A poucos dias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a estudante Vanessa Santos, 17 anos, não sai das redes sociais e mal toca nos livros. Bronca dos pais? Pelo contrário, eles até elogiam. A adolescente, como muitos de seus colegas, trocou a biblioteca pelo computador para acessar sites e canais do YouTube que oferecem videoaulas, exercícios, simulados e monitorias – tudo gratuito ou a custo baixo. Aspirante à medicina, Vanessa estuda em um bom colégio no Rio de Janeiro, mas não abre mão dos professores virtuais. Seu favorito é Paulo Jubilut, do canal “Biologia Total”, que tem 273 mil seguidores no canal de vídeo, 222 mil no Twitter e 19 mil no Facebook. “Ele usa exemplos que nos interessam, sabe falar com os jovens”, diz ela. As videoaulas têm conquistado milhões de alunos que buscam novas maneiras de estudar, sobretudo para o Enem, o exame mais importante do País e que relaciona conteúdo com assuntos do cotidiano. Os professores online fazem sucesso por acertarem na linguagem voltada para esta geração, que prefere a internet à biblioteca.

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A educação pela web se tornou fenômeno mundial após 2006 com a Khan Academy, fundada pelo americano Salman Khan. No começo ele apenas postava vídeos no YouTube, mas o projeto cresceu tanto que se tornou uma organização de educação online. O portal oferece aulas e exercícios com conteúdo de qualidade e está presente em mais de 200 países, inclusive no Brasil. De olho nesse nicho, o Google, em parceria com a Fundação Lemann, criou um espaço reservado para vídeos educativos no Brasil, o YouTube/EDU, com canais que passam pelo crivo de pedagogos. “Nesta época do ano, a procura aumenta muito por causa do Enem”, diz Flavia Simon, gerente-geral do projeto. Para o professor de novas tecnologias da Universidade de São Paulo (USP) José Moran, o trunfo das videoaulas voltadas para o exame é dar aos alunos uma nova experiência de aprendizado, atendendo às exigências de um público muito familiarizado com a internet. “Mas, para funcionar, o estudante precisa ser ativo, usar as aulas online como estimulador para buscar mais informações e fazer resumos e exercícios”, alerta.

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Com vídeos bem-humorados e tecnicamente apurados de experiências científicas – o que inclui explosões, espumas e fumaças –, o canal Manual do Mundo ocupa o primeiro lugar na lista dos mais acessados do YouTube/EDU, com 2,5 milhões de inscritos. Tudo começou em 2008 quando o hoje apresentador Iberê Thenório, 32 anos, e sua mulher, Mariana Fulfaro, 30, decidiram gravar experimentos e colocá-los na internet. “Queria ter audiência, claro, mas não imaginei que chegaria a ser reconhecido na rua e ter fãs”, diz ele, que costuma receber mensagens de estudantes agradecendo o bom desempenho no Enem. “O exame cobra química e física aplicadas ao cotidiano e é isso que tentamos passar”, afirma Mariana. No canal, produzido por uma equipe de dez a 15 pessoas, é possível encontrar respostas para questões relacionadas a frequências sonoras e pressão atmosférica, por exemplo, temas que costumam aparecer na prova.

Já o professor de matemática César Medeiros, 39 anos, trabalha sozinho. Ele é o gestor do Vestibulândia, segundo maior canal da plataforma com 464 mil assinantes. Conhecido por Nerckie no mundo virtual, ele desistiu das salas de aula depois de ter a mão colada à maçaneta por um aluno. Nos 400 vídeos já publicados, nos quais raramente revela mais do que sua voz, uma lousa animada demonstra teoremas, figuras geométricas em três dimensões e mostra simulações que comprovam com animações que a soma dos ângulos internos de um qualquer triângulo vale 180º. “Na escola há limitadores, como tempo e infraestrutura. Na internet tenho uma infinidade de mídias e não há burocracia, como chamada”, diz. Sua aula mais popular, sobre Função de 1º grau, foi assistida quase um milhão de vezes.

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Entre os maiores portais de educação do País está ainda o Descomplica, que reúne vídeos, provas, exercícios e atendimentos em tempo real com professores de 14 disciplinas. Para ter acesso ao conteúdo é preciso pagar mensalidade de R$ 20, mas os vídeos são gratuitos no YouTube. “Hoje conseguimos investir em projetos grandes, como um sobre os biomas do Brasil. Viajamos o País filmando in loco aulas integradas de biologia, história e geografia, explicando as características de cada região”, conta o diretor de ensino Rubens Oda. O projeto está despertando interesse até dos governos. A Secretaria Estadual de Educação do Ceará firmou um convênio para que os professores possam usar a plataforma nas aulas e os alunos as acessem de casa. Nesta semana que antecede o Enem, serão realizados eventos abertos, como as “12h nerds”, sequência de todas as matérias com perguntas de alunos via chat e respostas na hora dos professores por vídeo. É a tecnologia a serviço da educação. 

FOTOS: JOÃO CASTELLANO/ISTOÉ; JARBAS OLIVEIRA; EDSON RUIZ