Segundo os Correios, Luís Carlos Prestes dá nome a 45 ruas e avenidas brasileiras. Líder de alguns dos mais importantes movimentos populares do século XX, o Cavaleiro da Esperança não tinha até agora uma biografia historiográfica à altura dos acontecimentos que protagonizou. Do historiador Daniel Aarão Reis, professor titular de história contemporânea na Universidade Federal Fluminense “Luís Carlos Prestes – Um Revolucionário Entre Dois Mundos” traz a história do Velho desde o seu nascimento até seus últimos dias de uma perspectiva política, com base principalmente em documentos, alguns deles desconhecidos, como as resoluções do PCB dos anos 1930 e áudios de reuniões do Comitê Central realizadas em Moscou e Praga na segunda metade dos anos 1970. Mas o que mais impressiona no relato da vida de um dos mais importantes dirigentes do Partido Comunista Brasileiro, é o quanto as mulheres foram importantes na construção de sua trajetória e como isso ficou de fora do que se disse a seu respeito até agora.

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A LIMPO
Luís Carlos Prestes tem a vida recontada pelo historiador Daniel
Aarão Reis, que resgatou documentos inéditos da ex-URSS

O historiador mostra que a participação feminina nas lutas socialistas do século passado tiveram uma atuação muito maior do que se supunha.  A começar pela mãe, dona Leocádia, que criou, sustentou e alfabetizou crianças de relacionamentos diferentes, passando pelas combatentes da Coluna Prestes. O movimento armado era composto por dezenas de mulheres com funções diferentes, quase todas gaúchas, que não deixavam o movimento nem para dar à luz.

Além de encontrar resistência interna de muitos cavaleiros como Siqueira Campos, que tirava-lhes os cavalos e as deixava à beira da estrada, quando pegas, as mulheres eram assassinadas com requintes de crueldade pelos governistas.

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Mas colegas de partido, agentes como a amante Olga Benário, a única que tem a saga lembrada, e a filha dos dois, Anita Leocádia, a menina nascida num campo de concentração nazista, que Prestes só conheceu já alfabetizada, também ganham as páginas da biografia. Anita, historiadora, deu continuidade ao legado do pai e vai lançar no ano que vem a sua versão da vida de Prestes.“Era ainda uma atmosfera de época. Embora, formalmente, os comunistas tomassem iniciativas para promover a participação das mulheres, elas ainda eram, em todos os níveis, colocadas em segundo plano”, diz Reis.

Fotos: MONICA MAIA/AE; Rodrigo Lobo/JC Imagem/Folhapress