asa de um ultraleve ou no capacete de um bombeiro que faz resgates, como se tornou comum nos Estados Unidos. Tudo isso com um aparelho de cinco centímetros, que pesa só 88 gramas e cotado no mercado americano entre US$ 130 e US$ 500. No Brasil, o modelo mais recente, o Hero 3 + Black Edition, saía por R$ 2,4 mil. A boa notícia é que ele começou a ser fabricado no País, o que significará uma redução de 30% de seu valor.

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FORTUNA
Nicholas Woodman, fundador da GoPro, faz um selfie nas ruas de Nova York:
em apenas 12 anos, ele construiu um negócio que vale US$ 9 bilhões

Ao escolher o Brasil para produzir a GoPro – até então, só Estados Unidos e China fabricavam as câmeras –, Woodman sinaliza a crescente importância do mercado nacional. A empresa não divulga indicadores por país. No balanço financeiro do terceiro trimestre apresentado recentemente, as Américas (incluindo, claro, Estados Unidos e Brasil) responderam por 73,2% do faturamento de US$ 280 milhões, ante 18,2% da Europa e África e 8,6% da Ásia. Uma peculiaridade pode explicar o tremendo sucesso da GoPro no País. “Os brasileiros estão entre os maiores usuários de redes sociais do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos”, disse à ISTOÉ Drew Goldman, diretor de vendas da GoPro para a América Latina. A nova onda nas redes sociais, especialmente no Facebook, é compartilhar vídeos – é aí que a GoPro entra. Basta observar a quantidade de pessoas que carregam a câmera em espaços públicos (no show de Paul McCartney, em São Paulo, eram muitas) apenas para fazer selfies e colocar na internet. Com a produção na fábrica da Flextronics, em Sorocaba (SP), a tendência é que esse número aumente ainda mais.

O fenômeno GoPro surpreende por ter surgido num momento em que as tradicionais câmeras estão em declínio. “As vendas das câmeras digitais compactas caem a cada trimestre e apenas as mais poderosas sobrevivem”, diz Reinaldo Sakis, gerente de pesquisas da IDC Brasil. Qual é o sentido de comprar um equipamento apenas para tirar fotos e gravar vídeos se os melhores smartphones já fazem isso? O mérito de Woodman foi apostar em um nicho nunca antes desbravado: uma câmera com alta qualidade de imagem e que se adapta às mais inusitadas situações. No ano passado, a GoPro liderou esse mercado, com 30,4% de participação, à frente da Sony, que obteve 20,8%.

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Outra sacada de Woodman foi disponibilizar acessórios, como capacetes e coletes, para que as cenas sejam gravadas enquanto a pessoa desfruta de qualquer atividade – um mergulho, um salto de paraquedas, uma caminhada no parque, um show musical. O piloto Michael Schumacher usava um desses acessórios (capacete com câmeraß) quando se acidentou e um jornalista francês chegou a declarar que a GoPro foi a causadora da lesão (a informação foi negada pela família, mas mesmo assim as ações da empresa despencaram). Woodman não sossega. De acordo com uma reportagem recente do jornal “The Wall Street Journal”, a GoPro está investindo em drones, que serão lançados em 2015 ao custo de US$ 500 a US$ 1000. É fácil de imaginar as cenas espetaculares que eles serão capazes de fazer.

Fotos: Victor J. Blue/Bloomberg/Getty Images; Facebook/GoPro